Evangelho - Jo 20,19-2
Recebei o Espírito Santo!
24 de Maio de 2015- Ano B
O Espírito Santo veio
num vento forte, e no fogo, assim como também pode vir na brisa suave...Ele
veio purificar, iluminar, e assistir permanentemente toda a Igreja,
protegendo-a das forças do mal, e norteando os passos dos seus escolhidos para
continuar a missão de salvar a humanidade do pecado.
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“RECEBEI O ESPÍRITO SANTO” - Olívia Coutinho
SOLENIDADE DE PENTECOSTES!
Dia 24 Maio de 2015
Evangelho Jo 20,19-23
Com muita alegria, celebramos hoje a solenidade de Pentecostes, o coroamento do
tempo Pascal, quando se cumpriu a promessa de Jesus: o envio do Espírito Santo!
Espírito Santo, que já se faz presente em nós, mas que é importante percebermos
a sua ação no mundo!
A definição marcante desta festa, podemos dizer que é a "Germinação da
Igreja", pois a caminhada missionária da Igreja, começa em Pentecostes,
quando o Espírito Santo entra em suas entranhas e a torna viva e atuante! É a
partir de Pentecostes, que a igreja começa a se abrir, a falar a linguagem do
amor, que é uma linguagem universal, e que mesmo sendo desdobrada em vários
idiomas, é a única linguagem capaz de ser compreendida pelos povos de todas as
nações.
A missão da Igreja, consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da
ressurreição de Jesus! Sua grande riqueza, está na abertura a todos os povos e
culturas! A Igreja é unidade, é a guardiã do amor do Pai, do Filho e do
Espírito Santo!
Nesta Solenidade, que também podemos chamar de festa missionária, devemos fazer
uma “viagem interior” pelo o mundo inteiro, chegar onde a igreja se faz
presente na pessoa dos muitos missionários, homens e mulheres, que apesar das
inúmeras dificuldades, se prontificam a gastar a vida na difusão do evangelho.
Unamos a estes missionários, no desejo de fazer chegar a outros irmãos, a Boa
Nova do Reino!
Sabemos que os desafios de quem se entrega a missionariedade são inúmeros, mas
sabemos também, que o Espírito Santo, anima e dá força a quem abraça a missão
de anunciar e testemunhar o Evangelho!
O evangelho deste domingo de Pentecostes, nos apresenta a comunidade de homens
Novos, que nasceu da cruz e da ressurreição de Jesus e que foram libertados
pela força santificadora e libertadora do Espírito Santo! Tudo começou com o
primeiro encontro de Jesus com os discípulos, logo após a sua ressurreição. Foi
neste encontro, que Jesus comunicou a eles o seu Espírito, no gesto de soprar
sobre eles.
Ao soprar o Espírito Santo sobre os discípulos, Jesus nos recorda o sopro de
Deus na criação, o sopro que deu vida a criatura humana, gesto que Jesus repete
como início de uma nova criação!
Cheios do Espírito Santo, os discípulos se libertaram do medo que os
aprisionavam, e a partir deste momento, as palavras de Jesus tornaram-se claras
para eles!
“Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhe serão
perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhe serão retidos”. Com o sopro do
Espírito Santo, Jesus concede à igreja, o poder de perdoar pecados. É Deus quem
tem o poder de perdoar pecados, mas Jesus concede este poder e o transmite a
sua Igreja. Trata-se do sacramento da reconciliação. Quando Jesus disse: “ a
quem não perdoardes, eles (pecados) lhe serão retidos,” não significa
condenação, e sim, um insistente apelo à conversão. Não é a Igreja que não
perdoa estes pecados, pelo contrário, a Igreja trabalha o arrependimento,
favorecendo as condições para que a pessoa possa se redimir. Pecados “retidos,”
são aqueles pecados que mesmo a gente tendo consciência deles, permanecemos
neles, não nos abrimos ao arrependimento, com o propósito de mudança, o que
significa, fechamento ao Espírito Santo, ou seja, o fechamento à graça do
perdão.
No sopro do Espírito Santo sobre os discípulos, é expressa a criação renovada!
É o Espírito Santo que recria a comunidade dos apóstolos e descerra suas portas
para a missão!
Os discípulos só conseguiram tomar atitudes corajosas para anunciar o
evangelho, depois que receberam o Espírito Santo. Era tão grande a coragem que
eles passaram a ter, e tão seguras as suas decisões, que eles estavam dispostos
a tudo, até mesmo a dar a vida pelo evangelho.
Todos nós recebemos o Espírito Santo no Sacramento do Batismo, sacramento que é
confirmado no Crisma. A presença permanente do Espírito Santo em nós, nos leva
a viver com mais alegria e vontade de comunicar a todos, as maravilhas que
Jesus realiza no meio de nós!
Com Pentecostes, encerra-se o tempo Pascal, mas este acontecimento não é o
final de uma história de amor, é o começo do nosso peregrinar rumo a eternidade!
Os atos dos Apóstolos começaram com o sopro do Espírito Santo, também os nossos
atos, devem começar a partir desta força libertadora do Espírito Santo, que
quer agir no mundo através de nós!
A todo instante somos chamados a sermos continuadores da comunicação do amor de
Jesus...
FIQUE NA PAZ DE JESUS! – Olívia
Venha fazer parte do meu grupo de reflexão no Facebook:
“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras
línguas, conforme o Espírito os inspirava”. Que Espírito é este, que encheu
hoje os apóstolos e a inteira Igreja de Cristo?
Ele é o Espírito do Ressuscitado, soprado pelo Cristo Senhor: “Jesus
disse: ‘Como o Pai me enviou (no Espírito Santo), eu também vos envio (neste
mesmo Espírito)!"Depois soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito
Santo!”
