Tema da Solenidade da Epifania do Senhor
A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a
todos os homens… Ele é uma “luz” que se acende na noite do mundo e atrai a si
todos os povos da terra. Cumprindo o projecto libertador que o Pai nos queria
oferecer, essa “luz” incarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos
homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.
A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de
Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de
todo o mundo.
No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao
encontro de Jesus vêm os “magos” do oriente, representantes de todos os povos
da terra… Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-n’O com esperança
até O encontrar, reconhecem n’Ele a “salvação de Deus” e aceitam-n’O como “o
Senhor”. A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um
dom que Deus oferece a todos os homens, sem excepção.
A segunda leitura apresenta o projecto salvador de Deus como
uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa
mesma comunidade de irmãos – a comunidade de Jesus.
LEITURA I – Is 60,1-6
Leitura do Livro de Isaías
Levanta-te e resplandece, Jerusalém,
porque chegou a tua luz
e brilha sobre ti a glória do Senhor.
Vê como a noite cobre a terra
e a escuridão os povos.
Mas sobre ti levanta-Se o Senhor
e a sua glória te ilumina.
As nações caminharão à tua luz
e os reis ao esplendor da tua aurora.
Olha ao redor e vê:
todos se reúnem e vêm ao teu encontro;
os teus filhos vão chegar de longe
e as tuas filhas são trazidas nos braços.
Quando o vires ficarás radiante,
palpitará e dilatar-se-á o teu coração,
pois a ti afluirão os tesouros do mar,
a ti virão ter as riquezas das nações.
Invadir-te-á uma multidão de camelos,
de dromedários de Madiã e Efá.
Virão todos os de Sabá,
trazendo ouro e incenso
e proclamando as glórias do Senhor.
AMBIENTE ...
Aos capítulos 56-66 do Livro de Isaías, convencionou-se
chamar “Trito-Isaías”. Trata-se de um conjunto de textos cuja proveniência não
é totalmente consensual… Para alguns, são textos de um profeta anónimo,
pós-exílico, que exerceu o seu ministério em Jerusalém após o regresso dos
exilados da Babilónia, nos anos 537/520 a.C.; para a maioria, trata-se de
textos que provêm de diversos autores pós-exílicos e que foram redigidos ao
longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente, entre os sécs. VI
e V a.C.). De qualquer forma, estamos na época a seguir ao Exílio e numa
Jerusalém em reconstrução… As marcas do passado ainda se notam nas pedras
calcinadas da cidade; os judeus que se estabeleceram na cidade são ainda
poucos; a pobreza dos exilados faz com que a reconstrução seja lenta e muito
modesta; os inimigos estão à espreita e a população está desanimada… Sonha-se,
no entanto, com esse dia futuro em que vai chegar Deus para trazer a salvação
definitiva ao seu Povo. Então, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e
harmoniosa, o Templo será reconstruído e Deus habitará para sempre no meio do
seu Povo.
O texto que nos é proposto é uma glorificação de Jerusalém,
a cidade da luz, a “cidade dos dois sóis” (o sol nascente e o sol poente: pela
sua situação geográfica, a cidade é iluminada desde o nascer do dia, até ao pôr
do sol).
