Evangelho - Mt 28,16-20
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O mistério da Santíssima Trindade é inconcebível através da nossa inteligência, assim como não podemos assimilar pela razão pura e lógica. Mas felizmente, podemos captar, assimilar, aceitar, entender e crer nesse mistério por meio da nossa fé... Continua ( http://liturgiadiariacomentada2.blogspot.com.br/ )
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TRINDADE SANTA, AMPARO DO PAI, SEGURANÇA DO FILHO, FORÇA DO ESPÍRITO SANTO! - Olívia Coutinho
DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Dia 31 de Maio de 2015
Evangelho de Mt. 28,16-20
Mais uma vez, nos unimos no mesmo espírito de fé, para celebrarmos a festa da Santíssima Trindade!
A festa da Santíssima Trindade é a festa do reconhecimento do amor de Deus por nós: a festa do amor, quando a Igreja nos convida a contemplar o mistério inefável e insondável da Trindade Santa!
Mergulhar na profundidade deste mistério, é fazer a experiência da imensidão do amor de Deus, de um Deus que investiu alto no humano, e que, para relacionar-se conosco, quis se fazer família: Como Pai, Ele nos criou, como Filho, nos redimiu, e como Espírito Santo Ele nos santifica!
Ao Colocar esta festa no domingo seguinte à solenidade de Pentecostes, quando celebramos a descida do Espírito Santo sobre a Igreja nascente, a Igreja vem nos lembrar que cada domingo, é uma festa da Santíssima Trindade, pois o domingo é o dia do Senhor, o dia em que contemplamos o mistério do Deus Família, participando da Eucaristia!
No antigo testamento, não se fala da Família Trinitária, foi Jesus quem a revelou, entreabrindo o véu que encobria dos nossos olhos, o Deus amor, o Deus próximo de nós! Um Deus que nos possibilita viver a grande alegria de fazer parte da sua família: a Trindade Santa!
O Espírito Santo é o guia que nos remete ao coração do Pai, que nos faz entender os ensinamentos do Filho, e é o Espírito Santo, que nos insere na Família Trinitária pelo Batismo! A presença do Espírito Santo em nós é tão forte, que nos faz enxergar o que os olhos humanos não alcançam!
“O Espírito Santo não falará por si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido...” Esta afirmação de Jesus, vem nos dizer que nenhuma pessoa da Trindade Santa, age individualmente, este é um exemplo que deve ser seguido por cada um de nós, membro da comunidade Trinitária! Viver a vida trinitária é fazer a mesma trajetória de Jesus, é viver comunitariamente!
O evangelho deste domingo, narra o encontro de Jesus com os discípulos na Galiléia, local indicado por Ele, logo após a sua ressurreição, Mt 28,10. Podemos nos perguntar: porque será que Jesus indicou aquele local para o primeiro encontro com os discípulos após a sua ressurreição? Certamente, por ter sido ali, o local onde tudo começou, onde Ele iniciou a sua caminhada rumo a Jerusalém, uma trajetória, que tinha como único objetivo: colocar em ação, o projeto do Pai, missão, que lhe custou a vida!
Galiléia era o lugar do testemunho, ali, muitos testemunharam as obras realizadas por Jesus e acreditaram Nele! Foi da Galiléia que os discípulos foram enviados em missão, com a incumbência de anunciar o Evangelho e de fazerem novos discípulos. E foi graças ao anuncio e o testemunho deles, que muitas pessoas conheceram Jesus e se fizeram discípulos Dele! A partir da Galileia, os discípulos, refizeram a mesma trajetória de Jesus, rumo à Jerusalém! Percorrendo os mesmos lugares que eles haviam percorrido em companhia de Jesus, os discípulos iam recordando e entendendo, sob a luz do Espírito Santo, todos os ensinamentos de Jesus, e que naquela época, não havia sido compreendidos por eles.
Hoje, Jesus marca um encontro com cada um de nós, não, na Galiléia, mas dentro do nosso próprio coração! É a partir deste encontro, que tornamos seus discípulos! Como discípulos de Jesus, encontraremos muitos desafios pelo caminho, mas levaremos conosco uma certeza: nunca estaremos sós, o próprio Jesus nos garante: Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos”.
Batizados em nome da trindade Santa, nos tornamos responsáveis pela continuidade do anúncio do Reino, não podemos deixar que irmãos nossos desconheçam Jesus, desconheçam a verdade que liberta! O Batismo nos incorpora à Cristo, legitima a nossa missão de anunciadores da Boa Nova do Reino!
Pelo Batismo, somos inseridos na igreja, o corpo místico de Cristo, tornando-nos membros da família de Deus, a comunidade Trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
Professar a fé na Santíssima Trindade, não significa somente reconhecê-la, mas tomá-la como modelo para nossa vida pessoal e comunitária.
Na celebração deste domingo, a palavra central, que deve ressoar nos nossos ouvidos e chegar ao nosso coração é a “confiança”, a confiança na família Trinitária, nela encontramos o amparo do Pai, a segurança do Filho e a força iluminadora do Espírito Santo.
Ser Batizado, é estabelecer uma relação pessoal com a Trindade Santa, é viver a graça de fazer parte da família de Deus, a comunidade trinitária! Assumamos o nosso compromisso Batismal, estreitando a nossa relação com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo.
Quando traçamos sobre nós, o sinal da cruz, meditando cada palavra desta invocação à Santíssima Trindade, podemos ter a certeza de que: amparados pelo Pai, fortalecidos pelo Filho, e conduzido pelo Espírito Santo, estaremos imunizados contra todo tipo de mal!
