http://homiliadominical2.blogspot.com.br/ - José Salviano
SOLENIDADE DA
SANTÍSSIMA TRINDADE
Tempo Comum
31
de Maio de 2015
Ano
B
Evangelho - Mt
28,16-20
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o nosso Blog principal de liturgia diária
O
mistério da Santíssima Trindade é inconcebível através da nossa inteligência,
assim como não podemos assimilar pela razão pura e lógica. Mas felizmente,
podemos captar, assimilar, aceitar, entender e crer nesse mistério por meio da
nossa fé... Continua ( http://liturgiadiariacomentada2.blogspot.com.br/ )
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TRINDADE
SANTA, AMPARO DO PAI, SEGURANÇA DO FILHO, FORÇA DO ESPÍRITO SANTO! - Olívia
Coutinho
DOMINGO
DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Dia
31 de Maio de 2015
Evangelho
de Mt. 28,16-20
Mais uma vez, nos unimos no mesmo
espírito de fé, para celebrarmos a festa da Santíssima Trindade!
A festa da Santíssima Trindade é a
festa do reconhecimento do amor de Deus por nós: a festa do amor, quando
a Igreja nos convida a contemplar o mistério inefável e insondável da Trindade
Santa!
Mergulhar na profundidade deste
mistério, é fazer a experiência da imensidão do amor de Deus, de um Deus que
investiu alto no humano, e que, para relacionar-se conosco, quis se fazer
família: Como Pai, Ele nos criou, como Filho, nos redimiu, e como Espírito
Santo Ele nos santifica!
Ao Colocar esta festa no domingo
seguinte à solenidade de Pentecostes, quando celebramos a descida do Espírito
Santo sobre a Igreja nascente, a Igreja vem nos lembrar que cada domingo, é uma
festa da Santíssima Trindade, pois o domingo é o dia do Senhor, o dia em que
contemplamos o mistério do Deus Família, participando da Eucaristia!
No antigo testamento, não se fala da
Família Trinitária, foi Jesus quem a revelou, entreabrindo o véu que encobria
dos nossos olhos, o Deus amor, o Deus próximo de nós! Um Deus que nos
possibilita viver a grande alegria de fazer parte da sua família: a
Trindade Santa!
O Espírito Santo é o guia que nos
remete ao coração do Pai, que nos faz entender os ensinamentos do Filho, e é
o Espírito Santo, que nos insere na Família Trinitária pelo
Batismo! A presença do Espírito Santo em nós é tão forte, que nos faz
enxergar o que os olhos humanos não alcançam!
“O Espírito Santo não falará por
si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido...” Esta afirmação de Jesus, vem nos
dizer que nenhuma pessoa da Trindade Santa, age individualmente, este é
um exemplo que deve ser seguido por cada um de nós, membro da comunidade
Trinitária! Viver a vida trinitária é fazer a mesma trajetória de Jesus, é
viver comunitariamente!
O evangelho deste domingo, narra o
encontro de Jesus com os discípulos na Galiléia, local indicado por Ele, logo
após a sua ressurreição, Mt 28,10. Podemos nos
perguntar: porque será que Jesus indicou aquele local para o primeiro encontro
com os discípulos após a sua ressurreição? Certamente, por ter sido ali,
o local onde tudo começou, onde Ele iniciou a sua caminhada rumo a Jerusalém,
uma trajetória, que tinha como único objetivo: colocar em ação, o projeto do
Pai, missão, que lhe custou a vida!
Galiléia era o lugar do testemunho, ali,
muitos testemunharam as obras realizadas por Jesus e acreditaram Nele! Foi da
Galiléia que os discípulos foram enviados em missão, com a
incumbência de anunciar o Evangelho e de fazerem novos discípulos. E foi
graças ao anuncio e o testemunho deles, que muitas pessoas
conheceram Jesus e se fizeram discípulos Dele! A partir da Galileia, os
discípulos, refizeram a mesma trajetória de Jesus, rumo à Jerusalém!
Percorrendo os mesmos lugares que eles haviam percorrido em companhia de
Jesus, os discípulos iam recordando e entendendo, sob a luz do Espírito
Santo, todos os ensinamentos de Jesus, e que naquela época, não havia sido
compreendidos por eles.
Hoje, Jesus marca um encontro com cada
um de nós, não, na Galiléia, mas dentro do nosso próprio coração! É a
partir deste encontro, que tornamos seus discípulos! Como discípulos de
Jesus, encontraremos muitos desafios pelo caminho, mas levaremos conosco uma
certeza: nunca estaremos sós, o próprio Jesus nos garante: Eis que estarei
convosco todos os dias, até o fim dos tempos”.
Batizados em nome da trindade
Santa, nos tornamos responsáveis pela continuidade do anúncio do Reino, não
podemos deixar que irmãos nossos desconheçam Jesus, desconheçam a verdade que
liberta! O Batismo nos incorpora à Cristo, legitima a nossa
missão de anunciadores da Boa Nova do Reino!
Pelo Batismo, somos inseridos na igreja,
o corpo místico de Cristo, tornando-nos membros da família de Deus, a
comunidade Trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
Professar a fé na Santíssima Trindade,
não significa somente reconhecê-la, mas tomá-la como modelo para nossa vida
pessoal e comunitária.
Na
celebração deste domingo, a palavra central, que deve ressoar nos nossos
ouvidos e chegar ao nosso coração é a “confiança”, a confiança na
família Trinitária, nela encontramos o amparo do Pai, a segurança do Filho e a
força iluminadora do Espírito Santo.
Ser Batizado, é estabelecer uma relação
pessoal com a Trindade Santa, é viver a graça de fazer parte da família de
Deus, a comunidade trinitária! Assumamos o nosso compromisso Batismal,
estreitando a nossa relação com o Pai, com o Filho e com o Espírito
Santo.
Quando traçamos sobre nós, o sinal da
cruz, meditando cada palavra desta invocação à Santíssima Trindade, podemos ter
a certeza de que: amparados pelo Pai, fortalecidos pelo Filho, e conduzido pelo
Espírito Santo, estaremos imunizados contra todo tipo de mal!