MENSAGEM
Inspirado, sem dúvida, pelo sol nascente que ilumina as
belas pedras brancas das construções de Jerusalém e faz a cidade
transfigurar-se pela manhã (e brilhar no meio das montanhas que a rodeiam), o
profeta sonha com uma Jerusalém muito diferente daquela que os retornados do
Exílio conhecem; essa nova Jerusalém levantar-se-á quando chegar a luz
salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto. Nesse dia, Jerusalém vai atrair
os olhares de todos os que esperam a salvação. Como consequência, a cidade será
abundantemente repovoada (com o regresso de muitos “filhos” e “filhas” que, até
agora, assustados pelas condições de pobreza e de instabilidade ainda não se
decidiram a regressar); além disso, povos de toda a terra – atraídos pela
promessa do encontro com a salvação de Deus – convergirão para Jerusalém,
inundando-a de riquezas (nomeadamente incenso, para o serviço do Templo) e
cantando os louvores de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes linhas:
• Como pano de fundo deste texto (e da liturgia deste dia)
está a afirmação da eterna preocupação de Deus com a vida e a felicidade desses
homens e mulheres a quem Ele criou. Sejam quais forem as voltas que a história
dá, Deus está lá, vivo e presente, acompanhando a caminhada do seu Povo e
oferecendo-lhe a vida definitiva. Esta “fidelidade” de Deus aquece-nos o
coração e renova-nos a esperança… Caminhamos pela vida de cabeça levantada,
confiando no amor infinito de Deus e na sua vontade de salvar e libertar o
homem.
• É preciso, sem dúvida, ligar a chegada da “luz” salvadora
de Deus a Jerusalém (anunciada pelo profeta) com o nascimento de Jesus. O
projecto de libertação que Jesus veio apresentar aos homens será a luz que
vence as trevas do pecado e da opressão e que dá ao mundo um rosto mais
brilhante de vida e de esperança. Reconhecemos em Jesus a “luz” libertadora de
Deus? Estamos dispostos a aceitar que essa “luz” nos liberte das trevas do
egoísmo, do orgulho e do pecado? Será que, através de nós, essa “luz” atinge o
mundo e o coração dos nossos irmãos e transforma tudo numa nova realidade?
• Na catequese cristã dos primeiros tempos, esta Jerusalém
nova, que já “não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é
iluminada pela glória de Deus”, é a Igreja – a comunidade dos que aderiram a
Jesus e acolheram a luz salvadora que Ele veio trazer (cf. Ap 21,10-14.23-25).
Será que nas nossas comunidades cristãs e religiosas brilha a luz libertadora de
Jesus? Elas são, pelo seu brilho, uma luz que atrai os homens? As nossas
desavenças e conflitos, a nossa falta de amor e de partilha, os nossos ciúmes e
rivalidades, não contribuirão para embaciar o brilho dessa luz de Deus que
devíamos reflectir?
• Será que na nossa Igreja há espaço para todos os que
buscam a luz libertadora de Deus? Os irmãos que têm a vida destroçada ou que
não se comportam de acordo com as regras da Igreja, são acolhidos, respeitados
e amados? As diferenças próprias da diversidade de culturas são vistas como uma
riqueza que importa preservar, ou são rejeitadas porque ameaçam a uniformidade?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 71 (72)
Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor,
todos os povos da terra.
Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.
Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes,
os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
Prostrar-se-ão diante dele todos os reis,
todos os povos o hão-de servir.
Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.
LEITURA II – Ef 3,2-3a.5-6
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
Irmãos:
Certamente já ouvistes falar
da graça que Deus me confiou a vosso favor:
por uma revelação,
foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo.
Nas gerações passadas,
ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens
como agora foi revelado pelo Espírito Santo
aos seus santos apóstolos e profetas:
os gentios recebem a mesma herança que os judeus,
pertencem ao mesmo corpo
e participam da mesma promessa,
em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
AMBIENTE
A Carta aos Efésios (cuja autoria paulina alguns discutem
por questões de linguagem, de estilo e de teologia) apresenta-se como uma
“carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria
paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura,
embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
É, de qualquer forma, uma apresentação sólida de uma
catequese bem elaborada e amadurecida. A carta (talvez uma “carta circular”,
enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor) parece
apresentar uma espécie de síntese do pensamento paulino.
O tema mais importante da Carta aos Efésios é aquilo que o
autor chama “o mistério”: trata-se do projecto salvador de Deus, definido e
elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado
plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado presente
no mundo pela Igreja.
