Imagine um químico ateu no século
XIX, usando métodos científicos para estudar a água. Depois de realizar seus
experimentos, ele conclui que a água é feita de dois átomos de hidrogênio e um
átomo de oxigênio. Em outras palavras, ele descobre que a água é H20. Ele
utilizou princípios científicos seculares para adquirir um pouco de
conhecimento anteriormente desconhecido para o mundo. Sua descoberta é
anticristã? Viola a verdade bíblica? Esse novo conhecimento é contrário a Deus?
A resposta para todas estas
perguntas é um sonoro “não”. O cientista descobriu algo verdadeiro sobre o
mundo em que nós vivemos. Embora ele não tenha usado uma fonte bíblica ou
religiosa, isto não retira sua credibilidade. Se se descobre que algo é verdadeiro,
é verdade para você, é verdade para mim, e é verdade para Deus. Uma descoberta
científica feita por um ateu é tão verdadeira quanto o ensino bíblico de que
Deus é amor ou de que Cristo morreu pelos nossos pecados. Toda a verdade é
verdade de Deus, independente de como alguém adquire esse conhecimento.
Isto se dá porque a pesquisa
científica é um método epistemológico. Esta é uma forma bonita de dizer que é
uma ferramenta para descoberta de conhecimento sobre o mundo onde vivemos. É
importante lembrar, contudo, que é apenas uma ferramenta e não a única
ferramenta.
Nós podemos aprender sobre nós
mesmos, o mundo e o universo por meio de vários métodos. Podemos usar
testemunhos (relatos de outras pessoas), lógica (2+2=4), introspecção (o que
estou experimentando dentro de mim?) o método científico (observação e
experimentos), pesquisa histórica (estudar relatos escritos do passado), e
revelação divina (a Bíblia). O conhecimento adquirido de qualquer um destes
métodos é igualmente verdadeiro. Na verdade Deus tornou estes métodos
disponíveis a nós. Isto implica nas três seguintes coisas:
1: O método científico não deve
ser contrastado com a revelação bíblica: Como mencionado anteriormente, uma
descoberta científica não é anti-Deus ou anticristã. O conhecimento adquirido
de experimentos e observação nos diz coisas verdadeiras sobre o mundo que até
mesmo Deus considera verdadeiras. É por isso que é frustrante quando a ciência
é contraposta à fé. Não há nada anticientífico acerca da visão de mundo cristã.
Na verdade, devemos esperar que o
conhecimento adquirido da observação do nosso mundo vai se conformar com o
conhecimento oriundo da divina revelação, sempre que ambos se sobreponham. Por
exemplo, a evidência cosmológica moderna indica que o universo começou a existir
em um determinado ponto do passado. Este fato, contudo, foi ensinado no
primeiro capítulo de Gênesis, vários milênios atrás.
Isto não deveria nos surpreender.
Deus fala por meio das Escrituras, ao que nos referimos como revelação
especial. Ele também fala por meio de seu mundo criado, ao que nós chamamos de
revelação geral. Ambas são de Deus e devem validar uma à outra, contanto que
sejam adequadamente interpretadas, o que nos leva ao segundo ponto.
2: Tanto os resultados
científicos quanto a revelação bíblica devem ser interpretados: Eu ouço a frase
“A ciência nos diz que…” com uma certa frequência. Perdoem-me por declarar o
óbvio, mas a ciência não nos diz nada. Ela não é uma pessoa e não pode falar.
Pessoas realizam experimentos e fazem observações. Então elas registram os
resultados. Estes resultados, contudo, são interpretados de diferentes formas
por pessoas com diferentes visões de mundo.
É por isso que é importante
distinguir entre dados científicos e sua interpretação. Por exemplo, a pesquisa
científica revelou que os morcegos tem dois ossos em seu antebraço, assim como
os humanos. Isso é o que os dados revelam. Alguns interpretam estes dados como
evidência de que tanto os morcegos quanto os humanos tem um ancestral em comum
e que a evolução darwiniana levou a uma estrutura de antebraço similar. Outros
interpretam isto como evidência de que tanto os morcegos como os humanos tem um
designer comum, que usou uma estrutura similar em ambas as criaturas.
Também há uma necessidade de
interpretação ao ler as Escrituras. Eu ouço com frequência cristãos declararem
que “Deus claramente diz…” sobre alguma discussão teológica. Deve ficar claro
que as palavras estão em uma passagem bíblica, mas o que estas palavras
significam (sua interpretação) é outra coisa.
Por favor, não entenda que estou
dizendo que a Bíblia é enigmática ou que a interpretação de cada um é
igualmente válida. Este não é o meu ponto. Deus é claro a respeito de sua
mensagem nas Escrituras. Alguns versos que são discutidos, contudo, requerem
uma interpretação mais cuidadosa.
3: Os cristãos devem aprender a
abraçar todos os métodos de descoberta da verdade: A maioria das pessoas não
são cristãs e não consideram as declarações bíblicas como verdadeiras. Se
quisermos ser embaixadores sagazes de Cristo, devemos aprender a usar o
conhecimento adquirido nas Escrituras e os meios seculares como a ciência.
Dessa forma, poderemos persuadir as pessoas usando quaisquer recursos que a
nossa audiência considere autoritativo.
Entender a natureza dual da
revelação de Deus – na Escritura e no mundo criado – ajuda a evitar o erro de
contrapor a ciência à fé, constrói nossa credibilidade perante outros e
alavanca fontes de autoridade que muitos não-crentes consideram críveis. Tudo
isso importa porque o nosso objetivo é o Evangelho, fazê-lo conhecido a todo o
mundo.
Autor: Alan Shlemon
Tradução: Juliana Pellicer Ruza