Nele, tudo fora criado desde o princípio: “O Espírito do Senhor encheu o
universo; ele mantém unidas todas as coisas e conhece todas as línguas” (Sb.
1,7). Somente no Santo Espírito podemos compreender que toda a criação e toda a
história são penetradas pela vida de Deus que nos vem pelo Cristo; somente no
Santo Espírito podemos perceber a unidade e bondade radicais da criação que nos
cerca, mesmo com tantas trevas e contradições. É o Santo Espírito, doce
Consolador, que nos livra do desespero e da falta de sentido!
Nele tudo se mantém, tudo tem consistência, tudo é precioso: “Encheu-se
a terra com as vossas criaturas: se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam
para o pó de onde vieram. Enviais o vosso Espírito e renascem e da terra toda a
face renovais”. É por sua ação constante que tudo existe e persiste no ser. Sem
ele, tudo voltaria ao nada e nada teria consistência real. Nele, tudo tem
valor, até a mais simples das criaturas...
Sem ele, nada, absolutamente, podemos nós: “Sem a luz que acode, nada o
homem pode, nenhum bem há nele!” Por isso Jesus disse: “Sem mim, nada podeis
fazer (Jo 15,5)”, porque sem o seu Espírito Santo que nos sustenta e age no
mais íntimo de nós, tudo quanto fizéssemos não teria valor para o Reino dos
Céus. Jesus é a videira, nós, os ramos, o Espírito é a seiva que, vinda do
tronco, nos faz frutificar...
Ele é a nova Lei – não aquela inscrita sobre tábuas de pedra, mas
inscrita no nosso coração (cf. Ez. 11,19; Jr. 31,31-34), pois “o amor de Deus
foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm. 5,5). A
lei de Moisés, em tábuas de pedra, fora dada no Sinai em meio a relâmpagos,
trovões, fogo, vento e terremotos (cf. Ex 19); agora, a Nova Lei, o Santo
Espírito nos vem em línguas de fogo e vento barulhento e impetuoso, para marcar
o início da Nova Aliança, do Amor derramado no íntimo de nós!
Ele tudo perdoa e renova e, Cristo, pois é Espírito para a remissão dos
pecados: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados!” É, pois, no
Espírito que a Santa Igreja anuncia a paz do Evangelho do perdão de Deus para a
humanidade em Cristo Jesus!
Ele nos une no Corpo de Cristo, que é a Igreja, pois “fomos batizados
num único Espírito para formarmos um só corpo...” – Neste Corpo, ele nos enche
de dons, carismas e ministérios, pois “a cada um é dada a manifestação do
Espírito para o bem comum”. É no Espírito que a Igreja é uma na diversidade de
tantos dons e carismas; uma nas diferenças de seus membros...
Ele faz a Igreja falar todas as línguas, fá abrir-se ao mundo, procurar
o mundo com “santa inquietude”, não para render-se ao mundo ou imitá-lo ou
perder-se nele, mas para “anunciar as maravilhas de Deus” em Cristo Jesus,
chamando o mundo à conversão e à vida nova em Cristo!
Enfim, Ele torna Jesus sempre presente no nosso coração e no coração da
Igreja e no testemunha incessantemente, sempre e em tudo que Jesus é o Senhor,
pois “ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo!” –
para a glória de Deus Pai.
dom Henrique Soares da Costa
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A Igreja, o Espírito e a Unidade
Pentecostes é a plenificação do Mistério pascal: a comunhão com o
Ressuscitado só é completa pelo dom do Espírito, que continua em nós a obra do
Cristo e sua presença gloriosa.
A liturgia de hoje acentua a manifestação histórica do Espírito no
milagre de Pentecostes (1ª leitura) e nos carismas da Igreja (2ª leitura),
sinais da unidade e paz que o Cristo veio trazer. Isto, porque a pregação dos
apóstolos, anunciando o Ressuscitado, supera a divisão de raças e línguas, e
porque a diversidade de dons na Igreja serve para a edificação do povo unido, o
Corpo do qual Cristo é a cabeça. Ambos estes temas podem alimentar a reflexão
de hoje.
No antigo Israel, Pentecostes era uma festa agrícola (primícias da
safra, no hemisfério setentrional). Mais tarde, foi relacionada com o evento
salvífico central da Aliança mosaica: ganhou o sentido de comemoração da
proclamação da Lei no monte Sinai. Tomou-se uma das três grandes festas em que
os judeus subiam em romaria a Jerusalém (as outras são Páscoa e Tabernáculos).
Foi nesta festa que aconteceu a “explosão” do Espírito Santo, a força que levou
os apóstolos a tomarem a palavra e a proclamarem, diante da multidão reunida de
todos os cantos do judaísmo, o anúncio (“querigma”) de Jesus Cristo. Seria
errado pensar que o Espírito tivesse sido dado naquele momento pela primeira
vez. O evangelho (de João) nos ensina que Jesus comunicou o Espírito no próprio
dia da Páscoa. O Espírito está sempre aí. Mas foi no dia de Pentecostes que
esta realidade se manifestou ao mundo. Por isso, ele aparece em forma de
línguas, operando o milagre das línguas e reparando a “confusão babilônica”
(cf. vigília)15.
A essa proclamação universal aludem o canto da entrada (opção 1), a
oração do dia e a 1ª leitura. O Espírito leva a proclamar os magnalia Dei em
todas as línguas. O conteúdo desta proclamação, já o conhecemos dos domingos
anteriores: é o querigma da ressurreição de Jesus Cristo. Novamente, o Sl.
104[103] comenta este fato (salmo responsorial).