FIQUE NA PAZ DE JESUS! – Olívia Coutinho
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União com Cristo e o Pai no Espírito
Nos
domingos anteriores, as leituras tomadas do evangelho de João
nos ensinaram que a comunhão do Pai e do Filho, da qual nós
participamos no amor, significa também missão: missão do Filho ao mundo,
missão dos fiéis para “completar” o amor de Deus pelo amor fraterno,
presente na comunidade e, através dela, levado ao mundo todo.
Este quadro joanino serve muito bem para interpretar os textos da
liturgia de hoje, embora sejam tomados de outros escritos. A visão
joanina nos revela a profundidade escondida naquilo que Mateus e
Paulo nos dizem hoje.
Mt
narra que, depois de sua ressurreição, o Pastor escatológico reuniu
(“precedeu”) seu rebanho na Galiléia (evangelho; cf. Mc 14,26-27;
16,7). Os onze encontram Jesus na Galiléia, na “montanha” (a do início de sua
missão: cf. Mt 5, lss). Alguns nem o reconhecem. Aí, Jesus se revela como o
Filho do Homem, a quem é “dado todo o poder no céu e na terra” (cf. Dn 7). Não
é um Filho do Homem militaresco, mas profético; seu poder é ensinar. Este
poder, confia-o aos discípulos, que devem ir a todos os povos e torná-los
discípulos de Jesus, o que implica: 1) batizá-los em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo; e, 2) ensinar-lhes a observar tudo quanto lhes ordenou. O
batizar significa a acolhida na comunidade, sem a qual é impossível tomar
alguém discípulo de Jesus, pois seu mandamento, o amor fraterno, só se aprende
na prática mútua; aprender o mandamento do amor sozinho seria como jogar xadrez
consigo mesmo …
Ora,
esse acolhimento na comunidade deve ser “em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”. Temos, no N.T., vestígios de outras fórmulas batismais, mencionado só o
Cristo, ou Cristo e o Pai. Mas Mt prefere a fórmula trinitária, porque o
acolhimento na comunidade é a entrada na comunhão do Cristo, e esta é de per si
comunhão com o Pai, no Espírito que impeliu Jesus para sua missão (Mt 4, 1; cf.
3,17) e que é dado a seus seguidores (cf. Mt 3,11).
O
Espírito que recebemos é o mesmo Espírito que Cristo recebeu no seu batismo e
com o qual ele nos batiza. A 2ª leitura explica isso de modo comovente. Paulo
parte da realidade batismal: o ser impelido pelo Espírito de Deus (Rm 8,14).
Isso não é apenas entusiasmo carismático, mas filiação divina (cf. o batismo de
Jesus, Mt 3,17). Recebemos um Espírito de filhos adotivos (o filho legítimo é
Jesus) – de filhos e co-herdeiros! O Espírito de Cristo clama “em nosso
espírito” (jogo de palavras): “Abbá, Pai!” Paulo insiste em que este
Espírito é de liberdade, não de escravidão. O que é de Deus e foi confiado a
Cristo, é nosso também. Nada nos é imposto contra nossa vontade. Assumimos
livremente, porque amamos, como filhos a seu Pai.
Na
realidade, a prática da Igreja nem sempre realiza as características da missão
evangelizadora descrita nestes textos. Muitas vezes, pertencer à comunidade
cristã é experimentado como um peso, um dever, não como o espírito da filiação
divina que nos impele e que nos une intimamente com o Pai e os irmãos. Em vez
de nos sentirmos “com Cristo”, na comunidade dos que são seus discípulos e
irmãos, sentimo-nos oprimidos por uma pirâmide de convenções. As gerações de
discípulos, em vez de serem irmãos unidos num mesmo Espírito libertador,
parecem ter acumulado leis e leizinhas, instituições e instituiçõezinhas,
impelindo os novos membros a entrar, não pelo impulso do Espírito, mas por
tradição e conveniência. Não seria bom “ventilar” um pouco de Espírito na
Igreja, para que, livres com Cristo, observemos sua palavra e com ele amemos a
Deus e os irmãos, impelidos por seu Espírito?
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Terminado
o tempo pascal com a solenidade de Pentecostes, a liturgia celebra a santíssima
Trindade. Após proclamar nos santos mistérios que o Pai entregou o Filho por
amor ao mundo na potência do Espírito Santo e, no mesmo Espírito Eterno, o
ressuscitou dos mortos para nossa salvação, a Solenidade de agora é um modo que
a Igreja encontra para louvar, engrandecer e adorar na proclamação exultante, o
amor sem fim da Trindade Santa.
Estejamos
atentos: por confessar a fé na Trindade, os cristãos têm um modo absolutamente
original de compreender Deus. Os judeus sabem que Deus é um só; aquele que os
arrancou da terra do Egito, da casa da servidão. Ouvimos falar dele na
primeira leitura: Reconhece hoje e grava em teu coração, que o Senhor é o Deus
lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele". Os
muçulmanos afirmam que não há outro Deus a não ser o único Deus de Abraão.
Neste sentido, esta é também a nossa fé. Deus é um só, uma Essência eterna,
infinita, onipotente, imutável. Deus é absolutamente um, que não pode ser
multiplicado nem dividido: ele é Amor todo inteiro, inteiro na Beleza, inteiro
na infinitude, inteiro na Onipotência e na Onipresença. Pois bem, como os
judeus e como os muçulmanos nós confessamos firmemente que só há um Deus, absolutamente
uno, Senhor do céu e da terra, diferente e para além de tudo quanto existe, de
tudo quanto possamos compreender e imaginar.
No
entanto, contemplando Jesus ressuscitado, todo glorificado, todo divinizado na
sua natureza humana por obra do Espírito de Deus, nós proclamamos com o Novo
Testamento e todas as gerações cristãs, que o nosso Salvador, o nosso Jesus
amado, é Deus bendito pelos séculos, enviado pelo Pai, que é Deus, para nossa
salvação; enviado na potência do Espírito que é também divino e divinizante,
Paráclito que não é algo de Deus, mas Alguém de Deus, uma Pessoa, na qual o Pai
ressuscitou o Filho Jesus e, habitando em nós, dá testemunho da divindade do
Pai e do Filho, enche-nos de vida divina, guia-nos, sustenta-nos, ilumina-nos.
