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sexta-feira

AS MAIS LINDAS MÚSICAS DE LOUVOR E ADORAÇÃO2 - EVANGÉLICAS E CATÓLICAS

VIM PARA ADORAR-TE - EM INGLÊS


EM PORTUGUÊS:











Senhor,
Que Tua Luz
brilhe sempre em nossa 
trajetória...
Que Tua misericórdia
nos perdoe e nos converta
ao Teu Divino coração!
Que a Tua palavra
transcenda nossos limites
e nos santifique!
Abençoe nossos dias,
nossas vidas, nossos sonhos,
nossas famílias...nossos amigos!
Que possamos a cada dia
alcançar tudo que planejaste
para cada um de nós!
Obrigada  Senhor,
meu coração
 se enche de júbilo
por poder Ti louvar 
e bendizer, enquanto
temos vida e saúde!

Márcia MSA
06/07/99






18º Domingo do Tempo Comum - Ano B - (Dehonianos)

CRÉDITOS:
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
texto em português de Portugal

Tema do 18º Domingo do Tempo Comum




A liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum repete, no essencial, a mensagem 
as leituras do passado domingo. Assegura-nos que Deus está empenhado em 
oferecer ao seu Povo o alimento que dá a vida eterna e definitiva.

A primeira leitura dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A acção de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores.
No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o “pão” da vida que desceu do céu para dar vida ao mundo. Aos que O seguem, Jesus pede que aceitem esse “pão” – isto é, que escutem as palavras que Ele diz, que as acolham no seu coração, que aceitem os seus valores, que adiram à sua proposta.
A segunda leitura diz-nos que a adesão a Jesus implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem novo. Aquele que aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a ser uma outra pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo.


LEITURA I – Ex 16,2-4.12-15

Leitura do Livro do Êxodo

Naqueles dias,
toda a comunidade dos filhos de Israel
começou a murmurar no deserto contra Moisés e Aarão.
Disseram-lhes os filhos de Israel:
«Antes tivéssemos morrido às mãos do Senhor na terra do Egipto,
quando estávamos sentados ao pé das panelas de carne
e comíamos pão até nos saciarmos.
Trouxestes-nos a este deserto,
para deixar morrer à fome toda esta multidão».
Então o Senhor disse a Moisés:
«Vou fazer que chova para vós pão do céu.
O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia.
Vou assim pô-lo à prova,
para ver se segue ou não a minha lei.
Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel.
Vai dizer-lhes:
‘Ao cair da noite comereis carne
e de manhã saciar-vos-eis de pão.
Então reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus’».
Nessa tarde apareceram codornizes,
que cobriram o acampamento,
e na manhã seguinte havia uma camada de orvalho
em volta do acampamento.
Quando essa camada de orvalho se evaporou,
apareceu à superfície do deserto uma substância granulosa,
fina como a geada sobre a terra.
Quando a viram, os filhos de Israel perguntaram uns aos outros:
«Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?»,
pois não sabiam o que era.
Disse-lhes então Moisés:
«É o pão que o Senhor vos dá em alimento».

AMBIENTE

A secção de Ex 15,22-18,27 desenvolve um dos grandes temas do Pentateuco: a marcha pelo deserto. Aqui estamos, ainda, na primeira etapa dessa marcha – a que vai desde a passagem do mar, até ao Sinai.
Três dos episódios apresentados nesta secção tratam o tema da murmuração do Povo (cf. Ex 15,22-27; 16,1-21; 17,1-7). O esquema é simples e é sempre o mesmo: o Povo desconfia e murmura diante das dificuldades, subleva-se contra Moisés e chega a acusar Deus pelos desconfortos da caminhada; quando estão prestes a sofrer o castigo pela sua revolta, Moisés intercede diante do Jahwéh e o Senhor perdoa o pecado do Povo; finalmente, apesar do pecado, Jahwéh concede ao Povo os bens de que este sente necessidade. Os relatos apresentam-se sempre de uma forma dramática, com um crescendo de intensidade até ao desfecho final, que se apresenta sempre na forma de uma intervenção prodigiosa de Deus, em benefício do seu Povo.
Provavelmente, estes relatos têm por base elementos de carácter histórico (dificuldades reais sentidas pelos hebreus que saíram do Egipto com Moisés, no seu caminho para a Terra Prometida, através do deserto do Sinai) e que ficaram na memória colectiva; no entanto, os catequistas bíblicos estão mais interessados em fazer catequese, do que em apresentar uma reportagem jornalística da viagem (o episódio mistura uma catequese “jahwista”, do séc. X a.C. com uma catequese “sacerdotal”, do séc. VI a.C). A catequese apresentada pretende sempre avisar o Povo contra a tentação de procurar refúgio e segurança fora de Jahwéh… Aqui, Israel fala em regressar ao Egipto, onde eram escravos, mas tinham pão e carne em abundância: o Egipto representa a tentação que o Povo sentiu, em tantas situações da sua história, de voltar atrás, de abandonar os valores e a vida de Deus, de se instalar comodamente em esquemas à margem de Deus. O catequista jahwista garante ao seu Povo que Deus o acompanha sempre ao longo da sua caminhada e que só ele oferece a Israel vida em abundância.
O episódio que hoje nos é proposto – o episódio das codornizes e do maná – é situado no deserto de Sin, “que está entre Elim e o Sinai, no décimo quinto dia do segundo mês após a saída da terra do Egipto” (Ex 16,1). O deserto de Sin estende-se de Kadesh-Barnea para ocidente.
A história das codornizes tem por base um fenómeno que se observa, por vezes, na Península do Sinai: a migração em massa de codornizes que, depois de atravessar o mar, chegam ao Sinai muito cansadas da viagem, pousam junto das tendas dos beduínos e deixam-se apanhar com facilidade. A história do maná deve ter por base uma pequena árvore (“tamarix mannifera”) existente em certas zonas do Sinai que, após ser picada por um insecto, segrega uma substância resinosa e espessa que logo se coagula; os beduínos recolhem, ainda hoje, essa substância (que chamam “man”), derretem-na ao calor do sol e passam-na sobre o pão.
Vai ser com estes elementos – elementos que o Povo conheceu e que o impressionaram, ao longo da marcha pelo deserto – que os catequistas bíblicos vão “amassar” a catequese que nos transmitem no texto que nos é proposto.

MENSAGEM

1. O episódio começa com a murmuração do Povo “contra Moisés e contra Aarão” (vers. 2). Por estranho que pareça, Israel sente saudades do tempo em que passou no Egipto pois, apesar da escravidão, estava sentado “ao pé de panelas de carne” e comia “pão com fartura” (vers. 3). Ao longo da caminhada, vêm ao de cima as limitações e as deficiências de um grupo humano ainda com mentalidade de escravo, demasiado “verde” e sem maturidade, agarrado à mesquinhez, ao egoísmo, ao comodismo, que prefere a escravidão à liberdade. Por outro lado, é um Povo que ainda não aprendeu a confiar no seu Deus, a segui-lo de olhos fechados, a responder sem hesitações às suas propostas, a segui-l’O incondicionalmente no caminho da fé.
2. A resposta de Deus é “fazer chover pão do céu” (vers. 4) e dar ao Povo carne em abundância (vers. 12). O objectivo de Deus é, não só satisfazer as necessidades materiais do Povo, mas também revelar-Se como o Deus da bondade e do amor, que cuida do seu Povo, que está sempre ao seu lado ao longo da caminhada, que milagrosamente entrega de bandeja a Israel a possibilidade de satisfazer as suas necessidades mais básicas e de vencer as forças da morte que se ocultam nas areias do deserto. Dessa forma, o Povo pode fazer uma experiência de encontro e de comunhão com Deus, que se traduzirá em confiança, em amor, em entrega. O cuidado, a solicitude e o amor de Deus experimentados nesta “crise”, não só ajudarão o Povo a sobreviver, mas irão permitir-lhe, também, superar mentalidades estreitas e egoístas, fazendo-o ver mais além, alargar os horizontes, tornar-se mais adulto, mais consciente, mais responsável e mais santo. Israel aprende, assim, a confiar em Deus, a entregar-se nas suas mãos, a não duvidar do seu amor e fidelidade… Israel aprende, neste percurso, que Jahwéh é a rocha segura em quem se pode confiar nas crises e dramas da vida.
3. O facto de se dizer que Deus apenas dava ao Povo a quantidade de maná necessária “para cada dia” (vers. vers. 4) é uma bonita lição sobre desprendimento e confiança em Deus. Ensina o Povo a não acumular bens, a não viver para o “ter”, a libertar o coração da ganância e do desejo de possuir sempre mais, a não viver angustiado com o futuro e com o dia de amanhã; ensina, também, a confiar em Deus, a entregar-se serenamente nas suas mãos, a vê-l’O como verdadeira fonte de vida.

ACTUALIZAÇÃO

• Mais uma vez, a Palavra de Deus que nos é proposta dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A acção de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores. Para Deus, “alimentar” o Povo é ajudá-lo a descobrir os caminhos que conduzem à felicidade e à vida verdadeira. O Deus em quem nós acreditamos é o mesmo Deus que, no deserto, ofereceu a Israel a possibilidade de libertar-se de uma mentalidade de escravo e de descobrir o caminho para a vida nova da liberdade e da felicidade… Ele vai connosco ao longo da nossa caminhada pelo deserto da vida, vê as nossas necessidades, conhece os nossos limites, percebe a nossa tendência para o egoísmo e o comodismo e, em cada dia, aponta-nos caminhos novos, convida-nos a ir mais além, mostra-nos como podemos chegar à terra da liberdade e da vida verdadeira. Este texto fala-nos da solicitude e do amor com que Deus acompanha a nossa caminhada de todos os dias; convida-nos, também, a escutar esse Deus, a aceitar as propostas de vida que Ele faz e a confiar incondicionalmente n’Ele.