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União com Cristo e o Pai no Espírito
Nos domingos anteriores, as leituras tomadas do evangelho de João nos ensinaram que a comunhão do Pai e do Filho, da qual nós participamos no amor, significa também missão: missão do Filho ao mundo, missão dos fiéis para “completar” o amor de Deus pelo amor fraterno, presente na comunidade e, através dela, levado ao mundo todo. Este quadro joanino serve muito bem para interpretar os textos da liturgia de hoje, embora sejam tomados de outros escritos. A visão joanina nos revela a profundidade escondida naquilo que Mateus e Paulo nos dizem hoje.
Mt narra que, depois de sua ressurreição, o Pastor escatológico reuniu (“precedeu”) seu rebanho na Galiléia (evangelho; cf. Mc 14,26-27; 16,7). Os onze encontram Jesus na Galiléia, na “montanha” (a do início de sua missão: cf. Mt 5, lss). Alguns nem o reconhecem. Aí, Jesus se revela como o Filho do Homem, a quem é “dado todo o poder no céu e na terra” (cf. Dn 7). Não é um Filho do Homem militaresco, mas profético; seu poder é ensinar. Este poder, confia-o aos discípulos, que devem ir a todos os povos e torná-los discípulos de Jesus, o que implica: 1) batizá-los em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; e, 2) ensinar-lhes a observar tudo quanto lhes ordenou. O batizar significa a acolhida na comunidade, sem a qual é impossível tomar alguém discípulo de Jesus, pois seu mandamento, o amor fraterno, só se aprende na prática mútua; aprender o mandamento do amor sozinho seria como jogar xadrez consigo mesmo …
Ora, esse acolhimento na comunidade deve ser “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Temos, no N.T., vestígios de outras fórmulas batismais, mencionado só o Cristo, ou Cristo e o Pai. Mas Mt prefere a fórmula trinitária, porque o acolhimento na comunidade é a entrada na comunhão do Cristo, e esta é de per si comunhão com o Pai, no Espírito que impeliu Jesus para sua missão (Mt 4, 1; cf. 3,17) e que é dado a seus seguidores (cf. Mt 3,11).
O Espírito que recebemos é o mesmo Espírito que Cristo recebeu no seu batismo e com o qual ele nos batiza. A 2ª leitura explica isso de modo comovente. Paulo parte da realidade batismal: o ser impelido pelo Espírito de Deus (Rm 8,14). Isso não é apenas entusiasmo carismático, mas filiação divina (cf. o batismo de Jesus, Mt 3,17). Recebemos um Espírito de filhos adotivos (o filho legítimo é Jesus) – de filhos e co-herdeiros! O Espírito de Cristo clama “em nosso espírito” (jogo de palavras): “Abbá, Pai!” Paulo insiste em que este Espírito é de liberdade, não de escravidão. O que é de Deus e foi confiado a Cristo, é nosso também. Nada nos é imposto contra nossa vontade. Assumimos livremente, porque amamos, como filhos a seu Pai.
Na realidade, a prática da Igreja nem sempre realiza as características da missão evangelizadora descrita nestes textos. Muitas vezes, pertencer à comunidade cristã é experimentado como um peso, um dever, não como o espírito da filiação divina que nos impele e que nos une intimamente com o Pai e os irmãos. Em vez de nos sentirmos “com Cristo”, na comunidade dos que são seus discípulos e irmãos, sentimo-nos oprimidos por uma pirâmide de convenções. As gerações de discípulos, em vez de serem irmãos unidos num mesmo Espírito libertador, parecem ter acumulado leis e leizinhas, instituições e instituiçõezinhas, impelindo os novos membros a entrar, não pelo impulso do Espírito, mas por tradição e conveniência. Não seria bom “ventilar” um pouco de Espírito na Igreja, para que, livres com Cristo, observemos sua palavra e com ele amemos a Deus e os irmãos, impelidos por seu Espírito?
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Terminado o tempo pascal com a solenidade de Pentecostes, a liturgia celebra a santíssima Trindade. Após proclamar nos santos mistérios que o Pai entregou o Filho por amor ao mundo na potência do Espírito Santo e, no mesmo Espírito Eterno, o ressuscitou dos mortos para nossa salvação, a Solenidade de agora é um modo que a Igreja encontra para louvar, engrandecer e adorar na proclamação exultante, o amor sem fim da Trindade Santa.
Estejamos atentos: por confessar a fé na Trindade, os cristãos têm um modo absolutamente original de compreender Deus. Os judeus sabem que Deus é um só; aquele que os arrancou da terra do Egito, da casa da servidão. Ouvimos falar dele na primeira leitura: Reconhece hoje e grava em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele". Os muçulmanos afirmam que não há outro Deus a não ser o único Deus de Abraão. Neste sentido, esta é também a nossa fé. Deus é um só, uma Essência eterna, infinita, onipotente, imutável. Deus é absolutamente um, que não pode ser multiplicado nem dividido: ele é Amor todo inteiro, inteiro na Beleza, inteiro na infinitude, inteiro na Onipotência e na Onipresença. Pois bem, como os judeus e como os muçulmanos nós confessamos firmemente que só há um Deus, absolutamente uno, Senhor do céu e da terra, diferente e para além de tudo quanto existe, de tudo quanto possamos compreender e imaginar.