Ouviram, amados, as palavras de são Paulo na segunda leitura? Davam testemunho
das Três divinas pessoas: do Pai que enviando em nós o Espírito do Filho nos
faz filhos no bendito e único filho Jesus. Eis o que dizia o Apóstolo: "O
próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de
Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros de
Cristo"... Então, eis a nossa fé, que transborda a humana lógica,
transcende o balbuciar de nossa pobre linguagem, ultrapassa nossos limitados e
tateantes paradigmas: Deus é um só, absolutamente. Enquanto a natureza humana,
apesar de genericamente uma só, se multiplica nos indivíduos humanos, a
natureza divina é absolutamente una, indivisível e imultiplicável, una não só
genérica, mas também numericamente; e, no entanto, essa natureza é, ao mesmo
tempo e perfeitamente, Pai, Filho e Santo Espírito. A natureza divina está
todinha no Pai e, incompreensivelmente, todinha no Filho e, ainda, todinha no
Espírito Santo. A unidade em Deus é incompreensível, absolutamente perfeita e
eterna. Assim sendo, em Deus não há três vontades iguais, mas uma só vontade;
não há três poderes iguais, mas um só poder, não três consciências iguais, mas
uma só consciência. Mais uma vez: Deus é absolutamente Um! E, no entanto, os
três divinos são absolutamente diversos: só o Pai gera, só o Filho é gerado, só
o Espírito é a própria Geração; só o Pai é o Amante, só o Filho é o Amado, só o
Espírito é o Amor.
E
neste amor que circula de modo eterno, perfeito e feliz, o Pai, eterno Amante,
tudo criou através do Filho, eterno Amado, na potência do Espírito Santo,
eterno Amor. E, por isso, o mundo existe, as estrelas brilham, a vida brota e,
sobretudo, nós existimos. Vimos do Pai, pelo Filho, no Espírito; vivemos no Pai
pelo Filho no Espírito; vamos para o Pai, através do Filho no Espírito,
Trindade Santa, nossa vida e plenitude eterna. É assim que os cristãos
confessam o seu Deus como eterno amor, amor vivo e circulante que, gratuita e
livremente, se derrama sobre o mundo e sobre a nossa vida. De fato, nós
conhecemos o amor de Deus e sua vida íntima porque o Pai amou tanto o mundo, a
ponto de enviar o seu Filho e, pelo Filho, derramou no nosso coração o Espírito
do Filho que, em nós, clama Abbá, Pai. Por isso, podemos dizer que Deus é amor
e, quem não ama, não conhece a Deus! E toda esta vida divina, amados, nos é
dada desde o Batismo, quando fomos mergulhados no nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo; e cresce em nós a cada dia, nos sacramentos e na vida cristã,
preparando-nos para nosso destino eterno: plenos do Espírito, sermos totalmente
inseridos no Cristo e nele configurados, para contemplar eternamente o Pai!
Eis
um pouquinho, um balbuciar do mistério da santa, consubstancial e eterna
Trindade, a quem a glória e o louvor pelos séculos dos séculos.
dom Henrique Soares da Costa
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A
solenidade que hoje celebramos não é um convite a decifrar o mistério que se
esconde por detrás de "um Deus em três pessoas"; mas é um convite a
contemplar o Deus que é amor, que é família, que é comunidade e que criou os
homens para os fazer comungar nesse mistério de amor.
Na
primeira leitura, Jahwéh revela-se como o Deus da relação, empenhado em
estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um Deus que vem ao
encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos seguros de
liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas dos homens,
que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos oprime e para
nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira.
A
segunda leitura confirma a mensagem da primeira: o Deus em quem acreditamos não
é um Deus distante e inacessível, que se demitiu do seu papel de Criador e que
assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos homens; mas é um Deus
que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que não desiste de oferecer
aos homens a vida plena e definitiva.
No
Evangelho, Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para
se vincular com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os
discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no
meio do mundo e são enviados a apresentar, a todos os homens e mulheres, sem
excepção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária.
1
leitura – Dt. 4,32-34.39-40 - AMBIENTE
O
livro do Deuteronômio é aquele "livro da Lei" ou "livro da
Aliança" descoberto no Templo de Jerusalém no 18° ano do reinado de Josias
(622 a.C., cf. 2Re. 22). Neste livro, os teólogos deuteronomistas - originários
do Norte (Israel) mas, entretanto, refugiados no sul (Judá) após as derrotas
dos reis do norte frente aos assírios - apresentam os dados fundamentais da sua
teologia: há um só Deus, que deve ser adorado por todo o Povo num único local
de culto (Jerusalém); esse Deus amou e elegeu Israel e fez com Ele uma aliança
eterna; e o Povo de Deus deve ser um único Povo, a propriedade pessoal de
Jahwéh (portanto, não têm qualquer sentido as questões históricas que levaram o
Povo de Deus à divisão política e religiosa, após a morte do rei Salomão).
Literariamente,
o livro apresenta-se como um conjunto de três discursos de Moisés, pronunciados
nas planícies de Moab. Pressentindo a proximidade da sua morte, Moisés deixa ao
Povo uma espécie de "testamento espiritual": lembra aos hebreus os compromissos
assumidos para com Deus e convida-os a renovar a sua aliança com Jahwéh.