• As “saudades” que os israelitas sentem do Egipto, onde estavam “sentados junto de panelas de carne” e tinham “pão com fartura”, revelam a realidade de um Povo acomodado à escravidão, instalado tranquilamente numa vida sem perspectivas e sem saída, incapaz de arriscar, de enfrentar a novidade, de querer mais, de aceitar a liberdade que se constrói na luta e no risco. Esta mentalidade de escravidão continua, bem viva, no nosso mundo… É a mentalidade daqueles que vivem obcecados pelo “ter” e que são capazes de renunciar à sua dignidade para acumular bens materiais; é a mentalidade daqueles que trocam valores importantes pelos “cinco minutos de fama” e de exposição mediática; é a mentalidade daqueles que têm como único objectivo na vida a satisfação das suas necessidades mais básicas; é a mentalidade daqueles que se instalam comodamente nos seus esquemas cómodos, nos seus preconceitos e se recusam a ir mais além, a deixarem-se interpelar pela novidade e pelos desafios de Deus; é a mentalidade daqueles que vivem voltados para o passado, que idealizam o passado, recusando-se a enfrentar os desafios da história e a descobrir o que há de positivo e de desafiante nos novos tempos; é a mentalidade daqueles que se resignam à mediocridade e que não fazem nenhum esforço para que a sua vida faça sentido… A Palavra de Deus que nos é proposta diz-nos: o nosso Deus não Se conforma com a resignação, o comodismo, a instalação, a mediocridade que fazem de nós escravos e que nos impedem de chegar à vida verdadeira, plenamente vivida e assumida; Ele vem ao nosso encontro, desafia-nos a ir mais além, aponta-nos caminhos, convida-nos a crescer e a dar passos firmes e seguros em direcção à liberdade e à vida nova… E, durante o caminho, nunca estaremos sozinhos, pois Ele vai ao nosso lado.

• A ideia de que Deus dá ao seu Povo, dia a dia, o pão necessário para a subsistência (proibindo “juntar” mais do que o necessário para cada dia) pretende ajudar o Povo a libertar-se da tentação do “ter”, da ganância, da ambição desmedida. É um convite, também a nós, a não nos deixarmos dominar pelo desejo descontrolado de posse dos bens, a libertarmos o nosso coração da ganância que nos torna escravos das coisas materiais, a não vivermos obcecados e angustiados com o futuro, a não colocarmos na conta bancária a nossa segurança e a nossa esperança. Só Deus é a nossa segurança, só n’Ele devemos confiar, pois só Ele (e não os bens materiais) nos liberta e nos leva ao encontro da vida definitiva.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 77 (78)

Refrão: O Senhor deu-lhes o pão do céu.

Nós ouvimos e aprendemos,
os nossos pais nos contaram
os louvores do Senhor e o seu poder
e as maravilhas que Ele realizou.

Deus ordens às nuvens do alto
e abriu as portas do céu;
para alimento fez chover o maná,
deu-lhes o pão do céu.

O homem comeu o pão dos fortes!
Mandou-lhes comida com abundância
e introduziu-os na sua terra santa,
na montanha que a sua direita conquistou.


LEITURA II – Ef 4,17.20-24

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Irmãos:
Eis o que vos digo e aconselho em nome do Senhor:
Não torneis a proceder como os pagãos,
que vivem na futilidade dos seus pensamentos.
Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo,
se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos,
conforme a verdade que está em Jesus.
É necessário abandonar a vida de outrora
e pôr de parte o homem velho,
corrompido por desejos enganadores.
Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência
e revesti-vos do homem novo, criado á imagem de Deus
na justiça e santidade verdadeiras.

AMBIENTE

Continuamos a ler a Carta aos Efésios, essa “carta circular” que Paulo escreve enquanto está na prisão (em Roma, durante os anos 61-63?) e que envia a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor. É uma carta (já o dissemos atrás) onde Paulo apresenta, de forma extremamente serena e reflectida, uma teologia amadurecida, completa, bem elaborada, sobre as exigências da vida nova em Cristo.
A secção da Carta aos Efésios que vai de 4,1 a 6,20 (já o dissemos também no passado domingo) é um texto parenético, que tem por objectivo principal exortar os cristãos a viverem de forma coerente com o seu Baptismo e com o seu compromisso com Cristo. Depois de convidar os crentes a viverem na unidade do amor (cf. Ef 4,1-6) e de lhes apresentar uma reflexão sobre a comunidade, Corpo de Cristo formado por muitos membros (cf. Ef 4,7-13), Paulo exorta os cristãos a viverem de acordo com a sua condição de Homens Novos em Cristo (cf. 4,14-5,14). O texto que nos é hoje proposto como segunda leitura é parte dessa exortação.

MENSAGEM

O nosso texto é, fundamentalmente, um convite – feito com a veemência que Paulo usava sempre nas suas exortações – a deixar a vida antiga e os esquemas do passado, para abraçar definitivamente a vida nova que Cristo veio propor.
Paulo usa duas expressões opostas para definir a realidade do homem antes do encontro com Cristo e depois do encontro com Cristo. O homem que ainda não aderiu a Cristo é, para Paulo, o homem velho, cuja vida é marcada pela mediocridade, pela futilidade (vers. 17), pela corrupção, pela escravidão aos “desejos enganadores” (vers. 22). O homem que já encontrou Cristo e que aderiu à sua proposta é o homem novo, que vive na verdade (vers. 21), na justiça e na santidade verdadeiras (vers. 24).
O Baptismo – o momento da adesão a Cristo – é o momento decisivo da transformação do homem velho em homem novo. O próprio rito do Baptismo (o imergir na água significa o morrer para a vida antiga de pecado; o emergir da água significa o nascimento de um outro homem, purificado do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência, do pecado) sugere a transformação e a ressurreição do homem para uma vida nova – a vida em Cristo. A partir daí, o homem devia adoptar uma nova maneira de pensar e de agir, consequência do seu compromisso com Cristo e com a proposta de vida que Cristo veio apresentar.
Contudo, mesmo depois de ter optado por Cristo, o homem continua marcado pela sua condição de debilidade e de fragilidade… Essa condição faz com que, por vezes, sinta a tentação de regressar ao homem velho do egoísmo, do orgulho, do pecado… O crente, animado pelo Espírito é, portanto, chamado a renovar cada dia a sua adesão a Cristo e a construir a sua existência de forma coerente com os compromissos que assumiu no dia do seu Baptismo. O homem novo não é uma realidade adquirida de uma vez por todas, no dia em que se optou por Cristo; mas é uma realidade continuamente a fazer-se, que exige um trabalho contínuo e uma constante renovação.

ACTUALIZAÇÃO

• O cristão é, antes de mais, alguém que encontrou Cristo, que escutou o seu chamamento, que aderiu à sua proposta. A consequência dessa adesão é passar a viver de uma forma diferente, de acordo com valores diferentes, e com uma outra mentalidade. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo. Antes de mais devemos tomar consciência de que também nós encontrámos Cristo, fomos chamados por Ele, aderimos à sua proposta e assumimos com Ele um compromisso. O momento do nosso Baptismo não foi um momento de folclore religioso ou uma ocasião para cumprir um rito cultural qualquer; mas foi um verdadeiro momento de encontro com Cristo, de compromisso com Ele e o início de uma caminhada que Deus nos chama a percorrer, com coerência, pela vida fora, até chegarmos ao homem novo.

• Paulo convida insistentemente os crentes a deixar a vida do homem velho… O homem velho é o homem dominado pelo egoísmo, pelo orgulho, que vive de coração fechado a Deus e aos irmãos, que vive instalado em esquemas de opressão e de injustiça, que gasta a vida a correr atrás dos deuses errados (o dinheiro, o poder, o êxito, a moda…), que se deixa dominar pela cobiça, pela corrupção, pela concupiscência, pela ira, pela maldade e se recusa a escutar a proposta libertadora que Deus lhe apresenta. Provavelmente, não nos revemos na totalidade deste quadro; mas não teremos momentos em que construímos a nossa vida à margem das propostas de Deus e em que negligenciamos os valores de Deus para abraçar outros valores que nos escravizam?

• Paulo apela a que os crentes vivam a vida do homem novo. O homem novo é o homem continuamente atento às propostas de Deus, que aceita integrar a família de Deus, que não se conforma com a maldade, a injustiça, a exploração, a opressão, que procura viver na verdade, no amor, na justiça, na partilha, no serviço, que pratica obras de bondade, de misericórdia, de humildade, que dia a dia dá testemunho, com alegria e simplicidade, dos valores de Deus. É este o meu “projecto” de vida? Os meus gestos e atitudes de cada dia manifestam a realidade de um homem novo, que vive em comunhão com Deus e no amor aos irmãos?

• Todos nós, no dia do nosso Baptismo, optámos pelo homem novo… É preciso, no entanto, termos consciência que a construção do homem novo nunca é um processo acabado… A monotonia, o cansaço, os problemas da vida, as influências do mundo, a nossa preguiça e o nosso comodismo levam-nos, muitas vezes, a instalarmo-nos na mediocridade, nas “meias tintas”, na não exigência, na acomodação; então, o homem velho espreita-nos a cada esquina e toma conta de nós… Precisamos de ter consciência de que em cada minuto que passa tudo começa outra vez; precisamos de renovar continuamente as nossas opções e o nosso compromisso, numa atenção constante ao chamamento de Deus. O cristão não cruza os braços considerando que já atingiu um nível satisfatório de perfeição; mas está sempre numa atitude de vigilância e de conversão, para poder responder adequadamente, em cada instante, aos desafios sempre novos de Deus.



ALELUIA – Mt 4,4b

Aleluia. Aleluia.

Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.