No entanto, contemplando Jesus ressuscitado, todo glorificado, todo divinizado na sua natureza humana por obra do Espírito de Deus, nós proclamamos com o Novo Testamento e todas as gerações cristãs, que o nosso Salvador, o nosso Jesus amado, é Deus bendito pelos séculos, enviado pelo Pai, que é Deus, para nossa salvação; enviado na potência do Espírito que é também divino e divinizante, Paráclito que não é algo de Deus, mas Alguém de Deus, uma Pessoa, na qual o Pai ressuscitou o Filho Jesus e, habitando em nós, dá testemunho da divindade do Pai e do Filho, enche-nos de vida divina, guia-nos, sustenta-nos, ilumina-nos. Ouviram, amados, as palavras de são Paulo na segunda leitura? Davam testemunho das Três divinas pessoas: do Pai que enviando em nós o Espírito do Filho nos faz filhos no bendito e único filho Jesus. Eis o que dizia o Apóstolo: "O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo"... Então, eis a nossa fé, que transborda a humana lógica, transcende o balbuciar de nossa pobre linguagem, ultrapassa nossos limitados e tateantes paradigmas: Deus é um só, absolutamente. Enquanto a natureza humana, apesar de genericamente uma só, se multiplica nos indivíduos humanos, a natureza divina é absolutamente una, indivisível e imultiplicável, una não só genérica, mas também numericamente; e, no entanto, essa natureza é, ao mesmo tempo e perfeitamente, Pai, Filho e Santo Espírito. A natureza divina está todinha no Pai e, incompreensivelmente, todinha no Filho e, ainda, todinha no Espírito Santo. A unidade em Deus é incompreensível, absolutamente perfeita e eterna. Assim sendo, em Deus não há três vontades iguais, mas uma só vontade; não há três poderes iguais, mas um só poder, não três consciências iguais, mas uma só consciência. Mais uma vez: Deus é absolutamente Um! E, no entanto, os três divinos são absolutamente diversos: só o Pai gera, só o Filho é gerado, só o Espírito é a própria Geração; só o Pai é o Amante, só o Filho é o Amado, só o Espírito é o Amor.
E neste amor que circula de modo eterno, perfeito e feliz, o Pai, eterno Amante, tudo criou através do Filho, eterno Amado, na potência do Espírito Santo, eterno Amor. E, por isso, o mundo existe, as estrelas brilham, a vida brota e, sobretudo, nós existimos. Vimos do Pai, pelo Filho, no Espírito; vivemos no Pai pelo Filho no Espírito; vamos para o Pai, através do Filho no Espírito, Trindade Santa, nossa vida e plenitude eterna. É assim que os cristãos confessam o seu Deus como eterno amor, amor vivo e circulante que, gratuita e livremente, se derrama sobre o mundo e sobre a nossa vida. De fato, nós conhecemos o amor de Deus e sua vida íntima porque o Pai amou tanto o mundo, a ponto de enviar o seu Filho e, pelo Filho, derramou no nosso coração o Espírito do Filho que, em nós, clama Abbá, Pai. Por isso, podemos dizer que Deus é amor e, quem não ama, não conhece a Deus! E toda esta vida divina, amados, nos é dada desde o Batismo, quando fomos mergulhados no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; e cresce em nós a cada dia, nos sacramentos e na vida cristã, preparando-nos para nosso destino eterno: plenos do Espírito, sermos totalmente inseridos no Cristo e nele configurados, para contemplar eternamente o Pai!
Eis um pouquinho, um balbuciar do mistério da santa, consubstancial e eterna Trindade, a quem a glória e o louvor pelos séculos dos séculos.
dom Henrique Soares da Costa
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A solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se esconde por detrás de "um Deus em três pessoas"; mas é um convite a contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
Na primeira leitura, Jahwéh revela-se como o Deus da relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas dos homens, que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime e para nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira.
A segunda leitura confirma a mensagem da primeira: o Deus em quem acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que se demitiu do seu papel de Criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer aos homens a vida plena e definitiva.
No Evangelho, Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para se vincular com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no meio do mundo e são enviados a apresentar, a todos os homens e mulheres, sem excepção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária.
1 leitura – Dt. 4,32-34.39-40 - AMBIENTE
O livro do Deuteronômio é aquele "livro da Lei" ou "livro da Aliança" descoberto no Templo de Jerusalém no 18° ano do reinado de Josias (622 a.C., cf. 2Re. 22). Neste livro, os teólogos deuteronomistas - originários do Norte (Israel) mas, entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas dos reis do norte frente aos assírios - apresentam os dados fundamentais da sua teologia: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o Povo num único local de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com Ele uma aliança eterna; e o Povo de Deus deve ser um único Povo, a propriedade pessoal de Jahwéh (portanto, não têm qualquer sentido as questões históricas que levaram o Povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão).
Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao Povo uma espécie de "testamento espiritual": lembra aos hebreus os compromissos assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua aliança com Jahwéh.
O texto que hoje nos é proposto apresenta-se como parte do primeiro discurso de Moisés (cf. Dt. 1,6-4,43). Na primeira parte desse discurso (cf. Dt. 1,6-3,29), em estilo narrativo, o autor deuteronomista põe na boca de Moisés um resumo da história do Povo, desde a estadia no Horeb/Sinai, até à chegada ao monte Pisga, na Transjordânia; na parte final desse discurso (cf. Dt. 4,1-43), o autor apresenta, em estilo exortativo, um pequeno resumo da Aliança e das suas exigências. Esta secção final do primeiro discurso de Moisés começa com a expressão "e agora, Israel 0, que enlaça esta secção com a precedente: mostra-se que o compromisso que agora se pede a Israel se apóia nos acontecimentos históricos anteriormente expostos. A ação de Deus ao longo da caminhada do Povo pelo deserto deve conduzir ao compromisso.