A 2ª leitura mostra, por assim dizer, a obra “intra-eclesial” do
Espírito: a multiformidade dos dons, dentro do mesmo Espírito, como as
múltiplas funções em um mesmo corpo. Paulo chama isto de “carismas”, dons da
graça de Deus; pois sabemos muito bem que tal unidade na diversidade não é algo
que vem de nossa ambição pessoal (que, normalmente, só produz divisão). É o
Espírito do amor de Deus que tudo une.
No evangelho encontramos a visão joanina da “exaltação” de Jesus: é a
realidade única de sua morte, ressurreição e dom do Espírito, pois sua morte é
a obra em que Deus é glorificado, e seu lado aberto é a fonte do Espírito para
os fiéis (Jo 7,37-39; 19,3 1-37; cf. vigília). Assim, no próprio dia da
ressurreição, Jesus aparece aos seus para lhes comunicar a sua paz (cf. 14,27)
e conceder o dom do Espírito, para tirar o pecado do mundo, ou seja, para que
eles continuem sua obra salvadora (cf. 1,29.35).
Este Espírito do Senhor exaltado é o laço do amor divino que nos une,
que transforma o mundo em nova criação, sem mancha nem pecado, na qual todos
entendem a voz de Deus. É essa a mensagem da liturgia de hoje. O mundo é
renovado conforme a obra de Cristo, que nós, no seu Espírito, levamos adiante.
Neste sentido, é a festa da Igreja que nasceu do lado aberto do Salvador e
manifestou sua missão no dia de Pentecostes. Igreja que nasce, não de
organizações e instituições, mas da força graciosa (“carisma”) que Deus infunde
no coração e nos lábios. A festa de hoje nos ajuda a entender o que é renovação
carismática: não uma avalanche de fenômenos estranhos, mas o espírito do perdão
e da unidade que ganha força decisiva na Igreja. O Espírito Santo é a “alma” da
Igreja, o calor de nossa fé e de nossa comunhão eclesial. A antiga seqüência
Veni Sancte Spiritus expressa isso maravilhosamente, e seria bom pôr os fiéis,
mediante canto ou recitação, novamente em contato com esse rico texto.
A Igreja, por sua unidade no Espírito, no vínculo da paz (Ef. 4,3),
toma-se sacramento (sinal operante), do perdão, da unidade, da paz no inundo,
na medida em que ela o coloca em contato com o senhorio do Cristo pascal, no
querigma e na práxis.
15. Este tema lembra uma antiga lenda judaica, segundo a qual, no Sinal,
a proclamação da Lei teria sido confiada aos setenta anciãos, em setenta
línguas (no relato do Pentecostes cristão, o anúncio é confiado aos doze
apóstolos, talvez em doze línguas).
Johan Konings "Liturgia dominical"
O Espírito de Jesus é chamado de Espírito da verdade, o Advogado para
aqueles que enfrentam o ódio e a injustiça, Aquele que os defenderá nesta
causa, não os deixando sozinhos. Este mesmo Espírito não é alguém que vai
impedir os discípulos e o povo de sofrer e nem libertá-los dos conflitos, mas
os acompanhará e os ajudará na tarefa de testemunhar Jesus Cristo.
Jesus diz aos discípulos que Deus enviará o Espírito que sempre esteve
com Ele, e isso significa que serão Batizados no Espírito Santo e receberão um
dom que todos podem receber. Não são apenas alguns privilegiados que o recebem,
como se pode pensar, mas todos aqueles que são batizados!
A missão do Espírito Santo não é diferente da missão de Jesus, portanto,
todo aquele que O recebe, recebe também o discernimento para desmascarar a
injustiça; o dom de proclamar a Palavra e a força para anunciá-la em qualquer
tempo ou lugar; e a capacidade de transformar a tristeza em alegria, o medo em
coragem, a angústia em força.
O Espírito Santo é um guia constante na vida dos homens, falando-lhes ao
coração o que ouve do próprio Jesus que, por sua vez, recebe do Pai.
Pentecostes era uma festa agrícola celebrada no antigo Israel que, após
o recebimento dos dez mandamentos por Moisés no monte Sinai, passou a marcar a
comemoração desta aliança, tornando-se juntamente com a Páscoa e Tabernáculos -
ou Festa das Tendas que celebravam o tempo que os Israelitas estiveram no deserto,
abrigados debaixo de tendas de ramos e folhagens - as três grandes festas em
que os judeus subiam para Jerusalém.
No dia de Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa, os apóstolos se
encontravam reunidos para celebrar a vitória de Jesus sobre a morte, costume
que estava surgindo entre as primeiras comunidades cristãs.
As portas do local onde se encontravam estavam fechadas, atitude que
demonstra o medo dessas comunidades diante das perseguições que sofriam, mas
Jesus entra porque não existe barreiras para Ele ir ao encontro dos Seus. Ele
fica no meio deles e diz “A paz esteja com vocês”, a mesma saudação na Sua despedida.
Esta aparição fortaleceu a fé dos discípulos para que cumprissem com
mais intensidade a missão dada por Jesus, e para que acreditassem e pudessem
viver uma vida autêntica, inserida nos ensinamentos que Ele deixou. Em seguida
Jesus diz: “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.” Este é um
momento especial em que Jesus transfere para a comunidade a Sua missão entre os
homens, entregando-lhes o Seu Espírito para conduzi-los.
A partir deste momento, o Espírito Santo que esteve sempre presente em
Jesus é entregue à Sua comunidade que, inundada por Ele, será capaz de levar
adiante o projeto de Deus iniciado por Jesus, de anunciar o Reino de Deus e
dando a eles a autoridade para perdoar os pecados através do Sacramento da
Reconciliação.