EVANGELHO – Jo 6,24-35

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
quando a multidão viu
que nem Jesus nem os seus discípulos estavam à beira do lago,
subiram todos para as barcas
e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus.
Ao encontrá-l’O no outro lado do mar, disseram-Lhe:
«Mestre, quando chegaste aqui?»
Jesus respondeu-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
vós procurais-Me, não porque vistes milagres,
mas porque comestes dos pães e ficastes saciados.
Trabalhai, não tanto pela comida que se perde,
mas pelo alimento que dura até à vida eterna
e que o Filho do homem vos dará.
A Ele é que o Pai, o próprio Deus,
marcou com o seu selo».
Disseram-Lhe então:
«Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?»
Respondeu-lhes Jesus:
«A obra de Deus
consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou».
Disseram-Lhe eles:
«Que milagres fazes Tu,
para que nós vejamos e acreditemos em Ti?
Que obra realizas?
No deserto os nossos pais comeram o maná,
conforme está escrito:
‘Deu-lhes a comer um pão que veio do céu’».
Jesus respondeu-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu;
meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu.
O pão de Deus é o que desce do Céu
para dar a vida ao mundo».
Disseram-Lhe eles:
«Senhor, dá-nos sempre desse pão».
Jesus respondeu-lhes:
«Eu sou o pão da vida:
quem vem a Mim nunca mais terá fome,
quem acredita em Mim nunca mais terá sede».


AMBIENTE

No passado domingo, João contou-nos como Jesus alimentou a multidão com cinco pães e dois peixes, na “outra” margem do Lago de Tiberíades (cf. Jo 6,1-15). Ao “cair da tarde” desse dia, Jesus e os discípulos voltaram a Cafarnaum (cf. Jo 6,16-21).
O episódio que o Evangelho de hoje nos apresenta situa-nos em Cafarnaum, no “dia seguinte” ao episódio da multiplicação dos pães e dos peixes. Nessa manhã, a multidão que tinha sido alimentada pelos pães e pelos peixes multiplicados e que ainda estava do “outro lado” do lago apercebeu-se de que Jesus tinha regressado a Cafarnaum e dirigiu-se ao seu encontro.
A multidão encontra Jesus na sinagoga de Cafarnaum – uma cidade situada na margem ocidental do Lago e à volta da qual se desenrola uma parte significativa da actividade de Jesus na Galileia. Confrontado com a multidão, Jesus profere um discurso (cf. Jo 6,22-59) que explica o sentido do gesto precedente (a multiplicação dos pães e dos peixes).

MENSAGEM

A cena inicial (vers. 24) parece sugerir, à primeira vista, que a pregação de Jesus alcançou um êxito total: a multidão está entusiasmada, procura Jesus com afã e segue-O para todo o lado. Aparentemente, a missão de Jesus não podia correr melhor.
Contudo, Jesus percebe facilmente que a multidão está equivocada e que O procura pelas razões erradas. Na verdade, a multiplicação dos pães e dos peixes pretendeu ser, por parte de Jesus, uma lição sobre amor, partilha e serviço; mas a multidão não foi sensível ao significado profundo do gesto, ficou-se pelas aparências e só percebeu que Jesus podia oferecer-lhe, de forma gratuita, pão em abundância. Assim, o facto de a multidão procurar Jesus e Se dirigir ao seu encontro não significa que tenha aderido à sua proposta; significa, apenas, que viu em Jesus um modo fácil e barato de resolver os seus problemas materiais.
Na verdade, o gesto de repartir pela multidão os pães e os peixes gerou um perigoso equívoco. Jesus está consciente de que é preciso desfazer, quanto antes, esse mal-entendido. Por isso, nem sequer responde à pergunta inicial que Lhe põem (“Mestre, quando chegaste aqui?” – vers. 25); mas, mal se encontra diante da multidão, procura esclarecer coisas bem mais importantes do que a hora da sua chegada a Cafarnaum… As palavras que Jesus dirige àqueles que O rodeiam põem o problema da seguinte forma: eles não procuram Jesus, mas procuram a resolução dos seus problemas materiais (vers. 26). Trata-se de uma procura interesseira e egoísta, que é absolutamente contrária à mensagem que Jesus procurou passar-lhes. Depois de identificar o problema, Jesus deixa-lhes um aviso: é preciso esforçar-se por conseguir, não só o alimento que mata a fome física, mas sobretudo o alimento que sacia a fome de vida que todo o homem tem. A multidão, ao preocupar-se apenas com a procura do alimento material, está a esquecer o essencial – o alimento que dá vida definitiva. Esse alimento que dá a vida eterna é o próprio Jesus que o traz (vers. 27).
O que é preciso fazer para receber esse pão? – pergunta-se a multidão (vers. 28). A resposta de Jesus é clara: é preciso aderir a Jesus e ao seu projecto (vers. 28). Na cena da multiplicação dos pães, a multidão não aderiu ao projecto de Jesus (que falava de amor, de partilha, de serviço); apenas correu atrás do profeta milagreiro que distribuía pão e peixes gratuitamente e em abundância… Mas, para receber o alimento que dá vida eterna e definitiva, é preciso, que a multidão acolha as propostas de Jesus e aceite viver no amor que se faz dom, na partilha daquilo que se tem com os irmãos, no serviço simples e humilde aos outros homens. É acolhendo e interiorizando esse “pão” que se adquire a vida que não acaba.
Os interlocutores de Jesus não estão, no entanto, convencidos de que esse “pão” garanta a vida definitiva. Custa-lhes a aceitar que a vida eterna resulte do amor, do serviço, da partilha. O que é que garante, perguntam eles, que esse seja um caminho verdadeiro para a vida definitiva (vers. 30)? Qual a prova de que a realização plena do homem passe pelo dom da própria vida aos demais? Porque é que Jesus não realiza um gesto espectacular – como Moisés, que fez chover do céu o maná, não apenas para cinco mil pessoas, mas para todo o Povo e de forma continuada – para provar que a proposta que Ele faz é verdadeiramente uma proposta geradora de vida (vers. 31)?
Jesus responde pondo a questão da seguinte forma: o maná foi um dom de Deus para saciar a fome material do seu Povo; mas o maná não é esse “pão” que sacia a fome de vida eterna do homem. Só Deus dá aos homens, de forma contínua, a vida eterna; e esse dom do Pai não veio ao encontro dos homens através de Moisés, mas através de Jesus (vers. 32-33). Portanto, o importante não é testemunhar gestos espectaculares, que deslumbram e impressionam mas não mudam nada; mas é acolher a proposta que Jesus faz e vivê-la nos gestos simples de todos os dias.
A última frase do nosso texto identifica o próprio Jesus, já não com o “portador” do pão, mas como o próprio pão que Deus quer oferecer ao seu Povo para lhe saciar a fome e a sede de vida (vers. 35). “Comê-lo” será escutar a sua Palavra, acolher a sua proposta, assimilar os seus valores, interiorizar o seu jeito de viver, fazer da vida (como Jesus fez) um dom total de amor aos irmãos. Seguindo Jesus, acolhendo a sua proposta no coração e deixando que ela se transforme em gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, o homem encontrará essa “qualidade” de vida que o leva à sua realização plena, à vida eterna.

ACTUALIZAÇÃO

• O caminho que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em tentativas falhadas de realização, em esquemas equívocos, em falsas miragens de felicidade e de realização, em valores efémeros, em propostas que parecem sedutoras mas que só geram escravidão e dependência… Na verdade, o dinheiro, o poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social, os prazeres, os amigos são valores efémeros que não chegam para “encher” totalmente a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno. Como podemos “encher” a nossa vida e dar-lhe pleno significado? Onde encontrar o “pão” que mata a nossa fome de vida?

• Jesus de Nazaré é o “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão central que o Evangelho deste domingo nos propõe. É em Jesus e através de Jesus que Deus sacia a fome e a sede dos homens e lhes oferece a vida em plenitude. Isto leva-nos às seguintes questões: que lugar é que Jesus ocupa na nossa vida? Ele é, verdadeiramente, a coordenada fundamental à volta da qual construímos a nossa existência? Para nós, Jesus é uma figura do passado (embora tenha sido um homem excepcional) que a história absorveu e digeriu, ou é o Deus que continua vivo e a caminhar ao nosso lado, oferecendo-nos vida em plenitude? Ele é “mais uma” das nossas referências (ao lado de tantas outras) ou a nossa referência fundamental? Ele é alguém a quem adoramos, com respeito e à distância, ou o irmão que nos indica o caminho, que nos propõe valores, que condiciona a nossa atitude face a Deus, face aos irmãos e face ao mundo?

• O que é preciso fazer para ter acesso a esse “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”? De acordo com o Evangelho deste domingo, a resposta é clara: é preciso aderir (“acreditar”) a Jesus, o “pão” que o Pai enviou ao mundo para saciar a fome dos homens. Aderir a Jesus é escutar o seu chamamento, acolher a sua Palavra, assumir e interiorizar os seus valores, segui-l’O no caminho do amor, da partilha, do serviço, da entrega da vida a Deus e aos irmãos. Trata-se de uma adesão que deve ser consequente e traduzir-se em obras concretas. Não chegam declarações de boas intenções, ou actos institucionais que nos fazem constar dos livros de registo da nossa paróquia; aderir a Jesus é assumir o seu estilo de vida e fazer da própria vida um dom de amor, até à morte.

• No Evangelho deste domingo, Jesus mostra-Se profundamente incomodado quando constata que a multidão o procura pelas razões erradas e, sem preâmbulos, apressa-Se em desfazer os equívocos. Ele não quer, de forma nenhuma, que as pessoas O sigam por engano, ou iludidas. Há, aqui, um convite implícito a repensarmos as razões porque nos envolvemos com Cristo… É um equívoco procurar o Baptismo porque é uma tradição da nossa cultura; é um equívoco celebrar o matrimónio na Igreja porque, assim, a cerimónia é mais espectacular e proporciona fotografias mais bonitas; é um equívoco assumir tarefas na comunidade cristã para nos auto-promovermos ou para resolvermos os nossos problemas materiais; é um equívoco receber o sacramento da Ordem porque o sacerdócio nos proporciona uma vida cómoda e tranquila; é um equívoco praticarmos certos actos de piedade para que Jesus nos recompense, nos livre de desgraças, nos pague resolvendo algumas das nossas necessidades materiais… A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida.

• A recusa de Jesus em realizar gestos espectaculares (como fazer o maná cair do céu), mostra que, normalmente, Deus não vem ao encontro do homem para lhe oferecer a sua vida em gestos portentosos, que deixam toda a gente espantada e que testemunham, de forma inequívoca, a sua presença no mundo; mas Deus actua na vida do homem de forma discreta, embora duradoura e permanente. Deus vem, todos os dias, ao encontro do homem e, sem forçar nem se impor, convida-o a escutar a Palavra de Jesus, propõe-lhe a adesão a Jesus e ao seu projecto, ensina-lhe os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos de Deus, para o conseguirmos perceber e encontrar, no caminho da nossa vida.