O
texto que hoje nos é proposto apresenta-se como parte do primeiro discurso de
Moisés (cf. Dt. 1,6-4,43). Na primeira parte desse discurso (cf. Dt. 1,6-3,29),
em estilo narrativo, o autor deuteronomista põe na boca de Moisés um resumo da
história do Povo, desde a estadia no Horeb/Sinai, até à chegada ao monte Pisga,
na Transjordânia; na parte final desse discurso (cf. Dt. 4,1-43), o autor
apresenta, em estilo exortativo, um pequeno resumo da Aliança e das suas
exigências. Esta secção final do primeiro discurso de Moisés começa com a
expressão "e agora, Israel 0, que enlaça esta secção com a precedente:
mostra-se que o compromisso que agora se pede a Israel se apóia nos acontecimentos
históricos anteriormente expostos. A ação de Deus ao longo da caminhada do Povo
pelo deserto deve conduzir ao compromisso.
O
capítulo 4 do livro do Deuteronômio é um texto redigido, muito provavelmente,
na fase final do Exílio do Povo de Deus na Babilônia. Perdido numa terra
estrangeira e mergulhado numa cultura estranha, hostilizado quando tentava
afirmar a sua fé em Jahwéh e celebrá-la através do culto, impressionado com o
esplendor ritual e as solenidades do culto babilônico, o Povo bíblico corria o
risco de trocar Jahwéh pelos deuses babilônicos. É neste contexto que os
teólogos da escola deuteronomista vão convidar o Povo a olhar para a sua
história, a redescobrir nela a presença salvadora e amorosa de Jahwéh e a
comprometer-se de novo com Deus e com a Aliança.
MENSAGEM
No
trecho que nos é proposto, o autor deuteronomista começa por convidar Israel a
contemplar a história "desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra
"o resultado dessa contemplação é a constatação do contínuo empenho de
Jahwéh no sentido de oferecer ao seu Povo a vida e a salvação.
Toda
a história da relação entre Deus e Israel é uma extraordinária história de
relação, na qual se manifesta o amor de um Deus empenhado em estabelecer
comunhão e familiaridade com o seu Povo. Jahwéh escolheu Israel de entre todos
os povos da terra, veio ao seu encontro, falou-lhe ao coração e realizou gestos
destinados a trazer ao Povo ao encontro da vida. De mil formas, Deus fez ouvir
a sua voz, indicou caminhos, conduziu o seu Povo da escravidão para a
liberdade.
Como
é que Israel se deve situar diante deste Deus? Como é que o Povo deve responder
aos apelos de Deus?
Na
perspectiva do teólogo deuteronomista, Israel deve, em primeiro lugar,
reconhecer que "só o Senhor é Deus e que não há outro". D'Ele e só
d'Ele brotam a vida, a salvação, a felicidade, a liberdade. Esta constatação
convida o Povo a não colocar a sua esperança e a sua realização noutros deuses,
noutras propostas ilusórias e enganadoras. Israel deve, em segundo lugar,
cumprir as leis e os mandamentos de Deus, pois essas leis e mandamentos são o
caminho seguro para a felicidade.
Este
"caminho" aqui apontado aos crentes de Israel (e aos crentes de todas
as épocas e lugares) não é um caminho de dependência e de servidão; mas é um
caminho de felicidade. Deus não se imiscui na vida dos homens para os tornar
dependentes, mas para os libertar e para os levar à vida verdadeira, à
felicidade plena.
ATUALIZAÇÃO
+
Quem é Deus? Como é Ele? Qual a sua relação com os homens? O Deus em quem
acreditamos é um Deus sensível aos problemas dos homens e que Se preocupa em
percorrer com eles um caminho de amor e de relação, ou é um Deus insensível e
distante, que olha com enfado e indiferença o caminho que percorremos e que Se
recusa a sujar as mãos com a nossa humanidade? Trata-se de um Deus capaz de
amar os homens e de aceitar, com misericórdia, as nossas falhas, ou de um Deus
intolerante, duro e insensível, que castiga sem piedade qualquer deslize do
homem? A Solenidade da Santíssima Trindade é, antes de mais, um convite a
descobrir o verdadeiro rosto de Deus. A primeira leitura deste domingo dá-nos algumas
pistas para perceber Deus e para reconhecer o seu verdadeiro rosto.
+
Nesta catequese do livro do Deuteronômio, Jahwéh revela-Se como o Deus da
relação, empenhado em estabelecer comunhão e familiaridade com o seu Povo. É um
Deus que vem ao encontro dos homens, que lhes fala, que lhes indica caminhos
seguros de liberdade e de vida, que está permanentemente atento aos problemas
dos homens, que intervém no mundo para nos libertar de tudo aquilo que nos
oprime e para nos oferecer perspectivas de vida plena e verdadeira. Por vezes,
ao longo da nossa caminhada pela vida, sentimo-nos sós e perdidos, afogados nas
nossas dúvidas, misérias e dramas, assustados e inquietos face ao rumo que a
história segue. Mas a certeza da presença amorosa, salvadora e reconfortante de
Deus deve ser uma luz de esperança que ilumina o nosso caminho e que nos
permite encarar cada passo da nossa existência com alegria e serenidade.
+
O catequista deuteronomista garante que Jahwéh é o único Deus capaz de realizar
estas obras em favor do homem e que só n'Ele o homem encontra a verdadeira vida
e a verdadeira liberdade. Esta afirmação convida-nos a refletir sobre o papel
que outros "deuses" (bem mais falíveis, bem menos dignos de
confiança) desempenham na nossa existência. Em quem é que pomos a nossa
esperança? Esses "deuses" que tantas vezes nos seduzem (o dinheiro, o
poder, a fama, o sucesso, o reconhecimento social, os valores da moda) que
tantas vezes atraem a nossa atenção e condicionam as nossas opções, são
verdadeiramente garantia de vida e de felicidade? Esses "deuses"
trazem-nos liberdade e esperança ou escravidão e alienação?
+
O autor do texto que nos é proposto convida o Povo a cumprir as leis e os
mandamentos que Deus propõe; e garante que as propostas de Deus são o caminho seguro
para a felicidade e para a realização plena do homem. Os mandamentos não são
propostas destinadas a limitar a nossa liberdade e a prender-nos a um deus
ciumento e castrador; mas são sugestões de um Deus que nos ama, que quer a
nossa felicidade e realização plena e que, no respeito absoluto pela nossa
liberdade, não desiste de nos indicar o caminho para a verdadeira vida.