Naquele dia de Pentecostes, O Espírito Santo desce sobre os apóstolos
como línguas de fogo, para que eles proclamem o Evangelho a todos os povos, de
forma que eles possam entendê-los. O “dom das línguas” foi dado à comunidade
cristã com a finalidade de que ela professe a Palavra, e todos possam entender
“a linguagem da justiça e do amor”.
A partir de então, os apóstolos repletos do Espírito Santo, começaram a
proclamar as “maravilhas de Deus”. Os que creram na pregação de Pedro e seus
companheiros, e se fizeram batizar, também receberam o Espírito Santo e seus
dons.
Em todo o Antigo Testamento, o sábado é respeitado como o dia do Senhor,
lembrando o dia em que Deus descansou após criar o mundo, porém, após a
ressurreição de Jesus, o Dia do Senhor passa a ser o domingo, onde todo o Seu
povo se reúne para celebrar a vitória de Jesus sobre a morte.
Os apóstolos estão reunidos, com as portas fechadas por temerem
represália dos líderes judeus, pois se sentem sozinhos, sem a presença de
Jesus. Acuado, o povo cristão não poderá promover a vitória da vida sobre a
morte, pois, para que esta vitória ocorra é preciso coragem para enfrentar os
desafios do mundo. Eles estão com medo, porque ainda não receberam o Espírito
Jesus, e o medo é um freio que impede as ações de testemunharem o Cristo
Ressuscitado.
Jesus vem ao encontro de seus apóstolos, e mesmo com as portas fechadas,
Ele se põe diante deles, demonstrando que para Ele não existem barreiras que
não possam ser vencidas, e lhes deseja a paz que os liberta da aflição e do medo.
”A paz esteja com vocês” é a mesma saudação que Ele usou na sua despedida (Jo.
14,27). É a saudação de um vencedor do mundo e da morte e, por isso, Ele pode
comunicar a paz. É a saudação do Cordeiro que irá alimentar a comunidade.
A atitude de Jesus de mostrar-lhes as marcas da crucificação, por um
lado é para que eles O reconheçam mas, por outro demonstra que a vitória da
vida sobre a morte não apaga a crueldade da crucificação, mas fortalece os
cristãos para que, com a alegria da vitória, possam assumir a missão maior que
Jesus entregou a seu povo. Quem vai garantir a missão dos cristão é o Espírito
Santo. Jesus soprou sobre eles o Seu Espírito, o sopro da vida nova que remete
ao sopro de Javé quando criou o Homem. Aqui nasce uma nova comunidade.
De agora em diante,batizados no Espírito Santo, Jesus envia seus
discípulos para a missão de dar continuidade ao Seu projeto de vida, projeto
este que consiste em mostrar, através de palavras e, principalmente ações, que
a vida ofertada por Jesus é a vida livre do pecado, pois o maior poder que Ele
deixa à humanidade é o de perdoar. Mas, Jesus não os envia sozinhos. Todo
aquele que aceita a missão de Jesus em sua vida, recebe Dele o Espírito Santo
de Deus, um elo com o Pai, através do qual, todos compreendem os ensinamentos
de Jesus e promovem ações de transformação da humanidade pelo Amor Divino.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a
todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e
faz nascer o Homem Novo.
O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus
ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva,
recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos
crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que
Jesus viveu até às últimas conseqüências.
Na primeira leitura, Lucas sugere que o Espírito é a lei nova que
orienta a caminhada dos crentes. É Ele que cria a nova comunidade do Povo de
Deus, que faz com que os homens sejam capazes de ultrapassar as suas diferenças
e comunicar, que une numa mesma comunidade de amor, povos de todas as raças e
culturas.
Na segunda leitura, Paulo avisa que o Espírito é a fonte de onde brota a
vida da comunidade cristã. É Ele que concede os dons que enriquecem a
comunidade e que fomenta a unidade de todos os membros; por isso, esses dons
não podem ser usados para benefício pessoal, mas devem ser postos ao serviço de
todos.
1ª leitura - AMBIENTE
Já vimos que o livro dos “Actos” não pretende ser uma reportagem
jornalística de acontecimentos históricos, mas sim ajudar os cristãos –
desiludidos porque o “Reino” não chega – a redescobrir o seu papel e a tomar consciência
do compromisso que assumiram, no dia do seu batismo.
No que diz respeito ao texto que nos é proposto e que descreve os
acontecimentos do dia do Pentecostes, não existem dúvidas de que é uma
construção artificial, criada por Lucas com uma clara intenção teológica. Para
apresentar a sua catequese, Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem
poética das metáforas. Resta-nos decodificar os símbolos para chegarmos à
interpelação essencial que a catequese primitiva, pela palavra de Lucas, nos deixa.
Uma interpretação literal deste relato seria, portanto, uma boa forma de
passarmos ao lado do essencial da mensagem; far-nos-ia reparar na roupagem
exterior, no folclore, e ignorar o fundamental. Ora, o interesse fundamental do
autor é apresentar a Igreja como a comunidade que nasce de Jesus, que é
assistida pelo Espírito e que é chamada a testemunhar aos homens o projeto
libertador do Pai.
MENSAGEM
Antes de mais, Lucas coloca a experiência do Espírito no dia de
Pentecostes. O Pentecostes era uma festa judaica, celebrada cinqüenta dias após
a Páscoa. Originariamente, era uma festa agrícola, na qual se agradecia a Deus
a colheita da cevada e do trigo; mas, no séc. I, tornou-se a festa histórica
que celebrava a aliança, o dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de
Deus. Ao situar neste dia o dom do Espírito, Lucas sugere que o Espírito é a
lei da nova aliança (pois é Ele que, no tempo da Igreja, dinamiza a vida dos
crentes) e que, por Ele, se constitui a nova comunidade do Povo de Deus – a
comunidade messiânica, que viverá da lei inscrita, pelo Espírito, no coração de
cada discípulo (cf. Ez. 36,26-28)
Vem, depois, a narrativa da manifestação do Espírito (At. 2,2-4). O
Espírito é apresentado como “a força de Deus”, através de dois símbolos: o
vento de tempestade e o fogo. São os símbolos da revelação de Deus no Sinai,
quando Deus deu ao Povo a Lei e constituiu Israel como Povo de Deus (cf. Ex.