 FONTE:

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
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quinta-feira

17º DOMINGO TEMPO COMUM - INTERNAUTAS MISSIONÁRIOS

                               


Evangelho - Jo 6,1-15

26 de Julho de 2015
Ano  B

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES-José Salviano


O episódio da multiplicação dos pães, é mais uma grande demonstração do poder divino de Jesus. Seria preciso muito dinheiro para saciar a fome daquela multidão Leia mais

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“UMA GRANDE MULTIDÃO O SEGUIA...” – Olívia Coutinho

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Dia 26 de Julho de 2015

Evangelho de Jo6,1-15

O evangelho que a liturgia deste Domingo nos convida a refletir, mostra-nos mais uma vez, a sensibilidade de Jesus diante à necessidade humana!
O texto narra o episódio  da multiplicação dos pães: o milagre da partilha! O ponto fundamental deste acontecimento, é o amor, o amor que nos leva à partilha! 
A narrativa nos diz que Jesus, vendo uma multidão indo ao seu encontro, pergunta à Felipe: “ Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” Ele disse isso para colocar o discípulo à prova, pois como diz no evangelho, Jesus bem  sabia o que  fazer!
Na sua infinita sabedoria, Ele transforma uma situação aparentemente impossível de se resolver, isto é: saciar a fome de uma multidão com poucos recursos humanos, numa aula prática, ensinando os discípulos e hoje a nós,  que o problema emergencial da fome se resolva com a abertura do coração.  Ao Abençoar um pouco de pão e um pouco de peixe  colocado em comum, acontece o milagre da partilha, o milagre do amor!  Onde existe amor, existe partilha, onde existe partilha, Deus entra e o milagre da multiplicação acontece!
Como seguidores de Jesus, não podemos fechar os olhos diante às necessidades do nosso irmão e muito menos transferir para outros, a nossa responsabilidade para com eles!
Como filhos do mesmo Pai, pertencente a mesma família, somos corresponsáveis pela vida do nosso irmão, não podemos permanecer indiferentes aos seus problemas, problemas, que ao chegarem ao nosso conhecimento, passam a ser nossos também! De nada adianta, erguermos as nossas mãos para louvar o Senhor, se não estamos dispostos a  abaixá-las, para erguer o nosso irmão que está no chão!
A fome de tantos irmãos, é uma ferida que sangra constantemente no coração de Jesus,  está em nossas mãos, a cura desta ferida, afinal, quem de nós não tem alguns “pãezinhos” e alguns “peixinhos” para partilhar?
É difícil acreditar, mas é a mais triste realidade: num mundo de tanta fartura de alimentos, ainda hoje, morrem pessoas vítimas do nosso abandono, irmãos nossos que continuam morrendo de fome por consequência do nosso egoísmo, que nos fecha à partilha.
Hoje, somos nós os encarregados de saciar a fome de muitos irmãos perdidos nas periferias da vida, os famintos não somente do pão material, como também, famintos de justiça e de amor! Ninguém pode dizer que não tem nada a oferecer, todos nós podemos  ajudar aos que nada tem, basta abrir o coração.
É também,  compromisso cristão, promover o outro, conscientizá-lo do  seu valor diante de Deus, só que antes,  precisamos saciar a sua fome, criar no seu coração a necessidade de Deus, como fez Jesus: a partir da necessidade do pão material, Ele despertou na multidão,  a necessidade de Deus, ou seja, a necessidade do pão da vida eterna que é Ele mesmo! Quem partilha com o outro o pão material, tem oportunidade de  despertar nele, a necessidade de Deus, com seu gesto concreto de amor. 
Precisamos aprender a olhar o irmão com o olhar de Jesus, um olhar que não apenas constata a sua necessidade, mas que nos leve a fazer algo em seu favor.

FIQUE NA PAZ DE JESUS! – Olívia Coutinho
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O que temos é tão pouco, Senhor, mas tu és tão rico em misericórdia
Na primeira leitura, o milagre de Eliseu é uma prefiguração do sinal realizado por Jesus, a multiplicação dos pães. E esse sinal, por sua vez, aponta para uma realidade maior, a eucaristia, fonte e ápice da comunhão entre os seguidores do Messias. Nutridos por um só pão, o Corpo do Senhor, os fiéis formam um só corpo místico de Cristo. Essa realidade é o fundamento da comunhão e da práxis cristã mencionada na epístola aos Efésios, quando se exorta os fiéis a “conservar a unidade do espírito no vínculo da paz”. Essa comunhão é ação de Deus em nós e se traduz em serviço que ultrapassa as fronteiras da Igreja como instituição.
Estamos a serviço da construção do mundo fraterno, não importa quão pequenos sejamos ou quão pouco tenhamos a contribuir.
Cada um deve fazer a sua parte e esperar que Deus faça a dele.

Evangelho (Jo 6,1-15)






Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu os entre eles.
No Evangelho de João, Jesus realiza muitos sinais que apontam para a ação de Deus exercida por meio da missão messiânica. No texto de hoje, Jesus realiza o sinal do pão, muito significativo para a compreensão de sua identidade e de sua missão. O ambiente em que a cena se desenrola é importante para a compreensão da importância e do alcance da mensagem veiculada por esse sinal.
A Páscoa estava próxima, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Esses três elementos nos mostram Jesus como o Mestre. A montanha é o lugar da revelação divina, onde Moisés recebeu a Lei, a instrução para o povo. O sentar-se é atitude própria do mestre quando vai ensinar seus discípulos. E, por último, a menção à Páscoa nos indica qual ensinamento Jesus quer transmitir: é um ensinamento novo realizado por meio do sinal do pão.
Antes do sinal, há uma instrução aos discípulos por meio da pergunta sobre como se pode resolver o problema de alimentar a multidão. Esse tipo de pergunta é própria do mestre para chamar a atenção do discípulo para o ensinamento que quer transmitir. E, primeiramente, o que Jesus quer ressaltar é o reconhecimento do que é ofertado: é pouco, mas há docilidade para a oferta. O ofertante é anônimo, o que pressupõe que qualquer pessoa pode ofertar algo a Deus e, por meio de uma oferta simples, mediar a ação de Deus em prol da salvação do mundo.
O sinal aqui apresentado é a eucaristia, retratada nas palavras da tradição: “tomou os pães e, depois de ter dado graças, os distribuiu” (v. 11) e em outro texto (Jo 6,23), quando se diz que há um único pão.
A distribuição do pão feita pelos discípulos significa que eles devem difundir o que receberam do Senhor: o batismo, representado pelo “peixe”, e a eucaristia, “os pães”. Essas realidades sacramentais são a fonte da pertença à comunidade e da vida cristã.
Após se fartarem, os discípulos juntaram 12 cestos, o suficiente para alimentar todo o Israel, a quem deveria ser primeiramente anunciado o evangelho. A menção de que nada deve se perder alude a Jo 6,39, que afirma que a vontade de Deus é que não se perca nenhum daqueles que pertencem a Jesus.
As pessoas ficaram admiradas, mas não foram capazes de entender o sinal do pão.
O reconhecimento de Jesus como o profeta que devia vir ao mundo refere-se à esperança de um messias semelhante a Moisés, alguém que os libertaria do poder político do império romano, da mesma forma que Moisés havia libertado o povo da opressão do faraó do Egito.
Como no passado, ainda hoje se faz necessário entender esse sinal para compreender a vida e missão de Jesus. Jesus condensou a sua vida no sinal do pão. Como o trigo é triturado para fazer o pão, Jesus é o trigo triturado que gera vida plena. Sua oferta de vida, sua entrega plena na cruz, é sinal do amor de Deus pela humanidade. Por isso, batismo e eucaristia são oferecidos a todos como caminho para a salvação. Por eles, somos inseridos no mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus. Somos feitos participantes dessa vida de entrega por amor que gera vida plena.
A opção por Jesus, por sua vida, requer que cada cristão saia do comodismo, pois a menor de nossas atitudes, por mais irrisória que seja diante dos desafios, é aceita como oferta generosa em favor da realização do bem maior, o amor pleno de Deus que gera salvação para o mundo.
Jesus triturou sua vida, ofertando-a no pão; somos chamados, pela nossa participação na mesa eucarística, a fazer o mesmo que ele: ofertar nossa vida para que ninguém se perca, mas todos ressuscitem no último dia.
1ª leitura (2Rs. 4,42-44)
Comeram e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor
Os pães que o homem trouxe para Eliseu eram uma oferenda a Deus a ser entregue pelas mãos do profeta. Eram pães feitos com as primícias, isto é, com os primeiros e melhores grãos da colheita. O texto menciona um homem, uma pessoa anônima, cujo nome não importa saber, pois, se essa narrativa chegou até nossos dias, isso se deve ao gesto dele de partilha e à ação de Deus em resposta àquele gesto.
Há uma ordem do profeta para que o ofertante distribua os pães ao povo. É uma ordem estranha, porque o homem reconhece que tem tão pouco para ofertar e há tanta gente para alimentar. O profeta reitera a ordem, agora assegurando, por meio de uma profecia, que Deus fará com que todos sejam saciados e ainda sobrará. A palavra dita pelo profeta foi finalmente cumprida quando o ofertante mudou o foco dos próprios pensamentos, deixou de centralizar-se na consideração do pouco que tinha e passou a confiar na ação de Deus.
Durante séculos, os sábios de Israel viram nessa passagem bíblica não apenas a providência de Deus, mas a importância da participação humana – apesar de ter pouco a oferecer – na obra conjunta com Deus. A partilha é a efetivação da vocação humana à comunhão fraterna. Todo gesto de partilha não passará sem uma resposta de Deus.
2ª leitura (Ef. 4,1-6)
Num só corpo
Com o capítulo 4, a carta aos Efésios começa grande exortação sobre o que vem a ser a vida cristã na prática. No texto de hoje, os cristãos devem levar uma vida digna da vocação que receberam: serem outro Cristo.
A vida cristã é regida por valores totalmente diferentes daqueles que orientam a sociedade de ontem e de hoje.
“Suportai-vos uns aos outros no amor” (v. 2) significa que o amor de cada um ao seu próximo deve ser o suporte, para que ninguém venha a cair. “Pelo vínculo da paz” quer dizer que o Shalom é o elo que nos mantém unidos no mesmo espírito. O Shalom não significa concordar sempre com as ideias dos outros ou nunca haver atritos entre nós. Significa que o outro pode contar comigo sempre, embora pensemos bem diferente um do outro.
Somos distintos, mas formamos um só corpo. Estamos conectados existencialmente, pois o Pai está “no meio de nós e em cada um de nós” (v. 6). Não é possível seguir Jesus a não ser entrando nessa comunhão. “Há um só corpo”, o egoísmo sequestra a dignidade da vocação à comunhão, que se efetiva em gestos concretos no dia a dia.
Pistas para reflexão
– Todo aquele que faz autêntica experiência com Deus torna-se mais preocupado com o ser humano e mais dócil à ação divina.
Quem tem um verdadeiro encontro com Deus põe-se a seu serviço em favor do próximo. A mesquinharia, o egoísmo e o indiferentismo são sinais de que a pessoa está longe de ser religiosa no sentido exato da palavra, ou seja, de estar ligada a Deus. Em vez de servir a Deus servindo o próximo, muitas pessoas são, de fato, usurpadoras do sagrado, ou seja, usam a religião em benefício dos próprios interesses.
– É louvável que a homilia incentive cada um a fazer sua parte, a não ser indiferente às necessidades das pessoas nem à vontade de Deus. Ainda há muitos necessitados em nosso meio, o que é sinal de que há muito ainda a ser feito para que possamos dizer, com toda a certeza, que vivemos em comunhão.
Aproximar-se da mesa eucarística com um coração indiferente às necessidades alheias é uma ofensa à misericórdia de Deus.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
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Multiplicar os pães: o pouco com Deus é muito…




O evangelho de hoje nos mostra como Jesus se preocupava com o bem-estar das pessoas. Se alguém diz que nosso Senhor só se preocupava com a “salvação da alma” e não se importava com o corpo, com a fome do corpo das pessoas, provavelmente o faz porque não conhece bem os evangelhos.
Sabemos que Jesus quer oferecer a seus seguidores um alimento muito melhor, bem superior ao pão que sacia o estômago. Quer nos dar uma vida nova, como celebramos em cada eucaristia, quando ele mesmo se faz nosso sustento. Mas, mesmo assim, Jesus não diz que a alimentação do corpo seja coisa sem importância. Nosso Mestre nos ensina que alimento bom é alimento partilhado. Comida é para ser dividida, distribuída. Dizem os estudiosos da Bíblia que o pão de cevada era o pão barato, o pão que os mais pobres comiam. Foi com esse pão simples que a multidão se alimentou, até todos ficarem satisfeitos, alegres. Sentados no gramado, comendo pão barato, os seguidores de Jesus fizeram um banquete, pois banquetes não acontecem só com comidas e bebidas caras. As verdadeiras ceias, os banquetes autênticos, acontecem quando há a alegria de partilhar, de dividir. Do que adianta encher a barriga se não há contentamento, paz e harmonia?
As pessoas alimentadas por Jesus não entenderam logo a mensagem e quiseram transformá-lo em rei. Imaginemos como seria fácil ter um rei que fizesse o pão render daquele jeito. Mas Jesus não quer oferecer facilidades. Não queria seguidores desejosos apenas de se fartar de pão. Nosso Mestre quer discípulos interessados em aprender a mensagem da partilha e do amor. Quem o segue não pode pensar só em si. É preciso ter fé e ser solidário, amoroso, preocupado também com o bem-estar dos outros.
Nossas celebrações eucarísticas não são reuniões de gente que só vem procurar a prosperidade material individual e egoísta, mas é o encontro de irmãos e irmãs que se aproximam de Jesus com fé e disposição para carregar a cruz. O segredo para perseverar na escola do Mestre que é o pão da vida é obedecer a seu mandamento: amar uns aos outros. Com amor, o pão que parece simples e pouco se torna muito. Mas sem amor não há pão que nos sacie. Dá-nos, Jesus, o pão do teu amor!
Claudiano Avelino dos Santos, ssp
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Alimentar os famintos
O problema da fome no mundo – em que pese o avançado estágio atual da técnica – continua a ceifar muitas vidas e constitui um desafio para as autoridades, as instituições e a sociedade toda. A Igreja não deve se isentar dessa preocupação. Jesus envolve os discípulos na solução do problema: “Fazei sentar as pessoas”. Os quatro evangelhos narram seis multiplicações de pães, o que mostra a importância que a Igreja primitiva dava ao assunto. A Igreja encontra a sua verdadeira identidade à medida que as necessidades dos outros se tornam assunto dela.
Alimentar os famintos é uma das “obras de caridade” – certamente uma das mais nobres. Dar comida a quem tem fome não deve ser visto apenas como gesto de assistencialismo. Quem tem fome não pode esperar. Tal ação deve representar também e principalmente uma preocupação com políticas públicas em favor dos famintos e empobrecidos, voltadas à distribuição de renda, à criação de emprego…
A desproporção constatada por André – cinco pães para cinco mil homens – é a imagem mais provocadora de uma Igreja pobre e modesta, composta de gente que “não conta”. A desproporção se anula quando o pouco é distribuído, partilhado. Preocupar-se com os famintos não é pedir a Jesus que transforme as pedras em pães. Significa, antes, aceitar que ele transforme nosso coração de pedra em coração de carne, capaz de saciar as pessoas com nosso serviço e nossa solidariedade, superando a cultura do individualismo.
A questão do pão material está intimamente ligada à eucaristia. Não nos é permitido celebrá-la com a consciência tranquila enquanto houver alguém passando fome. Quando comungamos o pão eucarístico, devemos estar dispostos a partilhar também o pão material com os irmãos e irmãs necessitados. Quem não se dispõe a isso, como pode se aproximar de Cristo partilhado em alimento? Dividir o pão eucarístico é tarefa da Igreja tanto quanto a solidariedade e a partilha com os que sofrem a fome de pão material, síntese de todas as necessidades básicas da pessoa.
padre Nilo Luza, ssp