2ª
leitura- Romanos 8,14-17 - AMBIENTE
A
carta aos Romanos é um texto sereno e amadurecido, escrito por Paulo por volta
do ano 57/58 e no qual o apóstolo apresenta uma síntese da sua mensagem e da
sua pregação. O pretexto para a carta é um projeto de passagem por Roma, a
caminho de Espanha (cf. Rm. 16,23-24): Paulo sente que terminou a sua missão no
oriente e quer anunciar o Evangelho de Jesus no ocidente.
Na
verdade, esse projeto de passagem por Roma parece ser, sobretudo, um pretexto
para Paulo se dirigir aos Romanos e para lhes expor as suas ideias acerca da
salvação. Na comunidade cristã de Roma - como, aliás, em quase todas as comunidades
cristãs de então - havia divergências entre cristãos vindos do judaísmo e
cristãos vindos do paganismo acerca do caminho cristão. Para os judeo-cristãos,
a salvação dependia, além da fé em Cristo, da prática da Lei de Moisés; para os
pagano-cristãos, a adesão a Cristo bastava. A uns e a outros, Paulo vai
apresentar o essencial da mensagem cristã. O apóstolo insiste, sobretudo, no
fato de a salvação não ser uma conquista do homem (que resulta dos atos ou dos
méritos do homem), mas um dom do amor de Deus. Na verdade, todos os homens
vivem mergulhados no pecado, pois o pecado é uma realidade universal (cf. Rm.
1,18-3,20); mas Deus, na sua bondade, a todos "justifica" e salva
(cf. Rm. 3,1-5,11); e essa salvação é oferecida por Deus ao homem através de Jesus
Cristo; ao homem, resta aderir a essa proposta de salvação, na fé (cf. Rm.
5,12-8,39).
O
texto que hoje nos é proposto faz parte de um capítulo em que Paulo reflete
sobre a vida nova que Deus oferece ao batizado e que Paulo chama "a vida
no Espírito". O pensamento teológico de Paulo atinge, neste capítulo, um
dos seus pontos culminantes, pois todos os grandes temas paulinos (o projeto
salvador de Deus em favor dos homens; a ação libertadora de Cristo, através da
sua vida de doação, da sua morte e da sua ressurreição; a nova vida que faz dos
crentes Homens Novos e os torna filhos de Deus) se cruzam aqui.
Paulo
procura, de forma especial, mostrar que os cristãos, libertos da Lei, do pecado
e da morte por Jesus Cristo, deixaram a vida velha da "carne" (que é
viver em oposição a Deus, numa vida da egoísmo, de auto-suficiência, de
orgulho, de fechamento) para viverem a vida nova do Espírito (que é viver em
relação com Deus, escutando as suas propostas e sugestões, na obediência aos
projetos de Deus e na doação da própria vida aos irmãos).
MENSAGEM
O
crente que acolhe a proposta de salvação que Deus faz em Jesus vive "no
Espírito". Aceitar essa proposta de vida é aceitar uma vida de relação e
de comunhão com Deus. Nessa relação, o crente é alimentado com a vida de Deus.
Os
que aceitam receber a vida de Deus e vivem "no Espírito" são
"filhos de Deus": Deus é, para eles, um Pai que continuamente os cria
e lhes dá vida. A partir de então, os crentes integram a "família de
Deus". Não são escravos que vivem no medo de um patrão ciumento e exigente
(como era a Lei de Moisés); mas são "filhos" queridos, que Deus ama
com amor infinito. Ao dirigirem-se a Deus, os crentes podem usar, com
propriedade, a palavra "abba" (a palavra com que, familiarmente, as
crianças se dirigem ao pai e que pode traduzir-se como "papá") -
expressão de intimidade filial, que define uma relação marcada pelo amor, pela
familiaridade, pela confiança, pela ternura.
A
condição de "filhos" equipara os crentes com Cristo. Eles tornam-se,
assim, "herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo". Qual é essa
"herança" que lhes está reservada? É a vida plena e definitiva, que
Deus oferece àqueles que aceitaram a proposta de Cristo e percorreram com Ele o
caminho do amor, da doação, da entrega da vida.
O
nosso Deus é, de acordo com a catequese de Paulo, o Deus da relação, apostado
em vir ao encontro dos homens, em oferecer-lhes vida, em integrá-los na sua
família, em amá-los com amor de Pai, em torná-los herdeiros da vida plena e
definitiva.
ATUALIZAÇÃO
+
Mais uma vez a Palavra que nos é proposta reafirma esta realidade: o Deus em
quem acreditamos não é um Deus distante e inacessível, que Se demitiu do seu
papel de criador e que assiste com indiferença e impassibilidade aos dramas dos
homens; mas é um Deus que acompanha com paixão a caminhada da humanidade e que
não desiste de oferecer aos homens a vida plena e verdadeira. Há, ao longo da
nossa caminhada pela vida, momentos de solidão e de desespero, em que
procuramos Deus e não conseguimos descortinar a sua presença; mas, sobretudo
nesses momentos dramáticos, é preciso não esquecer que Deus nunca desiste dos
seus filhos e que nenhum de nós Lhe é indiferente.
+
À oferta de vida que Deus faz, o homem pode responder positiva ou
negativamente. Se o homem preferir recusar a vida que Deus oferece e trilhar
caminhos de egoísmo, de orgulho e de auto-suficiência, está a rejeitar a
possibilidade de aceder à vida plena e verdadeira; se o homem estiver
disponível para acolher a salvação que Deus oferece em Jesus, torna-se herdeiro
da vida eterna. Em que situação é que eu me coloco, diante dos dons de Deus?
+
Os membros da comunidade cristã, que pelo batismo aderiram ao projeto de
salvação que Deus apresentou aos homens em Jesus e cuja caminhada é animada
pelo Espírito, integram a família de Deus. O fim último da nossa caminhada é a
pertença à família trinitária.