19,16.18; Dt. 4,36). Estes símbolos evocam a força irresistível de Deus, que
vem ao encontro do homem, comunica com o homem e que, dando ao homem o
Espírito, constitui a comunidade de Deus.
O Espírito (força de Deus) é apresentado em forma de língua de fogo. A
língua não é somente a expressão da identidade cultural de um grupo humano, mas
é também a maneira de comunicar, de estabelecer laços duradouros entre as
pessoas, de criar comunidade. “Falar outras línguas” é criar relações, é a
possibilidade de superar o gueto, o egoísmo, a divisão, o racismo, a
marginalização… Aqui, temos o reverso de Babel (cf. Gn. 11,1-9): lá, os homens
escolheram o orgulho, a ambição desmedida que conduziu à separação e ao
desentendimento; aqui, regressa-se à unidade, à relação, à construção de uma
comunidade capaz do diálogo, do entendimento, da comunicação. É o surgimento de
uma humanidade unida, não pela força, mas pela partilha da mesma experiência
interior, fonte de liberdade, de comunhão, de amor. A comunidade messiânica é a
comunidade onde a ação de Deus (pelo Espírito) modifica profundamente as
relações humanas, levando à partilha, à relação, ao amor.
É neste enquadramento que devemos entender os efeitos da manifestação do
Espírito (cf. At. 2,5-13): todos “os ouviam proclamar na sua própria língua as
maravilhas de Deus”. O elenco dos povos convocados e unidos pelo Espírito
atinge representantes de todo o mundo antigo, desde a Mesopotâmia, passando por
Canaã, pela Ásia Menor, pelo norte de África, até Roma: a todos deve chegar a
proposta libertadora de Jesus, que faz de todos os povos uma comunidade de amor
e de partilha. A comunidade de Jesus é assim capacitada pelo Espírito para
criar a nova humanidade, a anti-Babel. A possibilidade de ouvir na própria
língua “as maravilhas de Deus” outra coisa não é do que a comunicação do
Evangelho, que irá gerar uma comunidade universal. Sem deixarem a sua cultura e
as suas diferenças, todos os povos escutarão a proposta de Jesus e terão a
possibilidade de integrar a comunidade da salvação, onde se fala a mesma língua
e onde todos poderão experimentar esse amor e essa comunhão que tornam povos
tão diferentes, irmãos. O essencial passa a ser a experiência do amor que, no
respeito pela liberdade e pelas diferenças, deve unir todas as nações da terra.
O Pentecostes dos “Actos” é, podemos dizê-lo, a página programática da
Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das “testemunhas” de
Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do Espírito, onde todos
serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos, porque o Espírito
reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.
ATUALIZAÇÃO
• Temos, neste texto, os elementos essenciais que definem a Igreja: uma
comunidade de irmãos reunidos por causa de Jesus, animada pelo Espírito do
Senhor ressuscitado e que testemunha na história o projeto libertador de Jesus.
Desse testemunho resulta a comunidade universal da salvação, que vive no amor e
na partilha, apesar das diferenças culturais e étnicas. A Igreja de que fazemos
parte é uma comunidade de irmãos que se amam, apesar das diferenças? Está
reunida por causa de Jesus e à volta de Jesus? Tem consciência de que o
Espírito está presente e que a anima? Testemunha, de forma efetiva e coerente,
a proposta libertadora que Jesus deixou?
• Nunca será demais realçar o papel do Espírito na tomada de consciência
da identidade e da missão da Igreja… Antes do Pentecostes, tínhamos apenas um
grupo fechado dentro de quatro paredes, incapaz de superar o medo e de
arriscar, sem a iniciativa nem a coragem do testemunho; depois do Pentecostes,
temos uma comunidade unida, que ultrapassa as suas limitações humanas e se
assume como comunidade de amor e de liberdade. Temos consciência de que é o
Espírito que nos renova, que nos orienta e que nos anima? Damos suficiente
espaço à ação do Espírito, em nós e nas nossas comunidades?
• Para se tornar cristão, ninguém deve ser espoliado da própria cultura:
nem os africanos, nem os europeus, nem os sul-americanos, nem os negros, nem os
brancos; mas todos são convidados, com as suas diferenças, a acolher esse
projeto libertador de Deus, que faz os homens deixarem de viver de costas
voltadas, para viverem no amor. A Igreja de que fazemos parte é esse espaço de
liberdade e de fraternidade? Nela todos encontram lugar e são acolhidos com
amor e com respeito – mesmo os de outras raças, mesmo aqueles de quem não
gostamos, mesmo aqueles que não fazem parte do nosso círculo, mesmo aqueles que
a sociedade marginaliza e afasta?
2ª leitura - AMBIENTE
A comunidade cristã de Corinto era viva e fervorosa, mas não era uma
comunidade exemplar no que diz respeito à vivência do amor e da fraternidade:
os partidos, as divisões, as contendas e rivalidades perturbavam a comunhão e
constituíam um contra-testemunho. As questões à volta dos “carismas” (dons
especiais concedidos pelo Espírito a determinadas pessoas ou grupos para
proveito de todos) faziam-se sentir com especial acuidade: os detentores desses
dons carismáticos consideravam-se os “escolhidos” de Deus, apresentavam-se como
“iluminados” e assumiam com freqüência atitudes de autoritarismo e de
prepotência que não favorecia a fraternidade e a liberdade; por outro lado, os
que não tinham sido dotados destes dons eram desprezados e desclassificados,
considerados quase como “cristãos de segunda”, sem vez nem voz na comunidade.