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O banquete messiânico
No meio da seqüência de Marcos surgem de repente cinco evangelhos tomados de João. A razão é que o episódio da multiplicação dos pães encontra-se muito mais elaborado em João, e também o fato de Marcos ser mais breve que os outros evangelhos, deixando espaço para alguns trechos de João que, senão, ficariam sem lugar na liturgia dominical. A versão joanina da multiplicação do pão (evangelho) é semelhante à de Marcos, coloca, porém, os acentos de modo diferente. Enquanto Marcos lembra a situação do povo no êxodo (os grupos de 50 e 100 etc.), João acrescenta alguns detalhes que evocam a atuação do profeta Eliseu (cf. 1ª  leitura): os pães ”de cevada”, o “rapaz” (cf. Giezi em 2Rs. 4,39).
Com isso se relaciona a reação do povo no fim: Jesus é “o profeta que deve vir ao mundo” (Elias, a quem Eliseu é intimamente associado) (Jo 6,14).
Também a distribuição dos papéis é diferente. Enquanto em Marcos os discípulos tomam a iniciativa de pensar em comida e Jesus os instrui para que eles mesmos dêem de comer ao povo (Mc. 6,37; desde 6,7 estamos em contexto de “aprendizagem”), João coloca a iniciativa soberanamente nas mãos de Jesus; a gente até acha que ele nem quis pregar, somente multiplicar pão (6,5-6). Em Marcos, o mistério do Cristo é velado e os discípulos, incompreensivos. Em João, Cristo radia uma luz divina e os discípulos são testemunhas – igualmente incompreensivas – de uma revelação de seu mistério em forma de um “sinal” (como João chama os milagres). Mistério que já se faz pressentir pela palavrinha “donde (compraremos pão)?” (6,5), que, para o leitor iniciado no mistério de Jesus, já sugere a resposta: “de Deus”. É o que o “discurso do Pão da Vida” (cf. próximos domingos) mostrará. O Jesus de Marcos esconde para as categorias judaicas a natureza de sua missão, porque são inadequadas para a compreender; o de João revela para o cristão a glória de Deus. Mas o resultado é o mesmo: quem fica com as categorias antigas, fica por fora.
No fim do episódio, João descreve com insistência a quantia de restos que sobraram, sublinhando mais uma vez a revelação da obra de Deus em Jesus Cristo: nada (e ninguém) se pode perder (cf. 6,12, cf. 6,38). Depois, mostra o outro lado da medalha; povo reconhece em Jesus o profeta que repete as façanhas de Eliseu e Elias, o profeta escatológico que deve vir ao mundo (cf. Ml. 3,1.23; Dt. 18,15); mas não reconhece categoria divina. Quer prender Jesus nas categorias messiânicas tradicionais: proclamá-lo rei. Mais tarde, ficará claro em que sentido Jesus é rei (Jo 18,33-37). Mas, neste momento, Jesus não pode aceitar o messianismo do povo; retira-se na solidão (6,14-15, cf. semelhante recusa do messianismo judeu em Mc. 8,27-33).
A 2ª leitura ajuda para sentir o ambiente de reunião escatológica que marca a multiplicação dos pães, realização do banquete escatológico anunciado em Is 25,6-8. Pois ­esse banquete é para todos os povos – universalismo realizado de maneira plena na unidade da Igreja, sucintamente resumida por Paulo em Ef. 4,4-6: um só Corpo, um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai, sete (!) elementos que fazem da Igreja uma unidade divina. Para os leitores da carta, essa unidade era, muitas vezes, problemática. Nós estamos acostumados a dizer que a Igreja é una, e ficamos cegos para as reais divisões que existem no seu seio; estamos “ideologicamente proibidos” de enxergá-las (não pelo papa, mas por nosso próprio comodismo). Contudo, será bom checar a realização dessa unidade. E melhor ainda, meditar sobre as qualidades que servem de base para essa unidade: a humildade, a mansidão, a paciência, o mútuo suportar-se na caridade. Não parecem qualidades subversivas, mas são: a subversão da bondade irresistível, desarmada e desarmante, o “vínculo da paz”, que garante a unidade do Espírito. Não entrar no jogo das oposições intermi­náveis, mas, a partir de um lúcido reconhecimento das divisões existentes, superá-las, pela erradicação firme e paciente de suas causas mais profundas (portanto, não por um cômodo encobrimento da realidade). Eis aí o caminho para a verdadeira unidade universal dos irmãos, para que juntos possam sentar-se à mesa do banquete do Senhor.
Johan Konings "Liturgia dominical
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Salta à vista o tema do pão na liturgia de hoje: ele aparece claramente na primeira leitura e no evangelho e, de modo implícito, está presente também no salmo. Na tradição bíblia, o pão recorda duas coisas importantíssimas. Lembra-nos, primeiramente, que não somos auto-suficientes, não possuímos a vida de modo absoluto: devemos sempre renová-la, lutar por ela. O homem não se basta a si próprio; precisa do pão de cada dia. E aqui, um segundo importante aspecto: o homem não pode, sozinho, prover-se de pão: é Deus quem faz a chuva cair, quem torna o solo fecundo, quem dá vigor à semente. Assim, a vida humana está continuamente na dependência do Senhor. Portanto, meus caros, todos necessitamos do pão nosso de cada dia – e este é dom de Deus. “O que tens tu, ó homem, que não tenhas recebido? E, se recebeste, do que, então, te glorias?”
Desse modo, Jesus, ao multiplicar os pães, apresenta-se como aquele que dá vida, que nos sacia com o sentido da existência – sim, porque não há vida de verdade para quem vive sem saber o sentido do viver! – Dá-nos, Jesus a vida física, a vida saudável, mas dá-nos, mais que tudo, a razão verdadeira de viver uma vida que valha a pena!
Mas, acompanhemos com mais detalhes a narrativa do quarto Evangelho. Jesus, num lugar deserto, estando próxima a Páscoa, festa dos judeus, manda o povo sentar-se sobre a relva verde, toma uns pães e uns peixes, dá graças, parte, e os distribui... multiplicando os pães e os peixes. Todos comeram e ficaram saciados. Não aparece no evangelho deste domingo, mas sabemos, pela continuação do texto de são João, que o povo, após o milagre, foi à procura do Senhor e ele recriminou duramente a multidão: “Vós me procurais não porque vistes os sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados!” Que sinal o povo deveria ter visto? Recordemos que no final do trecho que escutamos no evangelho o povo exclama: “Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo”. Eis: o povo até que começou a discernir o sentido do milagre de Jesus; mas, logo depois, fascinado simplesmente pelo pão material, pelas necessidades de cada dia, esquece o sinal. Insistimos: que sinal? Primeiro, que Jesus é o Novo Moisés, aquele profeta que o próprio Moisés havia anunciado em Dt. 11,18: “O Senhor Deus suscitará no vosso meio um profeta como eu”. Pois bem: como Moisés, Jesus reúne o povo num lugar deserto, como Moisés, sacia o povo com o pão... Mas, Jesus é mais que Moisés: ele é o Deus-Pastor que faz o rebanho repousar em verdes pastagens (“Havia muita relva naquele lugar... Jesus mandou que o povo se sentasse...”) e lhe prepara uma mesa. Era isso que o povo deveria ter compreendido; foi isso que não compreendeu...
E nós, compreendemos os sinais de Cristo em nossa vida? Somos capazes de descortinar o sentido dos seus gestos, seja na alegria seja na tristeza, seja na luz seja na treva? Os gestos de Jesus na multiplicação dos pães é também prenúncio da eucaristia. Os quatro gestos por ele realizados – tomou o pão, deu graças, partiu e deu – são os gestos da Última Ceia e de todas as ceias que celebram o sacrifício eucarístico do Senhor: na apresentação das ofertas tomamos o pão, na grande oração eucarística (do prefácio à doxologia – “Por Cristo, com Cristo...”) damos graças, no “Cordeiro de Deus” partimos e na comunhão distribuímos. Eis a Missa: o tornar-se presente dos gestos salvíficos do Senhor, dado em sacrifício e recebido em comunhão.
Vivendo intensamente esse Mistério, nos tornamos realmente membros do corpo de Cristo, que é a Igreja. Cumprem-se em nós, de modo real, as palavras do Apóstolo: “Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos”. Que o bendito Pão do céu, neste sinal tão pobre e humilde do pão e do vinho eucarísticos, nos faça compreender e acolher a constante presença do Senhor entre nós e nos dê a graça de vivermos de verdade a vida de Igreja, sendo um sinal seu no meio do mundo.
dom Henrique Soares da Costa