Na parte dogmática da carta (cf. Ef 1,3-3,19), Paulo
apresenta a sua catequese sobre “o mistério”: depois de um hino que põe em
relevo a acção do Pai, do Filho e do Espírito Santo na obra da salvação (cf. Ef
1,3-14), o autor fala da soberania de Cristo sobre os poderes angélicos e do
seu papel de cabeça da Igreja (cf. Ef 1,15-23); depois, reflecte sobre a
situação universal do homem, mergulhado no pecado, e afirma a iniciativa
salvadora e gratuita de Deus em favor do homem (cf. Ef 2,1-10); expõe, ainda,
como é que Cristo – realizando “o mistério” – levou a cabo a reconciliação de
judeus e pagãos num só corpo, que é a Igreja (cf. 2,11-22)… O texto que nos é
proposto vem nesta sequência: nele, Paulo apresenta-se como testemunha do
“mistério” diante dos judeus e diante dos pagãos (cf. Ef 3,1-13).
MENSAGEM
A Paulo, apóstolo como os Doze, também foi revelado “o
mistério”. É esse “mistério” que Paulo aqui desvela aos crentes da Ásia Menor…
Paulo insiste que, em Cristo, chegou a salvação definitiva para os homens; e
essa salvação não se destina exclusivamente aos judeus, mas destina-se a todos
os povos da terra, sem excepção. Paulo é, por chamamento divino, o arauto desta
novidade… Percebemos, assim, porque é que Paulo se fez o grande arauto da “boa
nova” de Jesus entre os pagãos…
Agora, judeus e gentios são membros de um mesmo e único
“corpo” (o “corpo de Cristo” ou Igreja), partilham o mesmo projecto salvador
que os faz, em igualdade de circunstâncias com os judeus, “filhos de Deus” e
todos participam da promessa feita por Deus a Abraão (cf. Gn 12,3) – promessa
cuja realização Cristo levou a cabo.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:
• A perspectiva de que Deus tem um projecto de salvação para
oferecer ao seu Povo – já enunciada na primeira leitura – tem aqui novos
desenvolvimentos. A primeira novidade é que Cristo é a revelação e a realização
plena desse projecto. A segunda novidade é que esse projecto não se destina
apenas “a Jerusalém” (ao mundo judaico), mas é para ser oferecido a todos os
povos, sem excepção.
• A Igreja, “corpo de Cristo”, é a comunidade daqueles que
acolheram “o mistério”. Nela, brancos e negros, pobres e ricos, ucranianos ou
moldavos – beneficiários todos da acção salvadora e libertadora de Deus – têm
lugar em igualdade de circunstâncias. Temos, verdadeiramente, consciência de
que é nesta comunidade de crentes que se revela hoje no mundo o projecto
salvador que Deus tem para oferecer a todos os homens? Na vida das nossas comunidades
transparece, realmente, o amor de Deus? As nossas comunidades são verdadeiras
comunidades fraternas, onde todos se amam sem distinção de raça, de cor ou de
estatuto social?
• Destinatários, todos, do mistério, somos “filhos de Deus”
e irmãos uns dos outros. Essa fraternidade implica o amor sem limites, a
partilha, a solidariedade… Sentimo-nos solidários com todos os irmãos que
partilham connosco esta vasta casa que é o mundo? Sentimo-nos responsáveis pela
sorte de todos os nossos irmãos, mesmo aqueles que estão separados de nós pela
geografia, pela diversidade de culturas e de raças?
ALELUIA – Mt 2,2
Aleluia. Aleluia.
Vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorar o Senhor.
EVANGELHO – Mt 2,1-12
Leitura de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia,
nos dias do rei Herodes,
quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente.
«Onde está – perguntaram eles –
o rei dos judeus que acaba de nascer?
Nós vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorá-l’O».
Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado
e, com ele, toda a cidade de Jerusalém.
Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo
e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias.
Eles responderam: «Em Belém da Judeia,
porque assim está escrito pelo profeta:
‘Tu, Belém, terra de Jusá,
não és de modo nenhum a menor
entre as principais cidades de Judá,
pois de ti sairá um chefe,
que será o Pastor de Israel, meu povo’».
Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos
e pediu-lhes informações precisas
sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela.
Depois enviou-os a Belém e disse-lhes:
«Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino;
e, quando O encontrardes, avisai-me,
para que também eu vá adorá-l’O».
Ouvido o rei, puseram-se a caminho.
E eis que a estrela que tinham visto no Oriente
seguia à sua frente
e parou sobre o lugar onde estava o Menino.
Ao ver a estrela, sentiram grande alegria.
Entraram na casa,
viram o Menino com Maria, sua Mãe,
e, prostrando-se diante d’Ele,
adoraram-n’O.
Depois, abrindo os seus tesouros,
ofereceram-Lhe presentes:
ouro, incenso e mirra.
E, avisados em sonhos
para não voltarem à presença de Herodes,
regressaram à sua terra por outro caminho.
AMBIENTE
O episódio da visita dos magos ao menino de Belém é um
episódio simpático e terno que, ao longo dos séculos, tem provocado um impacto
considerável nos sonhos e nas fantasias dos cristãos… No entanto, convém
recordar que estamos ainda no âmbito do “Evangelho da Infância”; e que os
factos narrados nesta secção não são a descrição exacta de acontecimentos
históricos, mas uma catequese sobre Jesus e a sua missão… Por outras palavras:
Mateus não está aqui interessado em apresentar uma reportagem jornalística que
conte a visita oficial de três chefes de estado estrangeiros à gruta de Belém;
mas está interessado em (recorrendo a símbolos e imagens bem expressivos para
os primeiros cristãos) apresentar Jesus como o enviado de Deus Pai, que vem oferecer
a salvação de Deus aos homens de toda a terra.
MENSAGEM
A análise dos vários detalhes do relato confirma que a
preocupação do autor (Mateus) não é de tipo histórico, mas catequético.
Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus no facto
de Jesus ter nascido em Belém de Judá (cf. vers. 1.5.6.7). Para entender esta
insistência, temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David e que
era a Belém que estava ligada a família de David. Afirmar que Jesus nasceu em
Belém é ligá-l’O a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o
descendente de David que havia de nascer em Belém (cf. Mi 5,1.3; 2 Sm 5,2) e
restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles
que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo
para o reconhecerem como o Messias libertador.
Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela
“especial” que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os “magos” para
Belém. A interpretação desta referência como histórica levou alguém a cálculos
astronómicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de
planetas explicaria o fenómeno luminoso da estrela refulgente mencionada por
Mateus; outros andaram à procura de um cometa que, por esta época, devia ter
sulcado os céus do antigo Médio Oriente… Na realidade, é inútil procurar nos
céus a estrela ou cometa em causa, pois Mateus não está a narrar factos
históricos. Segundo a crença popular da época, o nascimento de uma personagem
importante era acompanhado da aparição de uma nova estrela. Também a tradição
judaica anunciava o Messias como a estrela que surge de Jacob (cf. Nm 24,17).
Ora, é com estes elementos que a imaginação de Mateus, posta ao serviço da
catequese, vai inventar a “estrela”. Mateus está, sobretudo, interessado em
fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles
que negavam que Jesus era esse Messias esperado.
Temos ainda as figuras dos “magos”. A palavra grega “mágos”,
usada por Mateus, abarca um vasto leque de significados e é aplicada a
personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes
persas, propagandistas religiosos… Aqui, poderia designar astrólogos
mesopotâmios, em contacto com o messianismo judaico. Seja como for, esses
“magos” representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que
falava a primeira leitura (cf. Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém
com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus
que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese
da Igreja primitiva, essa “luz”.
Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de
forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o
Evangelho: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os “magos” do oriente
(que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da
notícia do nascimento do menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos
sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador.