Paulo não pode ignorar esta situação. Na primeira carta aos Coríntios,
ele corrige, admoesta, dá conselhos, mostra a incoerência destes
comportamentos, incompatíveis com o Evangelho. No texto que nos é proposto,
Paulo aborda a questão dos “carismas”.
MENSAGEM
Em primeiro lugar, Paulo acha que é preciso saber ajuizar da validade
dos dons carismáticos, para que não se fale em “carismas” a propósito de
comportamentos que pretendem apenas garantir os privilégios de certas figuras.
Segundo Paulo, o verdadeiro “carisma” é o que leva a confessar que “Jesus é o
Senhor” (pois não pode haver oposição entre Cristo e o Espírito) e que é útil
para o bem da comunidade.
De resto, é preciso que os membros da comunidade tenham consciência de
que, apesar da diversidade de dons espirituais, é o mesmo Espírito que atua em
todos; que apesar da diversidade de funções, é o mesmo Senhor Jesus que está
presente em todos; que apesar da diversidade de ações, é o mesmo Deus que age
em todos. Não há, portanto, “cristãos de primeira” e “cristãos de segunda”. O
que é importante é que os dons do Espírito resultem no bem de todos e sejam
usados – não para melhorar a própria posição ou o próprio “ego” – mas para o
bem de toda a comunidade.
Paulo conclui o seu raciocínio comparando a comunidade cristã a um
“corpo” com muitos membros. Apesar da diversidade de membros e de funções, o
“corpo” é um só. Em todos os membros circula a mesma vida, pois todos foram
batizadas num só Espírito e “beberam” um único Espírito.
O Espírito é, pois, apresentado como Aquele que alimenta e que dá vida
ao “corpo de Cristo”; dessa forma, Ele fomenta a coesão, dinamiza a
fraternidade e é o responsável pela unidade desses diversos membros que formam
a comunidade.
ATUALIZAÇÃO
• Temos todos consciência de que somos membros de um único “corpo” – o
corpo de Cristo – e é o mesmo Espírito que nos alimenta, embora desempenhemos
funções diversas (não mais dignas ou mais importantes, mas diversas). No
entanto, encontramos, com alguma freqüência, cristãos com uma consciência viva
da sua superioridade e da sua situação “à parte” na comunidade (seja em razão
da função que desempenham, seja em razão das suas “qualidades” humanas), que
gostam de mandar e de fazer-se notar. Às vezes, vêem-se atitudes de prepotência
e de autoritarismo por parte daqueles que se consideram depositários de dons
especiais; às vezes, a Igreja continua a dar a impressão – mesmo após o
Vaticano II – de ser uma pirâmide no topo da qual há uma elite que preside e
toma as decisões e em cuja base está o rebanho silencioso, cuja função é
obedecer. Isto faz algum sentido, à luz da doutrina que Paulo expõe?
• Os “dons” que recebemos não podem gerar conflitos e divisões, mas
devem servir para o bem comum e para reforçar a vivência comunitária. As nossas
comunidades são espaços de partilha fraterna, ou são campos de batalha onde se
digladiam interesses próprios, atitudes egoístas, tentativas de afirmação
pessoal?
• É preciso ter consciência da presença do Espírito: é Ele que alimenta,
que dá vida, que anima, que distribui os dons conforme as necessidades; é Ele
que conduz as comunidades na sua marcha pela história. Ele foi distribuído a
todos os crentes e reside na totalidade da comunidade. Temos consciência da
presença do Espírito e procuramos ouvir a sua voz e perceber as suas
indicações? Temos consciência de que, pelo fato de desempenharmos esta ou
aquela função, não somos as únicas vozes autorizadas a falar em nome do
Espírito?
Evangelho - AMBIENTE
Este texto situa-nos no cenáculo, no próprio dia da ressurreição.
Apresenta-nos a comunidade da nova aliança, nascida da ação criadora e
vivificadora do Messias. No entanto, esta comunidade ainda não se encontrou com
Cristo ressuscitado e ainda não tomou consciência das implicações da
ressurreição. É uma comunidade fechada, insegura, com medo… Necessita de fazer
a experiência do Espírito; só depois, estará preparada para assumir a sua
missão no mundo e dar testemunho do projeto libertador de Jesus.
Nos “Atos”, Lucas narra a descida do Espírito sobre os discípulos no dia
do Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa (sem dúvida por razões teológicas
e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa judaica do
Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de Deus); mas João
situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito pelos discípulos.
MENSAGEM
João começa por pôr em relevo a situação da comunidade. O “anoitecer”,
as “portas fechadas”, o “medo” (v. 19a), são o quadro que reproduz a situação
de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto,
desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a
sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar.
Entretanto, Jesus aparece “no meio deles” (vers. 19b). João indica desta
forma que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus
ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a
coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e toma
consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma
consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.
Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes “a paz” (“shalom”, em
hebraico). A “paz” é um dom messiânico; mas, neste contexto, significa,
sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranqüilidade, da confiança que
permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a partir de agora,
nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os
discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.
Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado”. São os “sinais” que
evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. É nesses “sinais” (na
entrega da vida, no amor oferecido até à última gota de sangue) que os
discípulos reconhecem Jesus. O fato de esses “sinais” permanecerem no
ressuscitado, indica que Jesus será, de forma permanente, o Messias cujo amor
se derramará sobre os discípulos e cuja entrega alimentará a comunidade.
Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus de soprar sobre
os discípulos reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila
(João utiliza, aqui, precisamente o mesmo verbo do texto grego de Gn. 2,7). Com
o “sopro” de Deus de Gn. 2,7, o homem tornou-se um “ser vivente”; com este
“sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo.
Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados – como
Jesus – para fazerem da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo
Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar
– com gestos e com palavras – o amor de Jesus.
Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos (v. 23): a
eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos
possam ou não – conforme os seus interesses ou a sua disposição – perdoar os
pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no
mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa
proposta será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará
a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade,
animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.
ATUALIZAÇÃO
• A comunidade cristã só existe de forma consistente, se está centrada
em Jesus. Jesus é a sua identidade e a sua razão de ser. É n’Ele que superamos
os nossos medos, as nossas incertezas, as nossas limitações, para partirmos à
aventura de testemunhar a vida nova do Homem Novo. As nossas comunidades são,
antes de mais, comunidades que se organizam e estruturam à volta de Jesus?
Jesus é o nosso modelo de referência? É com Ele que nos identificamos, ou é num
qualquer ídolo de pés de barro que procuramos a nossa identidade? Se Ele é o
centro, a referência fundamental, têm algum sentido as discussões acerca de
coisas não essenciais, que às vezes dividem os crentes?
• Identificar-se como cristão significa dar testemunho diante do mundo
dos “sinais” que definem Jesus: a vida dada, o amor partilhado. É esse o
testemunho que damos? Os homens do nosso tempo, olhando para cada cristão ou
para cada comunidade cristã, podem dizer que encontram e reconhecem os “sinais”
do amor de Jesus?
• As comunidades construídas à volta de Jesus são animadas pelo
Espírito. O Espírito é esse sopro de vida que transforma o barro inerte numa
imagem de Deus, que transforma o egoísmo em amor partilhado, que transforma o
orgulho em serviço simples e humilde… É Ele que nos faz vencer os medos,
superar as cobardias e fracassos, derrotar o cepticismo e a desilusão,
reencontrar a orientação, readquirir a audácia profética, testemunhar o amor,
sonhar com um mundo novo. É preciso ter consciência da presença contínua do
Espírito em nós e nas nossas comunidades e estar atentos aos seus apelos, às
suas indicações, aos seus questionamentos.
A vinda do Espírito Santo
I. O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
que habita em nós. Aleluia!
Pentecostes era uma das três grandes festas judaicas; muitos israelitas
iam nesses dias em peregrinação a Jerusalém, para adorar a Deus no Templo. A
origem da festa remontava a uma antiquíssima celebração em que se davam graças
a Deus pela safra do ano, em vésperas de ser colhida. Depois acrescentou-se a
essa comemoração, que se celebrava cinqüenta dias depois da Páscoa, a da
promulgação da Lei dada por Deus no monte Sinai. Por desígnio divino, a
colheita material que os judeus festejavam com tanto júbilo converteu-se, na
Nova Aliança, numa festa de imensa alegria: a vinda do Espírito Santo com todos
os seus dons e frutos.
Quando chegou o dia de Pentecostes, estavam todos juntos num mesmo
lugar. E sobreveio de repente um ruído do céu, como de um vento impetuoso, que
encheu toda a casa em que se encontravam2. O Espírito Santo manifestou-se por
meio dos elementos que costumavam acompanhar a presença de Deus no Antigo
Testamento: o vento e o fogo3.
O fogo aparece na Sagrada Escritura como imagem do amor que penetra
todas as coisas e como elemento purificador4. É uma imagem que nos ajuda a
compreender melhor a ação que o Espírito Santo realiza nas almas: Ure
igneSancti Spiritus renes nostros et cor nostrum, Domine... Purificai, Senhor,
com o fogo do Espírito Santo as nossas entranhas e o nosso coração...
O fogo também produz luz, e significa o novo resplendor com que o Espírito
Santo faz compreender a doutrina de Jesus Cristo. Quando vier o Espírito de
verdade, guiar-vos-á para a verdade completa... Ele me glorificará, porque
tomará do que é meu e vo-lo dará a conhecer5. Numa ocasião anterior, Jesus
havia comunicado aos seus: O Advogado, o Espírito Santo... vos ensinará tudo e
vos trará à memória tudo quanto eu vos disse6. É Ele quem nos conduz à plena
compreensão da verdade ensinada por Cristo: “Tendo enviado finalmente o
Espírito de verdade, completou, culminou e confirmou a revelação com o
testemunho divino” (7).
No Antigo Testamento, a obra do Espírito Santo é freqüentemente sugerida
pela palavra “sopro”, a fim de exprimir ao mesmo tempo a delicadeza e a força
do amor divino. Não há nada mais sutil que o vento, que penetra por toda a
parte, que parece até percorrer os corpos inanimados e dar-lhes vida própria. O
vento impetuoso do dia de Pentecostes exprime a nova força com que o Amor
divino irrompe na Igreja e nas almas.
São Pedro, diante da multidão de pessoas que se encontravam nas
imediações do Cenáculo, fez-lhes ver que se estava cumprindo o que fora
anunciado pelos Profetas8: E sucederá nos últimos dias, diz Deus, que
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne... (9) Os que receberem a efusão
do Espírito não serão já uns poucos privilegiados, como os companheiros de
Moisés (10), ou como os Profetas, mas todos os homens, na medida em que se
abrirem a Cristo (11). A ação do Espírito Santo deve ter produzido tal assombro
nos discípulos e nos que os escutavam que todos estavam fora de si, cheios de
amor e de alegria.