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A liturgia do 17º domingo comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta conosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.
O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da “fome” da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.
1 leitura: 2Re. 4,42-44 - AMBIENTE
As tradições proféticas sobre Elias e Eliseu (os “ciclos” de Elias e Eliseu) ocupam um espaço significativo no Livro dos Reis (cf. 1Re. 17,1-21,29; 2Re. 1,1-13,21). Referem-se a um período bastante conturbado – quer em termos políticos, quer em termos religiosos – da vida do Reino do Norte (Israel). Elias exerce a sua missão profética durante os reinados de Acab (874-853 a.C.) e de Acazias (853-852 a.C.); Eliseu dá o seu testemunho profético durante os reinados de Jorão (853-842 a.C.), de Jeú (842-813 a.C.) e de Joacaz (813-797 a.C.).
Os reis de Israel procuraram sempre estabelecer relações comerciais, econômicas, políticas e militares com os povos circunvizinhos. Essa abertura de fronteiras teve, no entanto, os seus custos em termos de fidelidade a Jahwé e à Aliança, uma vez que os cultos aos deuses estrangeiros entravam no país e ocupavam um lugar significativo na vida e no coração dos israelitas. É uma época de sincretismo religioso, em que a religião jahwista é, com a complacência até com o apoio declarado dos reis de Israel, preterida em favor dos cultos de Baal e de Astarte. Em termos sociais, é uma época em que se multiplicam as injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos. Tudo isto consubstancia um quadro de graves infidelidades contra Deus e contra a Aliança.
É contra este quadro que se levantam Elias e Eliseu. Elias aparece como o representante desses israelitas fiéis aos valores religiosos tradicionais, que recusavam a coexistência de Jahwéh e de Baal no horizonte da fé de Israel; e a luta de Elias será continuada por um dos seus discípulos – Eliseu.
Parece que Eliseu – o ator principal da primeira leitura deste domingo – fazia parte de uma comunidade de “filhos de profetas” (os “benê nebi'im” – 2Re. 2,3; 4,1). Trata-se de uma comunidade de homens que viviam pobremente (2Re. 4,1-7) e que eram os seguidores incondicionais de Jahwéh. O Povo consultava-os regularmente e buscava neles apoio face aos abusos dos poderosos. Eliseu é apresentado muitas vezes, nas histórias narradas no “ciclo de Eliseu” (cf. 2Re. 2; 3,4-27; 4,1-8,15; 9,1-10; 13,14-21), como um profeta “dos milagres”, cujas ações mostram a presença da força e da vida de Deus no meio do seu Povo. Outras vezes, Eliseu é o profeta da intervenção política; a sua ação neste campo ultrapassa mesmo as fronteiras físicas de Israel e chega a Damasco (cf. 2Re. 8,7-15).
MENSAGEM
O texto que nos é proposto como primeira leitura conta que um homem de Baal-Shalisha trouxe a Eliseu o “pão das primícias”: vinte pães de cevada e trigo novo num saco. De acordo com Lv. 23,20, o pão das primícias devia ser apresentado diante do Senhor e consagrado ao Jahwéh, embora depois revertesse em benefício do sacerdote… Deve ser este costume que está subjacente ao episódio da entrega dos pães a Eliseu.
Eliseu, no entanto, não conservou os dons para si, mas mandou reparti-los pelas pessoas que rodeavam o profeta. O “servo” do profeta não acreditava que os alimentos oferecidos chegassem para cem pessoas; no entanto, chegaram e ainda sobraram.
Estamos, aqui, diante de uma sucessão de gestos que revelam generosidade e vontade de partilhar: do homem que leva os dons ao profeta e do profeta que não os guarda para si, mas os manda partilhar com as pessoas que o rodeiam. A descrição de uma milagrosa multiplicação de pães de cevada e de grãos de trigo sugere que, quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha, a solidariedade, não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
Este relato fornecerá aos autores neo-testamentários o modelo literário em que se inspirarão para apresentar os relatos evangélicos das multiplicações dos pães (cf. Mc. 6,34-44; 8,1-10; Mt. 14,13-21; 15,32-38; Lc. 9,10-17).
ATUALIZAÇÃO
• O “profeta” é um homem chamado por Deus e enviado a ser o rosto de Deus no meio do mundo. Nas palavras e nos gestos do “profeta”, é Deus que Se manifesta aos homens e que lhes indica a sua vontade e as suas propostas. No gesto de repartir o pão para saciar a fome das pessoas, o “profeta” manifesta a eterna preocupação de Deus com a “fome” do mundo (fome de pão, fome de liberdade, fome de dignidade, fome de realização plena, fome de amor, fome de paz…) e a sua vontade de dar aos homens vida em abundância… Não tenhamos dúvidas: Deus preocupa-Se, todos os dias, em oferecer aos seus filhos vida em abundância. É Deus que nos dá, dia a dia, o pão que mata a nossa fome de vida.
• Como é que Deus atua para saciar a fome de vida dos homens? É fazendo chover do céu, milagrosamente, o “pão” de que o homem necessita? A nossa primeira leitura sugere que Deus atua de forma mais simples e mais normal… É através da generosidade e da partilha dos homens (primeiro do homem que decide oferecer o fruto do seu trabalho; depois, do profeta que manda distribuir o alimento) que o “pão” chega aos necessitados. Normalmente, Deus serve-Se dos homens para intervir no mundo e para fazer chegar ao mundo os seus dons. Muitas vezes sonhamos com gestos espetaculares de Deus e vivemos de olhos fixos no céu à espera que Deus Se digne intervir no mundo; e acabamos por não perceber que Deus já veio ao nosso encontro e que Ele Se manifesta na ação generosa de tantos homens e mulheres que praticam, sem publicidade, gestos de partilha, de solidariedade, de doação, de entrega. É preciso aprendermos a detectar a presença e o amor de Deus nesses gestos simples que todos os dias testemunhamos e que ajudam a construir um mundo mais justo, mais fraterno e mais solidário.
• Ao mostrar que é através das ações dos homens que Deus sacia a fome do mundo, o nosso texto convida-nos ao compromisso. Deus precisa de nós, da nossa generosidade e bondade, para ir ao encontro dos nossos irmãos necessitados e para lhes oferecer vida em abundância. Nós, os crentes, somos chamados a ser – como o profeta Eliseu – testemunhas desse Deus que quer partilhar com os homens o seu “pão”; e esse “pão” de Deus deve derramar-se sobre os nossos irmãos nos nossos gestos de partilha, de generosidade, de solidariedade, de amor sem limites.
2 leitura: Ef. 4,1-6 - AMBIENTE
A carta aos Efésios (que temos vindo a refletir e cujo texto vai continuar a acompanhar-nos nos próximos domingos) parece ser uma “carta circular”, enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor, inclusive aos cristãos de Éfeso. É considerada uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
De qualquer forma, é um texto bem trabalhado, que apresenta uma catequese sólida e bem elaborada. Poderia ser um texto da fase “madura” de Paulo. Alguns autores consideram a Carta aos Efésios uma espécie de síntese do pensamento paulino.
O texto que hoje nos é proposto como segunda leitura é o início da parte moral e parenética da carta (cf. Ef. 4,1-6,20). Temos, aí, uma espécie de “exortação aos batizados”, na qual Paulo reflete longamente sobre a edificação e o crescimento do “Corpo de Cristo”. Em termos sempre bastante concretos, Paulo dá pistas aos cristãos acerca da forma como eles devem viver os seus compromissos com Cristo, de forma a chegarem a ser Homens Novos.
MENSAGEM
O nosso texto começa com uma referência ao fato de Paulo estar preso… A condição de prisioneiro por causa de Jesus e do Evangelho dá um peso especial às recomendações do apóstolo: são as palavras de alguém que leva tão a sério a proposta de Jesus, que é capaz de sofrer e de arriscar a vida por ela.
Na perspectiva de Paulo, a vida nova exige, em primeiro lugar, que os crentes vivam unidos em Cristo. Ora, há comportamentos e atitudes que são condição necessária para que essa unidade se torne efetiva (vs. 2-3)… Antes de mais, Paulo refere a humildade, pois só ela permite superar o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência que afastam os irmãos e que erguem entre eles barreiras de separação; depois, Paulo refere a mansidão, irmã da humildade, e qualidade que derruba barreiras na comunhão; Paulo refere também a paciência, que permite ser tolerante e compreensivo para com as falhas dos irmãos e que permite entender e aceitar as diferentes maneiras de ser e de agir… Em resumo, trata-se, fundamentalmente, de fazer com que a caridade presida às relações que estabelecemos uns com os outros; o amor deve ser sempre o suporte das nossas relações humanas. A unidade é um dom de Deus; mas a sua efetivação depende do contributo e do esforço de cada irmão.
Na segunda parte do nosso texto, Paulo apresenta um conjunto de elementos que fundamentam a obrigatoriedade da unidade dos crentes: “há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança” na vida a que todos os crentes foram chamados; “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos se encontra” (vs. 4-6). A menção do Pai, do Filho e do Espírito, neste contexto, sugere que a Trindade é a fonte última e o modelo da unidade que os cristãos devem viver, na sua experiência de caminhada comunitária.
ATUALIZAÇÃO
• A Igreja é um “corpo” – o “Corpo de Cristo”. Naturalmente, esse “corpo” é formado por muitos membros, todos eles diversos; mas todos eles dependem de Cristo (a “cabeça” desse “corpo”) e recebem d’Ele a mesma vida. Formam, portanto, uma unidade… Têm o mesmo Pai (Deus), têm um projeto comum (o projeto de Jesus), têm o mesmo objetivo (fazer parte da família de Deus e encontrar a vida em plenitude), caminham na mesma direção animados pelo mesmo Espírito, têm a mesma missão (dar testemunho no mundo do projeto de amor que Deus tem para os homens). Neste esquema, não fazem qualquer sentido as divisões, os ciúmes, as rivalidades, as invejas, os ódios, as divergências que tantas vezes dividem os irmãos da mesma comunidade. Quando os irmãos não se esforçam por caminhar unidos, provavelmente ainda não descobriram os fundamentos da sua fé. A minha comunidade (cristã ou religiosa) é uma comunidade que caminha unida e solidária, partilhando a vida e o amor, apesar das diferenças legítimas dos seus membros? Em termos pessoais, sinto-me um construtor de unidade, ou um fator de divisão?
• Para que a unidade seja possível, Paulo recomenda aos destinatários da Carta aos Efésios a humildade, a mansidão e a paciência. São atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos. Como é que eu me situo face aos outros? A minha relação com os irmãos é marcada pelo egoísmo ou pela disponibilidade para servir e partilhar? Procuro estar atento às necessidades dos outros e ir ao seu encontro, ou levanto muros de orgulho e de auto-suficiência que impedem a relação, a comunhão, a comunicação? Estou aberto às diferenças e disposto a dialogar, ou vivo entrincheirado nos meus preconceitos, catalogando e marginalizando aqueles que não concordam comigo?
• A Igreja é uma unidade; mas é também uma comunidade de pessoas muito diferentes, em termos de raça, de cultura, de língua, de condição social ou econômica, de maneiras de ser... As diferenças legítimas nunca devem ser vistas como algo negativo, mas como uma riqueza para a vida da comunidade; não devem levar ao conflito e à divisão, mas a uma unidade cada vez mais estreita, construída no respeito e na tolerância. A diversidade é um valor, que não pode nem deve anular a unidade e o amor dos irmãos.
Evangelho: Jo 6,1-5 - AMBIENTE
A liturgia propõe-nos hoje (e durante mais alguns domingos) a leitura do capítulo 6 do Evangelho segundo João – a catequese sobre Jesus, o Pão da vida.
Na primeira parte do Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42), João apresenta a atividade de Jesus no sentido de criar e dar vida ao homem, de forma a que surja um Homem Novo, liberto do egoísmo e do pecado, animado pelo Espírito, capaz de seguir Jesus e de viver na mesma dinâmica de Jesus – isto é, no amor ao Pai e aos irmãos. Esta primeira parte divide-se em dois “livros” – o “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56) e o “Livro da Hora” (cf. Jo 12,1-19,42).
No “livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor do Quarto Evangelho expõe, recorrendo a símbolos significativos (a “água” – cf. Jo 4,1-5,47; o “pão” – cf. Jo 6,1-7,53; a “luz” – cf. Jo 8,12-9,41; o “pastor” – cf. Jo 10,1-42; a “ressurreição” – cf. Jo 11,1-56), a sua catequese sobre a ação de Jesus em favor do homem. Jesus é aí apresentado como a proposta de vida verdadeira que o homem é convidado a acolher e a assimilar.
No capítulo 6 – que hoje começamos a ler – João apresenta Jesus como o Pão que sacia a sede de vida que o homem sente. O episódio hoje narrado é geograficamente situado “na outra margem” do lago de Tiberíades (no capítulo anterior, Jesus estava em Jerusalém, no centro da instituição judaica; agora, sem transição, aparece na Galiléia, atravessando o “mar” para o outro lado). Em termos cronológicos, João nota que estava perto a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egito.
MENSAGEM