+
Esta "vocação" deve expressar-se na nossa vida comunitária. A nossa
relação com os irmãos deve refletir o amor, a ternura, a misericórdia, a
bondade, o perdão, o serviço, que são as consequências práticas do nosso
compromisso com a comunidade trinitária. É isso que acontece? As nossas
relações comunitárias refletem esse amor que é a marca da "família de
Deus"?
Evangelho
- Mt. 28,16-20 - AMBIENTE
O
texto situa-nos na Galileia, após a ressurreição de Jesus (embora não se diga
se é muito ou pouco tempo após a descoberta do túmulo vazio - cf. Mt. 28,1-15).
De acordo com Mateus, Jesus, pouco antes de ser preso, havia marcado encontro
com os discípulos na Galileia (cf. Mt. 26,32); na manhã da Páscoa, os anjos que
apareceram às mulheres no sepulcro (cf. Mt. 28,7) e o próprio Jesus, vivo e
ressuscitado (cf. Mt. 28,10), renovam o convite para que os discípulos se
dirijam à Galileia, a fim de lá encontrar o Senhor.
A
Galileia - região setentrional da Palestina - era uma região próspera e bem
povoada, de solo fértil e bem cultivado. A sua situação geográfica fazia desta
região o ponto de encontro de muitos povos; por isso, um número importante de
pagãos fazia parte da sua população. A coabitação de populações pagãs e judias
fazia, certamente, com que os judeus da Galileia vivessem a religião de uma
maneira diferente dos judeus de Jerusalém e da Judeia: a presença diária dos
pagãos conduzia, provavelmente, os galileus a suavizar a sua prática da Lei e a
interpretar mais amplamente as regras que se referiam, por exemplo, às
impurezas rituais contraídas pelo contacto com os não judeus. No entanto, isto
fazia com que os judeus de Jerusalém desprezassem os judeus da Galileia e
considerassem que da Galileia "não podia sair nada de bom".
No
entanto, foi na Galileia que Jesus viveu quase toda a sua vida. Foi também na
Galileia que Ele começou a anunciar o Evangelho do "Reino" e que
começou a reunir à sua volta um grupo de discípulos (cf. Mt. 4,12-22). Para
Mateus, esse fato sugere que a o anúncio libertador de Jesus tem uma dimensão
universal: destina-se a judeus e pagãos.
Mateus
situa este encontro final entre Jesus ressuscitado e os discípulos, num
"monte que Jesus lhes indicara". Trata-se, no entanto, de uma
montanha da Galileia que é impossível identificar geograficamente, mas que
talvez Mateus ligue com a montanha da tentação (cf. Mt 4,8) e com a montanha da
transfiguração (cf. Mt. 17,1). De qualquer forma, o "monte" é sempre,
no Antigo Testamento, o lugar onde Deus se revela aos homens.
MENSAGEM
O
texto que descreve o encontro final entre Jesus e os discípulos divide-se em
duas partes.
Na
primeira (vs. 16-18), descreve-se o encontro. Jesus, vivo e ressuscitado,
revela-se aos discípulos; e os discípulos reconhecem-n'O como "o
Senhor" e adoram-n'O. Depois de descrever a adoração, Mateus acrescenta
uma expressão que alguns traduzem como "alguns ainda duvidaram" e
outros como "eles que tinham duvidado" (gramaticalmente, ambas as
traduções são possíveis). No primeiro caso, a expressão significaria que a fé
não é uma certeza científica e que não exclui a dúvida; no segundo caso, a
expressão aludiria a essa dúvida constante dos discípulos - expressa em vários
momentos, ao longo da caminhada para Jerusalém - e que aqui perde qualquer
razão de ser.
Ao
reconhecimento e à adoração dos discípulos, segue-se uma manifestação do
mistério de Jesus, que reflete a fé da comunidade de Mateus: Jesus é o
"Kyrios", que possui todo o poder sobre o mundo e sobre a história;
Jesus é "o mestre", cujo ensinamento será sempre uma referência para
os discípulos; Jesus é o "Deus conosco", que acompanhará, passo a
passo, a caminhada dos discípulos pela história.
passo, a caminhada dos discípulos pela história.
Na
segunda (vs. 19-20), Mateus descreve o envio dos discípulos em missão pelo
mundo. A Igreja de Jesus é, essencialmente, uma comunidade missionária, cuja
missão é testemunhar no mundo a proposta de salvação e de libertação que Jesus
veio trazer aos homens e que deixou nas mãos e no coração dos discípulos. A
primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da
universalidade da missão dos discípulos destina-se a "todas as
nações".
A
segunda nota dá conta das duas fases da iniciação cristã, conhecidas da
comunidade de Mateus: o ensino e o batismo. Começava-se pela catequese, cujo
conteúdo eram as palavras e os gestos de Jesus (o discípulo começava sempre
pelo catecumenato, que lhe dava as bases da proposta de Jesus). Quando os
discípulos estavam informados da proposta de Jesus, vinha o batismo - que
selava a íntima vinculação do discípulo com o Pai, o Filho e o Espírito Santo
(era a adesão à proposta anteriormente feita).
Uma
última nota: Jesus estará sempre com os discípulos, "até ao fim dos
tempos". Esta afirmação expressa a convicção - que todos os crentes da
comunidade mateana possuíam - que Jesus ressuscitado estará sempre com a sua
Igreja, acompanhando a comunidade dos discípulos na sua marcha pela história,
ajudando-a a superar as crises e as dificuldades da caminhada.
ATUALIZAÇÃO
+
Este texto evangélico foi escolhido para o dia da Santíssima Trindade, pois
nele aparece uma fórmula trinitária usada no batismo cristão ("em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo"). O nosso texto sugere, antes de mais,
que ser batizado é estabelecer uma relação pessoal com a comunidade
trinitária… No dia em que fomos batizados, comprometemo-nos com Jesus e
vinculamo-nos com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A minha
vida tem sido coerente com esse compromisso?