Mateus anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado
pelo seu Povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do
novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos “magos” reflecte a caminhada que
os pagãos percorreram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela),
percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho
para O encontrar, perguntam aos judeus – que conhecem as Escrituras – o que fazer,
encontram Jesus e adoram-n’O como “o Senhor”. É muito possível que um grande
número de pagano-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as
etapas do seu próprio caminho em direcção a Jesus.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar as seguintes questões:
• Em primeiro lugar, meditemos nas atitudes das várias
personagens que Mateus nos apresenta em confronto com Jesus: os “magos”,
Herodes, os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo… Diante de Jesus, o
libertador enviado por Deus, estes distintos personagens assumem atitudes
diversas, que vão desde a adoração (os “magos”), até à rejeição total
(Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas: nenhum deles
se preocupou em ir ao encontro desse Messias que eles conheciam bem dos textos
sagrados). Identificamo-nos com algum destes grupos? Não é fácil “conhecer as
Escrituras”, como profissionais da religião e, depois, deixar que as propostas
e os valores de Jesus nos passem ao lado?
• Os “magos” são apresentados como os “homens dos sinais”,
que sabem ver na “estrela” o sinal da chegada da libertação… Somos pessoas
atentas aos “sinais” – isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa
história e da nossa vida à luz de Deus? Procuramos perceber nos “sinais” que
aparecem no nosso caminho a vontade de Deus?
• Impressiona também, no relato de Mateus, a “desinstalação”
dos “magos”: viram a “estrela”, deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram
procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos
demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão especial, à nossa
televisão, à nossa aparelhagem, ao nosso computador? Somos capazes de deixar
tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos irmãos?
• Os “magos” representam os homens de todo o mundo que vão
ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se
prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja – essa família de irmãos,
constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O
reconhecem como o seu Senhor.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O DOMINGO DA EPIFANIA
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Epifania,
procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma
leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação
comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo
de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana
para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. PALAVRA DE VIDA.
A caminho da estrela… Os magos tinham o hábito de perscrutar
os astros. Eles viram uma estrela, sem dúvida nova para os seus olhos, então
puseram-se a caminho… Aquele que procuravam parece querer fazer-se conhecer, um
sinal basta para estes magos. Param, experimentam uma grande alegria,
prostram-se e oferecem os seus presentes. A criança que eles descobrem não é
uma criança como as outras: é rei, então oferecem-lhe oiro; é Deus, então
queimam incenso; passará pela morte antes de ressuscitar, então apresentam a
mirra. Para o regresso, não têm necessidade de estrela. Deus convida-os a
regressar por outro caminho. O verdadeiro rei não é Herodes, mas esta criança
que acaba de nascer.
3. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Um convite ao acolhimento e à abertura… Festa da salvação
para todos os povos, a Epifania convida as comunidades cristãs ao acolhimento e
à abertura. Como viver isso concretamente hoje na celebração? Por exemplo,
dando a cada um, ao chegar à igreja, uma pequena estrela. Em cada uma, está
escrito o nome de um dos continentes: África, América, Ásia, Europa, Oceânia.
No fim da primeira leitura que descreve em imagens sumptuosas Jerusalém como o
cruzamento das nações, o animador diz o nome África, depois América, e os
outros; a cada apelo, aqueles que têm o nome escrito na estrela levantam a
estrela e mantêm-na levantada durante o salmo responsorial. Em seguida, vão
colocá-la no presépio.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Aceitar pôr-se a caminho… Erguer os olhos: tal é o convite
que nos é feito hoje. Uma estrela brilha sempre na noite, se nós a perscrutamos
com atenção. Erguer os olhos: descentrar-se de si mesmo, procurar ajuda da
parte de qualquer outro, de Deus. Depois de ver a estrela, aceitar pôr-se a
caminho. Nos próximos dias, esta estrela será talvez uma caminhada a empreender
para sair, encontrar ajuda ou levar ajuda a alguém, tomar uma decisão até aqui
adiada…
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS
COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas
Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus
(Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org
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