“O único que viu o Pai é aquele que
vem de Deus”
1ª Leitura: 1Rs 19,4-8
Sl 33
2ª Leitura: Ef 4,30-5-2
Evangelho: Jo 6,41-5141
As autoridades dos judeus
começaram a criticar, porque Jesus tinha dito: «Eu sou o pão que desceu do
céu.» 42 E comentavam: «Esse Jesus não é o filho de José? Nós conhecemos o pai
e a mãe dele. Como é que ele diz que desceu do céu?» 43 Jesus respondeu: «Parem
de criticar. 44 Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai, e eu
o ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito nos Profetas: ‘Todos os homens
serão instruídos por Deus’. Todo aquele que escuta o Pai e recebe sua instrução
vem a mim. 46 Não que alguém já tenha visto o Pai. O único que viu o Pai é
aquele que vem de Deus.
47 Eu garanto a vocês: quem
acredita possui a vida eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Os pais de vocês
comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. 50 Eis aqui o pão que desceu
do céu: quem dele comer nunca morrerá.»
Jesus é o pão que sustenta para sempre
- * 51 E Jesus continuou: «Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste
pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para
que o mundo tenha a vida.»
* 35-50: Jesus se apresenta como
aquele que veio de Deus para dar a vida definitiva aos homens. Seus adversários
não admitem que um homem possa ter origem divina e, portanto, possa dar a vida
definitiva.
* 51-59: A vida definitiva se
encontra justamente na condição humana de Jesus (carne): Jesus é o Filho de
Deus que se encarnou para dar vida aos homens, isto é, para viver em favor dos
homens. A vida definitiva começa quando os homens, comprometendo-se com Jesus,
aceitam a própria condição humana e vivem em favor dos outros. E Jesus dá um
passo além: ele vai oferecer sua própria vida (carne e sangue) em favor dos
homens. Por isso, o compromisso com Jesus exige que também o fiel esteja
disposto a dar a própria vida em favor dos outros.
A Eucaristia é o sacramento que
manifesta eficazmente na comunidade esse compromisso com a encarnação e a morte
de Jesus.
COMENTÁRIO
O pão da vida e a manifestação de
Deus
A invocação da fidelidade de Deus à
sua Aliança, no canto da entrada, cria a atmosfera da mensagem: linha da
atuação divina, que alcança seu auge em Jesus Cristo e se perpetua na vida dos
fiéis.
A 1ª leitura narra a experiência de
“refontização” de Elias. Ele refaz, em sua vida pessoal, a experiência de
Israel. Está para morrer, no deserto. Mas o Deus que alimentou Israel no
deserto, alimenta também Elias. Depois de refeito, quer descansar. Mas Deus o
faz andar, pela força do alimento, 40 dias e 40 noites, até a montanha de Deus.
Repete simbolicamente a caminhada de Israel (40 anos, alimentado por Javé).
Porém, verdadeiro sentido desta história, conforme o quadro da liturgia de
hoje, não se deve procurar naquilo que aconteceu antes de Elias, mas no que
veio depois. A comida de Elias prefigura a comida que tira todo o cansaço. Se
Elias, mortalmente cansado, recebe do pão de Deus força para caminhar 40 dias,
o homem morto pelos impasses da vida
recebe do “pão descido do Céu” vigor para a vida eterna (evangelho).
Como é que Jesus, o “pão descido do
Céu” (cf. dom. pass.), dá vida eterna? Os judeus se mostram céticos: “murmuram”
(como fizeram no deserto) a respeito da origem por demais conhecida de Jesus
(mas em 9,29 não acreditam porque não sabem de onde é…). A essa murmuração,
Deus não mais responde com um dom perecível, como o maná do deserto, mas com o
dom escatológico, como indica o texto profético que agora se cumpre: “Todos
serão ensinados por Deus”. Que Deus e sua vontade serão conhecidos diretamente,
sem o intermédio de mestres (cf. Is 54,13), faz parte da “nova Aliança”,
plenitude da antiga (Jr. 31,33-34). É o que se cumpre em Jesus Cristo. O
cristão o sabe: ninguém jamais viu Deus (6,46; cf. 1,18), mas quem vê Jesus, vê
o Pai (1,18; 12,45; 14,9). Quem procura o ensinamento escatológico de Deus, na
plenitude da Aliança, só precisa ir a Jesus (6,45b). Este ensinamento, porém,
contém um paradoxo: ao mesmo tempo que o homem é responsável por ir a Jesus,
ele deve ser atraído pelo Pai. Temos exemplos de tal relação dialogal em nosso
dia-a-dia: para realmente participar de uma aprendizagem, o aluno deve ser
admitido pelo mestre e ao mesmo tempo querer aprender; para gozar plenamente a
alegria de uma festa, a gente deve ser convidado e ir com gosto ao mesmo tempo.
A fé não é uma coisa unilateral. É um diálogo entre Deus que nos atrai a Jesus
Cristo e nós que nos dispomos a escutar sua palavra.
Quando se realiza esse diálogo,
temos (já: tempo presente; Jo 6,47b; cf. 5,24) a vida eterna. Já nos saciamos
com a comida que proporciona vigor inesgotável. A “vida eterna” não é um
prolongamento ao infinito de nossa vida biológica. É a dimensão inesgotável e
decisiva de nossa existência; não inicia apenas no além. João não fala,
praticamente, em “Reino de Deus”. Fala da “vida eterna”, para indicar a
realidade da vontade divina assumida pelos homens e encarnada na existência
humana. Quem fez isso por excelência é Jesus, seu Filho unigênito. Sua doação
até a morte, sua “carne” (= existência humana) dada até a morte, ensina e
mostra, mas também realiza, para quem a ele aderir, esta “vida” para o mundo.
Portanto, sermos ensinados por Deus
significa que, mediante a adesão à existência que Jesus viveu até a morte,
abrimos em nossa vida espaço para a dimensão divina e definitiva de nossa vida,
dimensão que lhe confere um sentido inesgotável e irrevogável: o sentido de
Deus mesmo.
Nesta perspectiva, a 2ª leitura de
hoje toma-se importante. Ensina-nos a imitar Deus (no mútuo perdão) e a amar
como Cristo nos amou. Em outros termos, nossa vocação de sermos semelhantes ao
pai (Gn 1,27) se realiza na medida em que assumimos a existência de Cristo,
dando-lhe crédito e imitando-o.
Do livro “Liturgia Dominical”, de
Johan Konings, SJ, Editora Vozes
MENSAGEM
Jesus, Pão descido do céu
Continuamos nossa meditação sobre o capítulo 6 de João, que constitui o fio das leituras dominicais por este tempo. No domingo passado, Jesus se apresentou como o pão descido do céu, com palavras que lembravam as declarações de Isaías sobre a palavra e o ensinamento de Deus. Hoje aprofundamos o sentido disso. Jesus é alimento da parte de Deus por ser a Palavra de Deus (Jo 1,1), que nos faz viver a vida que está nas mãos de Deus – a vida que chamamos de “eterna”. (Esta não é mero prolongamento indefinido de nossa vida terrestre, o que não valeria a pena, mas é “de outra categoria”: da categoria de Deus mesmo. Neste sentido, vida eterna e vida divina são sinônimos).
Jesus nos alimenta para essa vida divina por tudo aquilo que ele é e fez. Sua vida é o grande ensinamento que nos encaminha na direção do Pai. Na antiga Aliança, Moisés e seus sucessores ensinavam o povo, mas nem sempre de melhor maneira. Agora, realiza-se a Nova Aliança, em que todos se tornam discípulos de Deus (Jo 6,45; Jr 31,33; Is 54,13). Quem escuta Jesus, que é a Palavra de Deus em pessoa, não precisa mais de intermediários (Jo 1,17). Ninguém jamais viu Deus, a não ser aquele que desce de junto dele, o Filho que no-lo dá a conhecer (6,46; cf. 1,18). Jesus conhece Deus por dentro. Escutando Jesus, aprendemos a conhecer Deus, sem mais intermediários.
Escutar Jesus alimenta-nos para a vida com Deus, para sempre. Ora, João diz que quem crê já tem a vida eterna (5,24). Como é essa vida eterna, divina? Será talvez esse bem-estar incomparável que sentimos quando ficamos mortos de cansaço por nos termos dedicado aos nossos irmãos até não poder mais? Quando arriscamos nossa vida na luta pela justiça e o amor fraterno. Quando doamos o melhor de nós, material e espiritualmente. A felicidade de quem dá sua vida totalmente. Pois é isso que Jesus nos ensina da parte de Deus. E porque ele fez isso, ele é o ensinamento de Deus em pessoa.
Para Israel, o ensinamento de Deus está na Escritura e na tradição dos mestres: é a Torá, a “Instrução” (termo traduzido de modo inadequado por “Lei”). Para nós, a Torá viva é Jesus.
Sabemos que o tipo de vida que Jesus nos mostra e ensina é endossado por Deus, como ele comprovou ressuscitando seu filho dentre os mortos. É a vida que Deus quer. E o pão que alimenta essa vida é Jesus. Alimenta-a pela palavra que falou, pela vida que viveu, pela morte de que morreu: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu…. O pão que eu darei é minha carne dada para a vida do mundo”(6,51, evangelho do próximo dom.).
FONTE:
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Bíblia Sagrada – Edição Pastoral
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