Uma leitura, ainda que superficial, do texto que nos é proposto mostra alguns interessantes paralelos entre a cena da multiplicação dos pães e a libertação do Povo de Deus da escravidão do Egito, com Jesus no papel de Moisés, o libertador. O fato dá-nos, logo à partida, uma chave de leitura para entender esta catequese: João quer apresentar a ação de Jesus como uma ação libertadora que visa fazer passar o Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade… A catequese que João nos apresenta vai desenvolver-se em vários passos:
1. Começa com uma referência à “passagem do mar” (que, na realidade, é um lago); essa referência pode aludir à passagem do mar Vermelho por Moisés com o Povo libertado do Egito (cf. Ex. 14,15-31). O objetivo final de Jesus é, portanto, fazer o Povo que o acompanha passar da terra da escravidão para a terra da liberdade.
2. Como aconteceu com Moisés, com Jesus vai uma grande multidão. A multidão que acompanha Jesus pretende “ver os milagres que Ele realizava nos doentes” (v. 2). O termo grego aqui utilizado (“asthenês” – “enfermos”) designa, em geral, alguém que está numa situação de grande debilidade. A multidão segue Jesus, pois quer ver os sinais que Ele faz e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Já perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão.
3. Jesus – diz o nosso texto – subiu a “um monte” (v. 3). A referência ao “monte” leva-nos ao contexto da Aliança do Sinai e ao monte onde Deus ofereceu ao Povo, através de Moisés, os mandamentos. Dizer que Jesus subiu ao “monte” significa dizer que é através de Jesus que se vai realizar a nova Aliança entre Deus e esse Povo de gente livre que, com Jesus, “atravessou o mar” em direção à terra da liberdade.
4. A referência à Páscoa que estava próxima (v. 4) seria uma referência inútil, se não estivéssemos no contexto da libertação do Povo da escravidão. Na época de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava esse tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Nesta altura, o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; em contrapartida, a multidão segue Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… O Povo começa a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.
5. A multidão que segue Jesus tem fome e não tem que comer (vs. 5-6). A referência leva-nos, outra vez, ao Êxodo, ao deserto, quando o Povo que caminhava para a terra da liberdade sentiu fome. Então, foi Deus que respondeu à necessidade do Povo e lhe deu comida em abundância; aqui, é Jesus que Se apercebe das necessidades da multidão e tenta remediá-las. Ele mostra, assim, o rosto do Deus do amor e da bondade, sempre atento às necessidades do seu Povo.
6. Qual a solução que Jesus vai dar à “fome” da multidão? Na procura da solução, Jesus envolve a comunidade dos discípulos (“onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?” – v. 5). A comunidade de Jesus (onde naturalmente Jesus Se inclui) tem de sentir-se responsável pela “fome” dos homens e tem de sentir que é sua responsabilidade e missão saciar essa “fome”.
João nota que Jesus põe a questão aos discípulos (representados por Filipe) para os “experimentar” (v. 6). O problema pode ser posto da seguinte forma: como é que a comunidade dos discípulos – formados na escola e nos valores de Jesus – pretende responder à fome do mundo? É recorrendo ao sistema econômico vigente, que se baseia no egoísmo e no poder do dinheiro e coloca os bens nas mãos de poucos, gerando uma lógica de opressão, de dependência e de necessidade? Será este o sistema desse mundo novo e livre que Jesus deseja instituir? Os discípulos de Jesus alinham com esse sistema opressor, baseado na compra, na venda e no lucro, ou já perceberam que Jesus tem uma proposta nova a fazer, geradora de libertação e de vida em abundância para todos?
7. Filipe constata a impossibilidade de resolver o problema, dentro do quadro econômico vigente… “Duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um” (v. 7). Um denário equivalia ao salário base de um dia de trabalho; assim, nem o dinheiro de mais de meio ano de trabalho daria para resolver o problema. Por outras palavras: confiando no sistema instituído (o da compra e venda, que supõe o sistema econômico regido pelo lucro egoísta), é impossível resolver o problema da necessidade dos esfomeados. A comunidade de Jesus é convidada, portanto, a abandonar este sistema e a encontrar outros…
8. André, porém, vislumbra uma solução diferente (v. 8-9). Este apóstolo representa, na comunidade de Jesus, essa categoria dos que aderiram a Jesus de forma convicta, que têm uma grande intimidade com Jesus e que, portanto, estão mais conscientes das propostas de Jesus. No entanto, André não está muito convicto dos resultados (“o que é isso para tanta gente?”). Seria bom – considera André – encontrar outro sistema diferente do sistema explorador; mas isso não resulta… Jesus vai, precisamente, provar que é possível encontrar outro sistema que reparta vida e que elimine a lógica da exploração.
9. A figura do “menino” que apenas aparece na cena da multiplicação dos pães na versão de João é uma figura desnecessária do ponto de vista da narração: para o resultado final, tanto dava que o possuidor dos pães e dos peixes fosse uma criança ou um adulto. Sendo assim, porque é que João insiste em falar de uma criança? Porque a figura do “menino” é muito significativa: quer pela idade, quer pela condição, é um “débil”, física e socialmente. Representa a debilidade da comunidade de Jesus face às enormes carências do mundo. A palavra grega utilizada por João para falar da criança indica simultaneamente um “menino” e um “servo”: a comunidade, representada nesse “menino”, apresenta-se diante do mundo como um grupo socialmente humilde, sem pretensão alguma de poder e de domínio, dedicada ao serviço dos homens. É essa comunidade simples e humilde, vocacionada para o serviço, que é chamada a resolver a questão da necessidade dos pobres e a instaurar um novo sistema libertador. Qual é esse sistema?
10. Os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”), também não aparecem por acaso: a sua soma dá “sete” – o número que significa totalidade… Ou seja: é na partilha da totalidade do que a comunidade possui que se responde à carência dos homens. É uma totalidade fracionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.
11. Sobre os alimentos disponibilizados pela comunidade, Jesus pronuncia uma “ação de graças” (v. 11). O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa desvinculá-los do seu possessor humano, para reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros… “Dar graças” é reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos e que quem os possui é apenas um administrador encarregado de os pôr à disposição de todos os irmãos, com a mesma gratuidade com que os recebeu. Os bens são, assim, libertos da posse exclusiva de alguns, para serem dom de Deus para todos os homens. É este o sistema que Deus quer instaurar no mundo; e a comunidade cristã é chamada a testemunhar esta lógica.
12. Uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… E a comunidade, uma vez percebido o projeto de Jesus, deve usar o que tem para continuar a oferecer a vida aos homens. A referência aos doze cestos recolhidos pelos discípulos pode ser uma alusão a Israel (as doze tribos): se a comunidade dos discípulos souber partilhar aquilo que recebeu de Deus, pode satisfazer a fome de todo o Povo (vs. 12-13).
13. Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei (vs. 14-15). Jesus não aceita… Ele não veio resolver os problemas do mundo instaurando um sistema de autoridade e de poder; mas veio convidar os homens a viverem numa lógica de partilha e de solidariedade, que se faz dom e serviço humilde aos irmãos. É dessa forma que Ele se propõe – com a colaboração dos discípulos – eliminar o sistema opressor, responsável pela fome e pela miséria. O mundo novo que Jesus veio propor não assenta numa lógica de poder e autoridade, mas no serviço simples e humilde que leva a partilhar a vida com os irmãos.
A perícope que nos é hoje proposta pretende, pois, apresentar o projeto de Deus realizado em Jesus como um projeto de libertação, que há-de eliminar a opressão e instaurar um mundo de homens livres, salvos do egoísmo e capazes de amar e de partilhar. Frente ao sistema que se baseia no lucro e na exploração, Jesus propõe uma nova atitude. É necessário – diz Jesus – substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. A comunidade de Jesus tem a função de descobrir esta lógica, de a acolher e de propô-la ao mundo. Ela tem de aprender que os bens são um dom de Deus, destinados a todos. Procedendo dessa forma, ela está a instaurar um novo sistema e a libertar os homens desses condicionamentos egoístas que geram injustiça, necessidade, carência, debilidade, sofrimento. Quem quiser acompanhar Jesus neste caminho, passará seguramente da escravidão do lucro para a liberdade da partilha, do serviço, do amor aos irmãos.
ATUALIZAÇÃO
• Jesus é o Deus que Se revestiu da nossa humanidade e veio ao nosso encontro para nos revelar o seu amor. O seu projeto – projeto que Ele concretizou em cada palavra e em cada gesto enquanto percorreu, com os seus discípulos, as vilas e aldeias da Palestina – consiste em libertar os homens de tudo aquilo que os oprime e lhes rouba a vida. O nosso texto mostra Jesus atento às necessidades da multidão, empenhado em saciar a fome de vida dos homens, preocupado em apontar-lhes o caminho que conduz da escravidão à liberdade. A atitude de Jesus é, para nós, uma expressão clara do amor e da bondade de um Deus sempre atento às necessidades do seu Povo. Garante-nos que, ao longo do caminho da vida, Deus vai ao nosso lado, atento aos nossos dramas e misérias, empenhado em satisfazer as nossas necessidades, preocupado em dar-nos o “pão” que sacia a nossa fome de vida. A nós, compete-nos abrir o coração ao seu amor e acolher as propostas libertadoras que Ele nos faz.
• A “fome” de pão que a multidão sente e que Jesus quer saciar é um símbolo da fome de vida que faz sofrer tantos dos nossos irmãos… Os que têm “fome” são aqueles que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou econômico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade, que a proposta de Jesus se dirige.
• No nosso Evangelho, Jesus dirige-Se aos seus discípulos e diz-lhes: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos de Jesus são convidados a continuar a missão de Jesus e a distribuírem o “pão” que mata a fome de vida, de justiça, de liberdade, de esperança, de felicidade de que os homens sofrem. Depois disto, nenhum discípulo de Jesus pode olhar tranquilamente os seus irmãos com “fome” e dizer que não tem nada com isso… Os discípulos de Jesus são convidados a responsabilizarem-se pela “fome” dos homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero.
• No nosso Evangelho, os discípulos constatam que, recorrendo ao sistema econômico vigente, é impossível responder à “fome” dos necessitados. O sistema capitalista vigente – que, quando muito, distribui a conta gotas migalhas da riqueza para adormecer a revolta dos explorados – será sempre um sistema que se apóia na lógica egoísta do lucro e que só cria mais opressão, mais dependência, mais necessidade. Não chega criar melhores programas de assistência social ou programas de rendimento mínimo garantido, ou outros sistemas que apenas perpetuam a injustiça… Os discípulos de Jesus têm de encontrar outros caminhos e de propor ao mundo que adote outros valores. Quais?
• Jesus propõe algo de realmente novo: propõe uma lógica de partilha. Os discípulos de Jesus são convidados a reconhecer que os bens são um dom de Deus para todos os homens e que pertencem a todos; são convidados a quebrar a lógica do açambarcamento egoísta dos bens e a pôr os dons de Deus ao serviço de todos. Como resultado, não se obtém apenas a saciedade dos que têm fome, mas um novo relacionamento fraterno entre quem dá e quem recebe, feito de reconhecimento e harmonia que enriquece ambos e é o pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os homens. É esta a proposta de Deus; e é disto que os discípulos são chamados a dar testemunho.
• Os discípulos de Jesus não podem, contudo, dirigir-se aos irmãos necessitados olhando-os “do alto”, instalados nos seus esquemas de poder e autoridade, usando a caridade como instrumento de apoio aos seus projetos pessoais, ou exigindo algo em troca… Os discípulos de Jesus devem ser um grupo humilde (a “criança” do Evangelho), sem pretensão alguma de poder e de domínio, e que apenas está preocupado em servir os irmãos com “fome”.
• O que resulta da proposta de Jesus é uma humanidade totalmente livre da escravidão dos bens. Os necessitados tornam-se livres porque têm o necessário para viverem uma vida digna e humana; os que repartem os bens libertam-se da lógica egoísta dos bens e da escravidão do dinheiro e descobrem a liberdade do amor e do serviço.
• No final, os discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras “multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão “com fome”.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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FONTE:


http://homiliadominical2.blogspot.com.br/

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