+
Quem acolheu o convite de Deus (apresentado em Jesus) para integrar a
comunidade trinitária, torna-se testemunha, no meio dos homens, dessa vida nova
que Deus oferece. O papel dos discípulos é continuar a missão de Jesus,
testemunhar o amor de Deus pelos homens e convidar os homens a integrar a
família de Deus. Os irmãos com quem nos cruzamos pelos caminhos da vida recebem
essa mensagem? As nossas palavras e os nossos gestos testemunham esse amor com
que Deus ama todos os homens? As nossas comunidades são a imagem viva da
família de Deus e apresentam um convite credível e convincente aos homens para
que integrem a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo?
+
A missão que Jesus confiou aos discípulos - introduzir todos os homens na
família de Deus - é uma missão universal: as fronteiras, as raças, a
diversidade de culturas, não podem ser obstáculo para a presença da proposta
libertadora de Jesus no mundo. Todos os homens e mulheres, sem exceção, têm
lugar na família de Deus. Tenho consciência de que Jesus me envia a todos os
homens - sem distinção de raças, de etnias, de diferenças religiosas, sociais
ou econômicas - a anunciar-lhes o amor de Deus e a convocá-los para integrar a
comunidade trinitária? Tenho consciência de que sou chamado a apresentar a
todos os homens - mesmo àqueles que habitam no outro lado do mundo - o convite
para integrar a família de Deus?
+
Num mundo onde Deus nem sempre faz parte dos planos e das preocupações dos
homens, testemunhar o amor de Deus e apresentar aos homens o convite para
integrar a família de Deus é um enorme desafio. O confronto com o mundo gera
muitas vezes, nos discípulos, desilusão, sofrimento, frustração… Nos momentos
de decepção e de desilusão convém, no entanto, recordar as palavras de Jesus:
"Eu
estarei convosco até ao fim dos tempos". Esta certeza deve alimentar a
coragem com que testemunhamos aquilo em que acreditamos.
+
A celebração da solenidade da Trindade não pode ser a tentativa de compreender
e decifrar essa estranha charada de "um em três". Mas deve ser,
sobretudo, a contemplação de um Deus que é amor e que é, portanto, comunidade.
Dizer que há três pessoas em Deus, como há três pessoas numa família - pai, mãe
e filho - é afirmar três deuses e é negar a fé; inversamente, dizer que o Pai,
o Filho e o Espírito são três formas diferentes de apresentar o mesmo Deus,
como três fotografias do mesmo rosto, é negar a distinção das três pessoas e é
também negar a fé. A natureza divina de um Deus amor, de um Deus família, de um
Deus comunidade, expressa-se na nossa linguagem imperfeita das três pessoas. O
Deus família torna-Se trindade de pessoas distintas, porém unidas. Chegados
aqui, temos de parar, porque a nossa linguagem finita e humana não consegue
"dizer" o indizível, não consegue definir cabalmente o mistério de
Deus.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
=======================================
A
Igreja celebra hoje o mistério central da nossa fé, a Santíssima Trindade,
fonte de todos os dons e graças, mistério inefável da vida íntima de Deus. A
liturgia da Missa convida-nos a chegar ao trato íntimo com cada uma das Três
Divinas Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A festa foi estabelecida
para todo o Ocidente em 1334 pelo Papa João XXII, e ficou fixada para o domingo
depois da vinda do Espírito Santo.
I. Tibi
laus, tibi gloria, tibi gratiarum actio... “A Ti o louvor, a Ti a
glória, a Ti a ação de graças pelos séculos dos séculos, ó Trindade Beatíssima”
(1).
Depois
de ter renovado os mistérios da salvação – desde o nascimento de Cristo em
Belém até a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes –, a liturgia
propõe-nos o mistério central da nossa fé: a Santíssima Trindade, fonte de
todos os dons e graças, mistério inefável da vida íntima de Deus.
Pouco
a pouco, com uma pedagogia divina, Deus foi manifestando a sua realidade
íntima, foi-nos revelando como Ele é em si, independente de todas as coisas
criadas. No Antigo Testamento, dá a conhecer sobretudo a Unidade do seu Ser,
bem como a sua completa distinção do mundo e o seu modo de relacionar-se com
ele, como Criador e Senhor. Ensina-nos de muitas maneiras que é incriado, que
não está limitado a um espaço (é imenso), nem ao tempo (é eterno). O seu poder
não tem limites (é onipotente): Reconhece, pois, e medita hoje no teu coração –
convida-nos a liturgia – que o Senhor é o único Deus desde o alto dos céus até
ao mais profundo da terra, e que não há outro2. Somente Tu, Senhor.
O
Antigo Testamento proclama sobretudo a grandeza de Javé, único Deus, Criador e
Senhor de todo o Universo. Mas também revela-o como pastor que busca o seu
rebanho, que cuida dos seus com mimo e ternura, que perdoa e esquece as
freqüentes infidelidades do Povo eleito... Ao mesmo tempo, vai manifestando a
paternidade de Deus Pai, a Encarnação de Deus Filho, que é anunciada pelos
profetas, e a ação do Espírito Santo, que vivifica todas as coisas.
Mas
é Cristo quem nos revela a intimidade do mistério trinitário e o convite para
que participemos dele. Ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o
Filho o quiser revelar3. Ele revelou-nos também a existência do Espírito Santo
junto com o Pai e enviou-o à Igreja para que a santificasse até o fim dos
tempos; e revelou-nos a perfeitíssima Unidade de vida entre as Pessoas
divinas4.
O
mistério da Santíssima Trindade é o ponto de partida de toda a verdade revelada
e a fonte de que procede a vida sobrenatural e para a qual nos encaminhamos:
somos filhos do Pai, irmãos e co-herdeiros do Filho, santificados continuamente
pelo Espírito Santo para nos assemelharmos cada vez mais a Cristo. Assim
crescemos no sentido da nossa filiação divina. Assim nos convertemos em templos
vivos da Santíssima Trindade.