O capítulo 4 do livro do Deuteronômio é um texto redigido, muito provavelmente, na fase final do Exílio do Povo de Deus na Babilônia. Perdido numa terra estrangeira e mergulhado numa cultura estranha, hostilizado quando tentava afirmar a sua fé em Jahwéh e celebrá-la através do culto, impressionado com o esplendor ritual e as solenidades do culto babilônico, o Povo bíblico corria o risco de trocar Jahwéh pelos deuses babilônicos. É neste contexto que os teólogos da escola deuteronomista vão convidar o Povo a olhar para a sua história, a redescobrir nela a presença salvadora e amorosa de Jahwéh e a comprometer-se de novo com Deus e com a Aliança.
MENSAGEM
No trecho que nos é proposto, o autor deuteronomista começa por convidar Israel a contemplar a história "desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra "o resultado dessa contemplação é a constatação do contínuo empenho de Jahwéh no sentido de oferecer ao seu Povo a vida e a salvação.
Toda a história da relação entre Deus e Israel é uma extraordinária história de relação, na qual se manifesta o amor de um Deus empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. Jahwéh escolheu Israel de entre todos os povos da terra, veio ao seu encontro, falou-lhe ao coração e realizou gestos destinados a trazer ao Povo ao encontro da vida. De mil formas, Deus fez ouvir a sua voz, indicou caminhos, conduziu o seu Povo da escravidão para a liberdade.
Como é que Israel se deve situar diante deste Deus? Como é que o Povo deve responder aos apelos de Deus?
Na perspectiva do teólogo deuteronomista, Israel deve, em primeiro lugar, reconhecer que "só o Senhor é Deus e que não há outro". D'Ele e só d'Ele brotam a vida, a salvação, a felicidade, a liberdade. Esta constatação convida o Povo a não colocar a sua esperança e a sua realização noutros deuses, noutras propostas ilusórias e enganadoras. Israel deve, em segundo lugar, cumprir as leis e os mandamentos de Deus, pois essas leis e mandamentos são o caminho seguro para a felicidade.
Este "caminho" aqui apontado aos crentes de Israel (e aos crentes de todas as épocas e lugares) não é um caminho de dependência e de servidão; mas é um caminho de felicidade. Deus não se imiscui na vida dos homens para os tornar dependentes, mas para os libertar e para os levar à vida verdadeira, à felicidade plena.
ATUALIZAÇÃO
+ Quem é Deus? Como é Ele? Qual a sua relação com os homens? O Deus em quem acreditamos é um Deus sensível aos problemas dos homens e que Se preocupa em percorrer com eles um caminho de amor e de relação, ou é um Deus insensível e distante, que olha com enfado e indiferença o caminho que percorremos e que Se recusa a sujar as mãos com a nossa humanidade? Trata-se de um Deus capaz de amar os homens e de aceitar, com misericórdia, as nossas falhas, ou de um Deus intolerante, duro e insensível, que castiga sem piedade qualquer deslize do homem? A Solenidade da Santíssima Trindade é, antes de mais, um convite a descobrir o verdadeiro rosto de Deus. A primeira leitura deste domingo dá-nos algumas pistas para perceber Deus e para reconhecer o seu verdadeiro rosto.
+ Nesta catequese do livro do Deuteronômio, Jahwéh revela-Se como o Deus da relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas dos homens, que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime e para nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira. Por vezes, ao longo da nossa caminhada pela vida, sentimo-nos sós e perdidos, afogados nas nossas dúvidas, misérias e dramas, assustados e inquietos face ao rumo que a história segue. Mas a certeza da presença amorosa, salvadora e reconfortante de Deus deve ser uma luz de esperança que ilumina o nosso caminho e que nos permite encarar cada passo da nossa existência com alegria e serenidade.
+ O catequista deuteronomista garante que Jahwéh é o único Deus capaz de realizar estas obras em favor do homem e que só n'Ele o homem encontra a verdadeira vida e a verdadeira liberdade. Esta afirmação convida-nos a refletir sobre o papel que outros "deuses" (bem mais falíveis, bem menos dignos de confiança) desempenham na nossa existência. Em quem é que pomos a nossa esperança? Esses "deuses" que tantas vezes nos seduzem (o dinheiro, o poder, a fama, o sucesso, o reconhecimento social, os valores da moda) que tantas vezes atraem a nossa atenção e condicionam as nossas opções, são verdadeiramente garantia de vida e de felicidade? Esses "deuses" trazem-nos liberdade e esperança ou escravidão e alienação?
+ O autor do texto que nos é proposto convida o Povo a cumprir as leis e os mandamentos que Deus propõe; e garante que as propostas de Deus são o caminho seguro para a felicidade e para a realização plena do homem. Os mandamentos não são propostas destinadas a limitar a nossa liberdade e a prender-nos a um deus ciumento e castrador; mas são sugestões de um Deus que nos ama, que quer a nossa felicidade e realização plena e que, no respeito absoluto pela nossa liberdade, não desiste de nos indicar o caminho para a verdadeira vida.
2ª leitura- Romanos 8,14-17 - AMBIENTE
A carta aos Romanos é um texto sereno e amadurecido, escrito por Paulo por volta do ano 57/58 e no qual o apóstolo apresenta uma síntese da sua mensagem e da sua pregação. O pretexto para a carta é um projeto de passagem por Roma, a caminho de Espanha (cf. Rm. 16,23-24): Paulo sente que terminou a sua missão no oriente e quer anunciar o Evangelho de Jesus no ocidente.
Na verdade, esse projeto de passagem por Roma parece ser, sobretudo, um pretexto para Paulo se dirigir aos Romanos e para lhes expor as suas ideias acerca da salvação. Na comunidade cristã de Roma - como, aliás, em quase todas as comunidades cristãs de então - havia divergências entre cristãos vindos do judaísmo e cristãos vindos do paganismo acerca do caminho cristão. Para os judeo-cristãos, a salvação dependia, além da fé em Cristo, da prática da Lei de Moisés; para os pagano-cristãos, a adesão a Cristo bastava. A uns e a outros, Paulo vai apresentar o essencial da mensagem cristã. O apóstolo insiste, sobretudo, no fato de a salvação não ser uma conquista do homem (que resulta dos atos ou dos méritos do homem), mas um dom do amor de Deus. Na verdade, todos os homens vivem mergulhados no pecado, pois o pecado é uma realidade universal (cf. Rm. 1,18-3,20); mas Deus, na sua bondade, a todos "justifica" e salva (cf. Rm. 3,1-5,11); e essa salvação é oferecida por Deus ao homem através de Jesus Cristo; ao homem, resta aderir a essa proposta de salvação, na fé (cf. Rm. 5,12-8,39).
O texto que hoje nos é proposto faz parte de um capítulo em que Paulo reflete sobre a vida nova que Deus oferece ao batizado e que Paulo chama "a vida no Espírito". O pensamento teológico de Paulo atinge, neste capítulo, um dos seus pontos culminantes, pois todos os grandes temas paulinos (o projeto salvador de Deus em favor dos homens; a ação libertadora de Cristo, através da sua vida de doação, da sua morte e da sua ressurreição; a nova vida que faz dos crentes Homens Novos e os torna filhos de Deus) se cruzam aqui.
Paulo procura, de forma especial, mostrar que os cristãos, libertos da Lei, do pecado e da morte por Jesus Cristo, deixaram a vida velha da "carne" (que é viver em oposição a Deus, numa vida da egoísmo, de auto-suficiência, de orgulho, de fechamento) para viverem a vida nova do Espírito (que é viver em relação com Deus, escutando as suas propostas e sugestões, na obediência aos projetos de Deus e na doação da própria vida aos irmãos).
MENSAGEM
O crente que acolhe a proposta de salvação que Deus faz em Jesus vive "no Espírito". Aceitar essa proposta de vida é aceitar uma vida de relação e de comunhão com Deus. Nessa relação, o crente é alimentado com a vida de Deus.
Os que aceitam receber a vida de Deus e vivem "no Espírito" são "filhos de Deus": Deus é, para eles, um Pai que continuamente os cria e lhes dá vida. A partir de então, os crentes integram a "família de Deus". Não são escravos que vivem no medo de um patrão ciumento e exigente (como era a Lei de Moisés); mas são "filhos" queridos, que Deus ama com amor infinito. Ao dirigirem-se a Deus, os crentes podem usar, com propriedade, a palavra "abba" (a palavra com que, familiarmente, as crianças se dirigem ao pai e que pode traduzir-se como "papá") - expressão de intimidade filial, que define uma relação marcada pelo amor, pela familiaridade, pela confiança, pela ternura.
A condição de "filhos" equipara os crentes com Cristo. Eles tornam-se, assim, "herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo". Qual é essa "herança" que lhes está reservada? É a vida plena e definitiva, que Deus oferece àqueles que aceitaram a proposta de Cristo e percorreram com Ele o caminho do amor, da doação, da entrega da vida.
O nosso Deus é, de acordo com a catequese de Paulo, o Deus da relação, apostado em vir ao encontro dos homens, em oferecer-lhes vida, em integrá-los na sua família, em amá-los com amor de Pai, em torná-los herdeiros da vida plena e definitiva.
ATUALIZAÇÃO
+ Mais uma vez a Palavra que nos é proposta reafirma esta realidade: o Deus em quem acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que Se demitiu do seu papel de criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer aos homens a vida plena e verdadeira. Há, ao longo da nossa caminhada pela vida, momentos de solidão e de desespero, em que procuramos Deus e não conseguimos descortinar a sua presença; mas, sobretudo nesses momentos dramáticos, é preciso não esquecer que Deus nunca desiste dos seus filhos e que nenhum de nós Lhe é indiferente.
+ À oferta de vida que Deus faz, o homem pode responder positiva ou negativamente. Se o homem preferir recusar a vida que Deus oferece e trilhar caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência, está a rejeitar a possibilidade de aceder à vida plena e verdadeira; se o homem estiver disponível para acolher a salvação que Deus oferece em Jesus, torna-se herdeiro da vida eterna. Em que situação é que eu me coloco, diante dos dons de Deus?
+ Os membros da comunidade cristã, que pelo batismo aderiram ao projeto de salvação que Deus apresentou aos homens em Jesus e cuja caminhada é animada pelo Espírito, integram a família de Deus. O fim último da nossa caminhada é a pertença à família trinitária.
+ Esta "vocação" deve expressar-se na nossa vida comunitária. A nossa relação com os irmãos deve refletir o amor, a ternura, a misericórdia, a bondade, o perdão, o serviço, que são as consequências práticas do nosso compromisso com a comunidade trinitária. É isso que acontece? As nossas relações comunitárias refletem esse amor que é a marca da "família de Deus"?
Evangelho - Mt. 28,16-20 - AMBIENTE
O texto situa-nos na Galileia, após a ressurreição de Jesus (embora não se diga se é muito ou pouco tempo após a descoberta do túmulo vazio - cf. Mt. 28,1-15). De acordo com Mateus, Jesus, pouco antes de ser preso, havia marcado encontro com os discípulos na Galileia (cf. Mt. 26,32); na manhã da Páscoa, os anjos que apareceram às mulheres no sepulcro (cf. Mt. 28,7) e o próprio Jesus, vivo e ressuscitado (cf. Mt. 28,10), renovam o convite para que os discípulos se dirijam à Galileia, a fim de lá encontrar o Senhor.
A Galileia - região setentrional da Palestina - era uma região próspera e bem povoada, de solo fértil e bem cultivado. A sua situação geográfica fazia desta região o ponto de encontro de muitos povos; por isso, um número importante de pagãos fazia parte da sua população. A coabitação de populações pagãs e judias fazia, certamente, com que os judeus da Galileia vivessem a religião de uma maneira diferente dos judeus de Jerusalém e da Judeia: a presença diária dos pagãos conduzia, provavelmente, os galileus a suavizar a sua prática da Lei e a interpretar mais amplamente as regras que se referiam, por exemplo, às impurezas rituais contraídas pelo contacto com os não judeus. No entanto, isto fazia com que os judeus de Jerusalém desprezassem os judeus da Galileia e considerassem que da Galileia "não podia sair nada de bom".
No entanto, foi na Galileia que Jesus viveu quase toda a sua vida. Foi também na Galileia que Ele começou a anunciar o Evangelho do "Reino" e que começou a reunir à sua volta um grupo de discípulos (cf. Mt. 4,12-22). Para Mateus, esse fato sugere que a o anúncio libertador de Jesus tem uma dimensão universal: destina-se a judeus e pagãos.
Mateus situa este encontro final entre Jesus ressuscitado e os discípulos, num "monte que Jesus lhes indicara". Trata-se, no entanto, de uma montanha da Galileia que é impossível identificar geograficamente, mas que talvez Mateus ligue com a montanha da tentação (cf. Mt 4,8) e com a montanha da transfiguração (cf. Mt. 17,1). De qualquer forma, o "monte" é sempre, no Antigo Testamento, o lugar onde Deus se revela aos homens.
MENSAGEM
O texto que descreve o encontro final entre Jesus e os discípulos divide-se em duas partes.
Na primeira (vs. 16-18), descreve-se o encontro. Jesus, vivo e ressuscitado, revela-se aos discípulos; e os discípulos reconhecem-n'O como "o Senhor" e adoram-n'O. Depois de descrever a adoração, Mateus acrescenta uma expressão que alguns traduzem como "alguns ainda duvidaram" e outros como "eles que tinham duvidado" (gramaticalmente, ambas as traduções são possíveis). No primeiro caso, a expressão significaria que a fé não é uma certeza científica e que não exclui a dúvida; no segundo caso, a expressão aludiria a essa dúvida constante dos discípulos - expressa em vários momentos, ao longo da caminhada para Jerusalém - e que aqui perde qualquer razão de ser.
Ao reconhecimento e à adoração dos discípulos, segue-se uma manifestação do mistério de Jesus, que reflete a fé da comunidade de Mateus: Jesus é o "Kyrios", que possui todo o poder sobre o mundo e sobre a história; Jesus é "o mestre", cujo ensinamento será sempre uma referência para os discípulos; Jesus é o "Deus conosco", que acompanhará, passo a
passo, a caminhada dos discípulos pela história.
passo, a caminhada dos discípulos pela história.
Na segunda (vs. 19-20), Mateus descreve o envio dos discípulos em missão pelo mundo. A Igreja de Jesus é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja missão é testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus veio trazer aos homens e que deixou nas mãos e no coração dos discípulos. A primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da universalidade da missão dos discípulos destina-se a "todas as nações".
A segunda nota dá conta das duas fases da iniciação cristã, conhecidas da comunidade de Mateus: o ensino e o batismo. Começava-se pela catequese, cujo conteúdo eram as palavras e os gestos de Jesus (o discípulo começava sempre pelo catecumenato, que lhe dava as bases da proposta de Jesus). Quando os discípulos estavam informados da proposta de Jesus, vinha o batismo - que selava a íntima vinculação do discípulo com o Pai, o Filho e o Espírito Santo (era a adesão à proposta anteriormente feita).
Uma última nota: Jesus estará sempre com os discípulos, "até ao fim dos tempos". Esta afirmação expressa a convicção - que todos os crentes da comunidade mateana possuíam - que Jesus ressuscitado estará sempre com a sua Igreja, acompanhando a comunidade dos discípulos na sua marcha pela história, ajudando-a a superar as crises e as dificuldades da caminhada.
ATUALIZAÇÃO
+ Este texto evangélico foi escolhido para o dia da Santíssima Trindade, pois nele aparece uma fórmula trinitária usada no batismo cristão ("em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"). O nosso texto sugere, antes de mais, que ser batizado é estabelecer uma relação pessoal com a comunidade trinitária… No dia em que fomos batizados, comprometemo-nos com Jesus e vinculamo-nos com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A minha vida tem sido coerente com esse compromisso?
+ Quem acolheu o convite de Deus (apresentado em Jesus) para integrar a comunidade trinitária, torna-se testemunha, no meio dos homens, dessa vida nova que Deus oferece. O papel dos discípulos é continuar a missão de Jesus, testemunhar o amor de Deus pelos homens e convidar os homens a integrar a família de Deus. Os irmãos com quem nos cruzamos pelos caminhos da vida recebem essa mensagem? As nossas palavras e os nossos gestos testemunham esse amor com que Deus ama todos os homens? As nossas comunidades são a imagem viva da família de Deus e apresentam um convite credível e convincente aos homens para que integrem a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo?
+ A missão que Jesus confiou aos discípulos - introduzir todos os homens na família de Deus - é uma missão universal: as fronteiras, as raças, a diversidade de culturas, não podem ser obstáculo para a presença da proposta libertadora de Jesus no mundo. Todos os homens e mulheres, sem exceção, têm lugar na família de Deus. Tenho consciência de que Jesus me envia a todos os homens - sem distinção de raças, de etnias, de diferenças religiosas, sociais ou econômicas - a anunciar-lhes o amor de Deus e a convocá-los para integrar a comunidade trinitária? Tenho consciência de que sou chamado a apresentar a todos os homens - mesmo àqueles que habitam no outro lado do mundo - o convite para integrar a família de Deus?
+ Num mundo onde Deus nem sempre faz parte dos planos e das preocupações dos homens, testemunhar o amor de Deus e apresentar aos homens o convite para integrar a família de Deus é um enorme desafio. O confronto com o mundo gera muitas vezes, nos discípulos, desilusão, sofrimento, frustração… Nos momentos de decepção e de desilusão convém, no entanto, recordar as palavras de Jesus:
"Eu estarei convosco até ao fim dos tempos". Esta certeza deve alimentar a coragem com que testemunhamos aquilo em que acreditamos.
+ A celebração da solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de compreender e decifrar essa estranha charada de "um em três". Mas deve ser, sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade. Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família - pai, mãe e filho - é afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai, o Filho e o Espírito são três formas diferentes de apresentar o mesmo Deus, como três fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é também negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um Deus comunidade, expressa-se na nossa linguagem imperfeita das três pessoas. O Deus família torna-Se trindade de pessoas distintas, porém unidas. Chegados aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana não consegue "dizer" o indizível, não consegue definir cabalmente o mistério de Deus.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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A Igreja celebra hoje o mistério central da nossa fé, a Santíssima Trindade, fonte de todos os dons e graças, mistério inefável da vida íntima de Deus. A liturgia da Missa convida-nos a chegar ao trato íntimo com cada uma das Três Divinas Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A festa foi estabelecida para todo o Ocidente em 1334 pelo Papa João XXII, e ficou fixada para o domingo depois da vinda do Espírito Santo.
I. Tibi laus, tibi gloria, tibi gratiarum actio... “A Ti o louvor, a Ti a glória, a Ti a ação de graças pelos séculos dos séculos, ó Trindade Beatíssima” (1).
Depois de ter renovado os mistérios da salvação – desde o nascimento de Cristo em Belém até a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes –, a liturgia propõe-nos o mistério central da nossa fé: a Santíssima Trindade, fonte de todos os dons e graças, mistério inefável da vida íntima de Deus.
Pouco a pouco, com uma pedagogia divina, Deus foi manifestando a sua realidade íntima, foi-nos revelando como Ele é em si, independente de todas as coisas criadas. No Antigo Testamento, dá a conhecer sobretudo a Unidade do seu Ser, bem como a sua completa distinção do mundo e o seu modo de relacionar-se com ele, como Criador e Senhor. Ensina-nos de muitas maneiras que é incriado, que não está limitado a um espaço (é imenso), nem ao tempo (é eterno). O seu poder não tem limites (é onipotente): Reconhece, pois, e medita hoje no teu coração – convida-nos a liturgia – que o Senhor é o único Deus desde o alto dos céus até ao mais profundo da terra, e que não há outro2. Somente Tu, Senhor.
O Antigo Testamento proclama sobretudo a grandeza de Javé, único Deus, Criador e Senhor de todo o Universo. Mas também revela-o como pastor que busca o seu rebanho, que cuida dos seus com mimo e ternura, que perdoa e esquece as freqüentes infidelidades do Povo eleito... Ao mesmo tempo, vai manifestando a paternidade de Deus Pai, a Encarnação de Deus Filho, que é anunciada pelos profetas, e a ação do Espírito Santo, que vivifica todas as coisas.
Mas é Cristo quem nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para que participemos dele. Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar3. Ele revelou-nos também a existência do Espírito Santo junto com o Pai e enviou-o à Igreja para que a santificasse até o fim dos tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas divinas4.
O mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de toda a verdade revelada e a fonte de que procede a vida sobrenatural e para a qual nos encaminhamos: somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho, santificados continuamente pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez mais a Cristo. Assim crescemos no sentido da nossa filiação divina. Assim nos convertemos em templos vivos da Santíssima Trindade.
Por ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia. Fomos batizados em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e em seu nome perdoam-se os pecados; ao começarmos e ao terminarmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por mediação de Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes ao longo do dia, nós, os cristãos, repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
“– Deus é meu Pai! – Se meditares nisto, não sairás dessa consoladora consideração.
“– Jesus é meu Amigo íntimo! (outra descoberta), que me ama com toda a divina loucura do seu Coração.
“– O Espírito Santo é meu Consolador!, que me guia nos passos de todo o meu caminho.
“Pensa bem nisso. – Tu és de Deus..., e Deus é teu”5.
II. A vida divina – da qual fomos chamados a participar – é fecundíssima. O Pai gera o Filho eternamente, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Esta geração do Filho e a espiração do Espírito Santo não são algo que tenha acontecido num momento determinado, deixando como fruto estável as Três Divinas Pessoas: essas procedências (os teólogos chamam-nas “processões”) são eternas.
No caso das gerações humanas, um pai gera um filho, mas esse pai e esse filho permanecem depois do ato gerador; o homem que é pai não é somente “pai”: antes e depois de gerar, é “homem”. Mas a essência de Deus Pai está em que todo o seu ser consiste em dar a vida ao Filho. Isso é o que o determina como Pessoa Divina, distinta das outras. Na vida natural, o filho que é gerado tem a sua realidade própria, mas a essência do Unigênito de Deus é precisamente ser Filho6. Em Deus, a Paternidade, a Filiação e a Espiração constituem todo o ser do Pai, do Filho e do Espírito Santo7.
Desde que o homem é chamado a participar da própria vida divina pela graça recebida no Batismo, está destinado a participar cada vez mais dessa Vida. É um caminho que é preciso percorrer continuamente. Do Espírito Santo recebemos constantes impulsos, moções, luzes, inspirações para avançarmos mais depressa por esse caminho que conduz a Deus, para estarmos numa “órbita” cada vez mais próxima do Senhor. “O coração necessita então de distinguir e adorar cada uma das Pessoas divinas. De certa maneira, o que a alma realiza na vida sobrenatural é uma descoberta semelhante às de uma criaturinha que vai abrindo os olhos à existência. E entretém-se amorosamente com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo; e submete-se facilmente à atividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega sem o merecermos: os dons e as virtudes sobrenaturais!
“Corremos como o cervo, que anseia pelas fontes das águas (Ps XLI, 2); com sede, gretada a boca, ressequida. Queremos beber nesse manancial de água viva. Sem esquisitices, mergulhamos ao longo do dia nesse veio abundante e cristalino de frescas linfas que saltam até a vida eterna (cfr. Ioh IV, 14). Sobram as palavras, porque a língua não consegue expressar-se; começa a serenar-se a inteligência. Não se raciocina, fita-se! E a alma rompe outra vez a cantar com um cântico novo, porque se sente e se sabe também fitada amorosamente por Deus, em todos os momentos” (8).
III. A SANTÍSSIMA TRINDADE habita na nossa alma como num templo. E São Paulo faz-nos saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado9. E aí, na intimidade da alma, temos de nos acostumar a relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e com Deus Espírito Santo. “Vós, Trindade eterna, sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro, e quanto mais descubro, mais vos procuro”10, dizemos-lhe no recolhimento da nossa alma.
“Ó meu Deus, Trindade Santíssima! Extraí do meu pobre ser o máximo rendimento para a vossa glória e fazei de mim o que quiserdes no tempo e na eternidade. Que eu jamais levante o menor obstáculo voluntário à vossa ação transformadora [...]. Segundo a segundo, com intenção sempre atual, quereria oferecer-vos tudo quanto sou e tenho; e que a minha pobre vida fosse, em união íntima com o Verbo Encarnado, um sacrifício incessante de louvor de glória à Santíssima Trindade [...]
“Ó meu Deus, como quereria glorificar-vos! Oh, se em troca da minha completa imolação, ou de qualquer outra condição, estivesse em minhas mãos incendiar o coração de todas as vossas criaturas e toda a Criação nas chamas do vosso amor, como quereria fazê-lo de todo o coração! Que ao menos o meu pobre coração vos pertença por inteiro, que nada reserve para mim nem para as criaturas, nem uma só das suas pulsações. Que eu ame imensamente todos os meus irmãos, mas unicamente convosco, por Vós e para Vós [...]. Desejaria, sobretudo, amar-vos com o coração de São José, com o Coração Imaculado de Maria, com o Coração adorável de Jesus. Desejaria, finalmente, submergir nesse Oceano infinito, nesse Abismo de fogo que consome o Pai e o Filho na unidade do Espírito Santo e amar-vos com o vosso próprio infinito amor [...].
“Pai Eterno, Princípio e Fim de todas as coisas! Pelo Coração Imaculado de Maria eu vos ofereço Jesus, vosso Verbo Encarnado, e por Ele, com Ele e nEle, quero repetir-vos sem cessar este grito arrancado do mais fundo de minha alma: Pai, glorificai continuamente o vosso Filho, para que o vosso Filho vos glorifique na unidade do Espírito Santo pelos séculos dos séculos (cf. Jo 17,1).
“Ó Jesus, que dissestes: Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt. 11,27), “mostrai-nos o Pai, e isso nos basta! (Jo 14,8).
“E Vós, ó Espírito de Amor!, ensinai-nos todas as coisas (Jo 14,26) e formai com Maria, em nós, Cristo Jesus (Gl. 4,19), até que sejamos consumados na unidade (Jo 17,23), no seio do Pai (Jo 1,18). Amém” (11).
Francisco Fernández-Carvajal
FONTE:
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