II. A vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um
acontecimento isolado na vida da Igreja. O Paráclito santifica-a continuamente,
como também santifica cada alma, através das inúmeras inspirações que se
escondem em “todos os atrativos, movimentos, censuras e remorsos interiores,
luzes e conhecimentos que Deus produz em nós, prevenindo o nosso coração com as
suas bênçãos, pelo seu cuidado e amor paternal, a fim de nos despertar, mover,
estimular e atrair para as santas virtudes, para o amor celestial, para as boas
resoluções, para tudo aquilo que, numa palavra, nos conduz à nossa vida eterna”
(12). A sua ação na alma é “suave e aprazível [...]; Ele vem salvar, curar,
iluminar” (13).
No dia de Pentecostes, os Apóstolos foram robustecidos na sua missão de
testemunhas de Jesus, a fim de anunciarem a Boa Nova a todos os povos. Mas não
somente eles: todos os que crerem nEle terão o doce dever de anunciar que
Cristo morreu e ressuscitou para nossa salvação. E sucederá nos últimos dias,
diz Deus, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e profetizarão os
vossos filhos e as vossas filhas, e os vossos jovens verão visões, e os vossos
anciãos sonharão sonhos. E sobre os meus servos e sobre as minhas servas
derramarei o meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão14. Assim pregou
São Pedro na manhã de Pentecostes, que inaugurava a época dos últimos dias, os
dias em que o Espírito Santo foi derramado de uma maneira nova sobre aqueles
que crêem que Jesus é o Filho de Deus e põem em prática a sua doutrina.
Todos os cristãos têm desde então a missão de anunciar, de cantar as
magnalia Dei (15), as maravilhas que Deus fez no seu Filho e em todos aqueles
que crêem nEle. Somos agora um povo santo para publicar as grandezas dAquele
que nos transferiu das trevas para a sua luz admirável (16).
Ao compreendermos a grandeza da nossa missão, compreendemos também que
ela depende da nossa correspondência às moções do Espírito Santo, e sentimo-nos
necessitados de pedir-lhe freqüentemente que lave o que está manchado, regue o
que está seco, cure o que está doente, acenda o que está morno, retifique o que
está torcido17. Porque sabemos bem que no nosso interior há manchas, e partes
que não dão todo o fruto que deveriam porque estão secas, e partes doentes, e
tibieza, e também pequenos desvios, que é necessário retificar.
III. Para sermos mais fiéis às constantes moções e inspirações do
Espírito Santo na nossa alma, “podemos atentar para três realidades
fundamentais: docilidade [...], vida de oração e união com a Cruz.
Em primeiro lugar, docilidade, “porque é o Espírito Santo quem, com suas
inspirações, vai dando tom sobrenatural aos nossos pensamentos, desejos e
obras. É Ele quem nos impele a aderir à doutrina de Cristo e a assimilá-la com
profundidade; quem nos dá luz para tomarmos consciência da nossa vocação
pessoal e força para realizarmos tudo o que Deus espera de nós”18.
O Paráclito atua sem cessar na nossa alma: não dizemos uma só
jaculatória se o Espírito Santo não nos move a dize-la (19), como nos mostra
São Paulo na segunda leitura da Missa. Ele está presente e inspira-nos quando
lemos o Evangelho, quando oramos, quando descobrimos uma luz nova num conselho
recebido, quando meditamos uma verdade de fé que talvez já tivéssemos
considerado antes muitas vezes. Percebemos que essa luz não depende da nossa
vontade. Não é coisa nossa, mas de Deus. É o Espírito Santo quem nos move
suavemente a abeirar-nos do sacramento da Penitência, a levantar o coração a
Deus num momento inesperado, a realizar uma boa obra. É Ele quem nos sugere um
pequeno sacrifício ou nos faz encontrar a palavra adequada que anima uma pessoa
a ser melhor.
Vida de oração, “porque a entrega, a obediência, a mansidão do cristão
nascem do amor e para o amor se orientam.E o amor leva à vida de relação, à
conversa assídua [...]. A vida cristã requer um diálogo constante com Deus Uno
e Trino, e é a essa intimidade que o Espírito Santo nos conduz [...].
Acostumemo-nos a procurar o convívio com o Espírito Santo, que é quem nos há de
santificar; a confiar nEle, a pedir a sua ajuda, a senti-lo perto de nós. Assim
se irá dilatando o nosso pobre coração, teremos mais ânsias de amar a Deus e,
por Ele, a todas as criaturas” (20).
União com a Cruz, “porque na vida de Cristo, o Calvário precedeu a
Ressurreição e o Pentecostes, e esse mesmo processo se deve reproduzir na vida
de cada cristão [...]. O Espírito Santo é fruto da Cruz, da entrega total a
Deus, da procura exclusiva da sua glória e da completa renúncia a nós mesmos”
(21).
Podemos terminar a nossa oração fazendo nossas as súplicas contidas no
hino que se canta na Seqüência da Missa deste dia de Pentecostes: Vinde,
Espírito Santo, e enviai do céu um raio da vossa luz. Vinde, Pai dos pobres;
vinde, doador de graças; vinde, luz dos corações. Consolo ótimo, doce hóspede
da alma, doce refrigério, vinde! Vós sois descanso no trabalho, na aflição
remanso, no pranto consolo. Ó luz santíssima, enchei o mais íntimo do coração
dos vossos fiéis [...]. Dai aos vossos fiéis, que em Vós confiam, os vossos
sete dons. Dai-lhes o mérito da virtude, dai-lhes o porto da salvação, dai-lhes
a eterna alegria (22).
Para chegarmos a um convívio mais íntimo com o Espírito Santo, nada tão
eficaz como aproximar-nos de Santa Maria, que soube secundar como ninguém as
inspirações do Espírito Santo. Os Apóstolos, antes do dia de Pentecostes,
perseveravam unânimes na oração, com algumas mulheres e com Maria, a Mãe de
Jesus (23).
Francisco Fernández-Carvajal
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