Por
ser o mistério central da vida da Igreja, a Santíssima Trindade é continuamente
invocada em toda a liturgia. Fomos batizados em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo, e em seu nome perdoam-se os pecados; ao começarmos e ao
terminarmos muitas orações, dirigimo-nos ao Pai, por mediação de Jesus Cristo,
na unidade do Espírito Santo. Muitas vezes ao longo do dia, nós, os cristãos,
repetimos: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
“–
Deus é meu Pai! – Se meditares nisto, não sairás dessa consoladora
consideração.
“–
Jesus é meu Amigo íntimo! (outra descoberta), que me ama com toda a divina
loucura do seu Coração.
“–
O Espírito Santo é meu Consolador!, que me guia nos passos de todo o meu
caminho.
“Pensa
bem nisso. – Tu és de Deus..., e Deus é teu”5.
II.
A vida divina – da qual fomos chamados a participar – é fecundíssima. O Pai
gera o Filho eternamente, e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Esta
geração do Filho e a espiração do Espírito Santo não são algo que tenha
acontecido num momento determinado, deixando como fruto estável as Três Divinas
Pessoas: essas procedências (os teólogos chamam-nas “processões”) são eternas.
No
caso das gerações humanas, um pai gera um filho, mas esse pai e esse filho
permanecem depois do ato gerador; o homem que é pai não é somente “pai”: antes
e depois de gerar, é “homem”. Mas a essência de Deus Pai está em que todo o seu
ser consiste em dar a vida ao Filho. Isso é o que o determina como Pessoa
Divina, distinta das outras. Na vida natural, o filho que é gerado tem a sua
realidade própria, mas a essência do Unigênito de Deus é precisamente ser
Filho6. Em Deus, a Paternidade, a Filiação e a Espiração constituem todo o ser
do Pai, do Filho e do Espírito Santo7.
Desde
que o homem é chamado a participar da própria vida divina pela graça recebida
no Batismo, está destinado a participar cada vez mais dessa Vida. É um caminho
que é preciso percorrer continuamente. Do Espírito Santo recebemos constantes
impulsos, moções, luzes, inspirações para avançarmos mais depressa por esse
caminho que conduz a Deus, para estarmos numa “órbita” cada vez mais próxima do
Senhor. “O coração necessita então de distinguir e adorar cada uma das Pessoas
divinas. De certa maneira, o que a alma realiza na vida sobrenatural é uma
descoberta semelhante às de uma criaturinha que vai abrindo os olhos à
existência. E entretém-se amorosamente com o Pai e com o Filho e com o Espírito
Santo; e submete-se facilmente à atividade do Paráclito vivificador, que se nos
entrega sem o merecermos: os dons e as virtudes sobrenaturais!
“Corremos
como o cervo, que anseia pelas fontes das águas (Ps XLI, 2); com sede, gretada
a boca, ressequida. Queremos beber nesse manancial de água viva. Sem
esquisitices, mergulhamos ao longo do dia nesse veio abundante e cristalino de
frescas linfas que saltam até a vida eterna (cfr. Ioh IV, 14). Sobram as
palavras, porque a língua não consegue expressar-se; começa a serenar-se a
inteligência. Não se raciocina, fita-se! E a alma rompe outra vez a cantar com
um cântico novo, porque se sente e se sabe também fitada amorosamente por Deus,
em todos os momentos” (8).
III.
A SANTÍSSIMA TRINDADE habita na nossa alma como num templo. E São Paulo faz-nos
saber que o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
que nos foi dado9. E aí, na intimidade da alma, temos de nos acostumar a
relacionar-nos com Deus Pai, com Deus Filho e com Deus Espírito Santo. “Vós,
Trindade eterna, sois mar profundo, no qual quanto mais penetro, mais descubro,
e quanto mais descubro, mais vos procuro”10, dizemos-lhe no recolhimento da
nossa alma.
“Ó
meu Deus, Trindade Santíssima! Extraí do meu pobre ser o máximo rendimento para
a vossa glória e fazei de mim o que quiserdes no tempo e na eternidade. Que eu
jamais levante o menor obstáculo voluntário à vossa ação transformadora [...].
Segundo a segundo, com intenção sempre atual, quereria oferecer-vos tudo quanto
sou e tenho; e que a minha pobre vida fosse, em união íntima com o Verbo
Encarnado, um sacrifício incessante de louvor de glória à Santíssima Trindade
[...]
“Ó
meu Deus, como quereria glorificar-vos! Oh, se em troca da minha completa
imolação, ou de qualquer outra condição, estivesse em minhas mãos incendiar o
coração de todas as vossas criaturas e toda a Criação nas chamas do vosso amor,
como quereria fazê-lo de todo o coração! Que ao menos o meu pobre coração vos
pertença por inteiro, que nada reserve para mim nem para as criaturas, nem uma
só das suas pulsações. Que eu ame imensamente todos os meus irmãos, mas
unicamente convosco, por Vós e para Vós [...]. Desejaria, sobretudo, amar-vos
com o coração de São José, com o Coração Imaculado de Maria, com o Coração
adorável de Jesus. Desejaria, finalmente, submergir nesse Oceano infinito,
nesse Abismo de fogo que consome o Pai e o Filho na unidade do Espírito Santo e
amar-vos com o vosso próprio infinito amor [...].
“Pai
Eterno, Princípio e Fim de todas as coisas! Pelo Coração Imaculado de Maria eu
vos ofereço Jesus, vosso Verbo Encarnado, e por Ele, com Ele e nEle, quero
repetir-vos sem cessar este grito arrancado do mais fundo de minha alma: Pai,
glorificai continuamente o vosso Filho, para que o vosso Filho vos glorifique
na unidade do Espírito Santo pelos séculos dos séculos (cf. Jo 17,1).
“Ó
Jesus, que dissestes: Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o
Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt. 11,27),
“mostrai-nos o Pai, e isso nos basta! (Jo 14,8).
“E
Vós, ó Espírito de Amor!, ensinai-nos todas as coisas (Jo 14,26) e formai com
Maria, em nós, Cristo Jesus (Gl. 4,19), até que sejamos consumados na unidade
(Jo 17,23), no seio do Pai (Jo 1,18). Amém” (11).
Francisco Fernández-Carvajal
FONTE: